Diário de Notícias

Portugal tem uma geração de jovens com qualificaç­ões acima da média europeia que, no nosso país, encontra condições de vida e salariais muito abaixo dessa média. A saída do país é uma consequênc­ia óbvia.”

- Presidente do conselho de administra­ção da Fundação Francisco Manuel dos Santos

Há hoje, um pouco por todo o mundo, uma corrida pelo talento. O talento é um bem escasso e, numa economia global, altamente móvel, os países têm desenvolvi­do políticas públicas para a sua atração.

A Alemanha, por exemplo, acaba de aprovar um pacote legislativ­o destinado a atrair profission­ais qualificad­os, criando as condições para que possam desenvolve­r a sua atividade naquele país.

Portugal tem perdido esta corrida. Não apenas tem revelado incapacida­de para atrair e fixar talento internacio­nal como, nos últimos anos, tem deixado sair muito do talento nacional que beneficiou do investimen­to e esforço dedicados à Educação. Com efeito, de acordo com os dados da Pordata, em 2022 saíram de Portugal 31 mil pessoas, maioritari­amente jovens, entre os 15 e os 44 anos, altamente qualificad­os, cerca de metade com o Ensino Superior, e, maioritari­amente, tendo como destino outro Estado-membro da União Europeia.

Dito de outro modo, Portugal tem investido na educação dos seus jovens para estes irem dedicar o seu talento aos nossos parceiros europeus. Nesta equação não se pode censurar nem os jovens, nem os nossos parceiros: cada um está a fazer o que, racionalme­nte, lhe compete. Cabe ao Estado desenvolve­r políticas públicas que invertam esta realidade.

Olhando para o retrato dos jovens portuguese­s traçado pela Pordata, 9 em cada 10 jovens têm, no mínimo, o Ensino Secundário, quando a média europeia é de 84%. Todavia, se olharmos para as condições de vida, Portugal encontra-se entre os países europeus em que os jovens saem mais tarde de casa dos pais, e entre os que ganham salários mais baixos.

O resultado é simples: Portugal tem uma geração de jovens com qualificaç­ões acima da média europeia que, no nosso país, encontra condições de vida e salariais muito abaixo dessa média. A saída do país é uma consequênc­ia óbvia.

Olhando para políticas que outros seguiram em matéria de atração de talento, surgem quatro áreas fundamenta­is:

Fiscalidad­e, reduzindo os impostos sobre o rendimento e a habitação, sobretudo dos mais jovens;

Habitação, assegurand­o a possibilid­ade de aquisição de habitação própria, atuando também por via fiscal, ou incentivan­do o mercado de arrendamen­to;

Desburocra­tização e simplifica­ção administra­tiva, criando condições para que quem queira vir viver e trabalhar o possa fazer sem enfrentar um calvário burocrátic­o e processual;

Promoção internacio­nal do país enquanto destino de trabalho, mantendo ligações com o talento e estabelece­ndo contactos com as empresas nacionais.

Portugal investiu, com sucesso, em programas para a atração do investimen­to estrangeir­o e na promoção do país como um destino turístico.

Contudo, não tem feito a mesma aposta e promoção do país enquanto destino para se viver e trabalhar. Numa altura em que o país tanto precisa de pessoas, em particular de atrair e reter o talento em cuja formação tanto investiu, torna-se indispensá­vel apostar numa política consistent­e dirigida à atração desse talento.

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