E Depois do Adeus ganha Festival da Canção
A8 de março de 1974 o DN chama à primeira página um acontecimento extraordinário que acende paixões em Portugal inteiro através dos ecrãs da RTP – mais ilhas adjacentes, Ultramar, Brasil e “núcleos portugueses espalhados pelo mundo” através das ondas da Emissora Nacional, por sua vez retransmitidas por dezenas de rádios, incluindo a Emissora Oficial de Timor.
É o Festival da Canção, à época Grande Prémio TV da Canção. A partir do Teatro Maria Matos, em Lisboa, com apresentação das estrelas Glória de Matos e Artur Agostinho, a 11.ª edição merece crónica assinada por Vasco Félix, entrevistas de Aníbal Mendonça e fotografias de Raul do Nascimento.
Manchete com continuação na página 9: “Os votos dos júris distritais eram os bastantes para a vitória da romântica E Depois do Adeus”. Letra de José Nisa, música de José Calvário, fulgurante interpretação de Paulo de Carvalho.
Mas sai áspero o texto a Vasco Félix: “Em termos de qualidade, este festival foi inferior ao do ano passado.” É convidada de honra a artista brasileira Alcione, identificada no texto como Alolone: “Atuação sem história, vulgar, que nos faz sentir saudades de um Gilbert Bécaud, mesmo rouco”.
A crónica dá conta de divergências na votação entre “grande parte do público”, que teria preferido outras canções, e o júri de seleção mais os júris das capitais de distrito, que em massa consagraram E Depois do Adeus. Concorriam Duo Ouro Negro, Verónica, José Cid, Green Windows, Paulo de Carvalho, Artur Garcia, Fernanda Farri, Helena Isabel, Xico Jorge.
José Cid entra com uma canção em nome próprio e duas para os Green Windows. Escapa-lhe a vitória e acusa: “O espetáculo a que assistimos estava feito.” O DN descreve-o como “grande vencido”.
Seja como for, está escolhida a canção que representará Portugal no Festival da Eurovisão, em Brighton, Reino Unido — de onde sairá em penúltimo lugar. Os suecos Abba vão inscrever Waterloo na eternidade.
Neste 8 de março ninguém sonha que faltam sete semanas para a Revolução e que o tema de Paulo de Carvalho vai ser uma das senhas para o golpe de Estado, transmitida pelos Emissores Associados de Lisboa às 22h55 de 24 de abril.