Portugal tem uma geração de jovens com qualificações acima da média europeia que, no nosso país, encontra condições de vida e salariais muito abaixo dessa média. A saída do país é uma consequência óbvia.”
Há hoje, um pouco por todo o mundo, uma corrida pelo talento. O talento é um bem escasso e, numa economia global, altamente móvel, os países têm desenvolvido políticas públicas para a sua atração.
A Alemanha, por exemplo, acaba de aprovar um pacote legislativo destinado a atrair profissionais qualificados, criando as condições para que possam desenvolver a sua atividade naquele país.
Portugal tem perdido esta corrida. Não apenas tem revelado incapacidade para atrair e fixar talento internacional como, nos últimos anos, tem deixado sair muito do talento nacional que beneficiou do investimento e esforço dedicados à Educação. Com efeito, de acordo com os dados da Pordata, em 2022 saíram de Portugal 31 mil pessoas, maioritariamente jovens, entre os 15 e os 44 anos, altamente qualificados, cerca de metade com o Ensino Superior, e, maioritariamente, tendo como destino outro Estado-membro da União Europeia.
Dito de outro modo, Portugal tem investido na educação dos seus jovens para estes irem dedicar o seu talento aos nossos parceiros europeus. Nesta equação não se pode censurar nem os jovens, nem os nossos parceiros: cada um está a fazer o que, racionalmente, lhe compete. Cabe ao Estado desenvolver políticas públicas que invertam esta realidade.
Olhando para o retrato dos jovens portugueses traçado pela Pordata, 9 em cada 10 jovens têm, no mínimo, o Ensino Secundário, quando a média europeia é de 84%. Todavia, se olharmos para as condições de vida, Portugal encontra-se entre os países europeus em que os jovens saem mais tarde de casa dos pais, e entre os que ganham salários mais baixos.
O resultado é simples: Portugal tem uma geração de jovens com qualificações acima da média europeia que, no nosso país, encontra condições de vida e salariais muito abaixo dessa média. A saída do país é uma consequência óbvia.
Olhando para políticas que outros seguiram em matéria de atração de talento, surgem quatro áreas fundamentais:
Fiscalidade, reduzindo os impostos sobre o rendimento e a habitação, sobretudo dos mais jovens;
Habitação, assegurando a possibilidade de aquisição de habitação própria, atuando também por via fiscal, ou incentivando o mercado de arrendamento;
Desburocratização e simplificação administrativa, criando condições para que quem queira vir viver e trabalhar o possa fazer sem enfrentar um calvário burocrático e processual;
Promoção internacional do país enquanto destino de trabalho, mantendo ligações com o talento e estabelecendo contactos com as empresas nacionais.
Portugal investiu, com sucesso, em programas para a atração do investimento estrangeiro e na promoção do país como um destino turístico.
Contudo, não tem feito a mesma aposta e promoção do país enquanto destino para se viver e trabalhar. Numa altura em que o país tanto precisa de pessoas, em particular de atrair e reter o talento em cuja formação tanto investiu, torna-se indispensável apostar numa política consistente dirigida à atração desse talento.