Diário de Notícias

Levantado em ombros, Luís Montenegro sentiu no Porto “uma onda de mudança”

AD e PS mediram forças na Rua de Santa Catarina, num sprint final que deixa Luís Montenegro e a coligação de direita entusiasma­dos. “Ainda não ganhámos, mas não há ninguém que não entenda que podemos ganhar.”

- TEXTO RUI FRIAS FOTOS LEONEL DE CASTRO / GLOBAL IMAGENS

No Porto, concelho onde só 530 votos separaram PS e PSD nas legislativ­as de há dois anos, a luta pelos últimos indecisos fez-se quase lado a lado, metro a metro, pingo de chuva a pingo de chuva, num penúltimo dia de campanha molhado a norte. Com o fogo de artifício da comitiva socialista ainda a ver-se ao fundo, o cordão humano da AD apanhou Luís Montenegro a meio da Rua de Santa Catarina para a tradiciona­l arruada na Baixa portuense, que culminou com um comício na Praça D. João I, onde o líder da AD tinha à sua espera aquele que terá sido um dos seus principais apoios nesta campanha, o autarca local Rui Moreira, e não escondeu o entusiasmo pela mobilizaçã­o sentida no coração do Porto (e talvez pela sondagem favorável do dia): “Ainda não ganhámos as eleições. Mas não há ninguém em Portugal que não entenda que as podemos ganhar.”

Num comício que teve Manuel Luís Goucha como uma das figuras mais aplaudidas, com a AD a repassar o vídeo do apoio declarado pelo apresentad­or entre as intervençõ­es de Nuno Melo e de Luís Montenegro, o líder da AD reforçou as ideias-chave dos últimos dias de campanha, enfatizand­o sobretudo a sensação de uma “onda de mudança que vai manifestar-se no próximo domingo”. De resto, gritou-se mesmo “vitória, vitória” e o presidente do PSD terminou a intervençã­o convencido de que vai “tranquiliz­ar” em breve os que lhe apontam falta de experiênci­a governativ­a: “Se há assunto que vai resolver-se com o tempo é a minha experiênci­a governativ­a.”

Entre os apoiantes, as conversas paralelas evocavam aqui e ali o nome do Chega e faziam contas a uma possível necessidad­e de entendimen­to com André Ventura para uma solução de governação. “Não é não, ele [Montenegro] já disse”, argumentav­a uma jovem social-democrata, a tentar desarmar um apoiante mais velho, ao lado, para quem “não há problema em aceitar negociar com o homem [referindo-se a Ventura]”. Na descida de Santa Catarina, enquanto Montenegro era levantado em ombros, Joaquim Merino mostrava-se “impression­ado” com a mobilizaçã­o da AD. Médico reformado e “um dos fundadores do PPD/PSD em 1974”, este social-democrata que um dia viajou “de propósito do Algarve para o Porto para votar em Cavaco Silva” revela-se rendido a Luís Montenegro e à campanha efetuada pelo líder PSD. “Não é nenhum Sá Carneiro, mas é a melhor opção que podíamos ter nesta altura.”

Antes, ao longo de um dia dedicado ao Grande Porto, Montenegro já tinha revisto a matéria dada nos últimos dias de campanha, cumprindo a sua check list de temas obrigatóri­os para as diversas faixas de eleitorado, das mulheres aos pensionist­as. Em Gondomar, ao almoço, perante um conjunto de 350 empresário­s, o candidato da AD disse acreditar que o país é capaz de voltar a crescer a “3, 4 e a 5%”, como “já demonstrou” noutros governos sociais-democratas. E ironizou com o que disse ser uma das coisas mais intrigante­s da campanha – “ter sido acusado de querer baixar impostos” –, reiterando a proposta de baixar o IRS até ao oitavo escalão.

Mas a jornada começara ao final da manhã em Vila Nova de Gaia, na tradiciona­l comunidade piscatória da Afurada, cujos barcos dos pescadores são hoje ofuscados pelos iates e veleiros que atracam na marina construída ali ao lado, perante as luxuosas construçõe­s de apartament­os que se sucedem na primeira linha de rio. Ali, o candidato da AD contou com o mais óbvio dos trunfos sociais-democratas: Luís Filipe Menezes, o homem que conseguiu quatro maiorias absolutas na autarquia de Gaia, que liderou entre 1998 e 2013.

Num concelho que é o mais populoso do distrito do Porto (e o terdo ceiro do país), o PSD perdeu há dois anos para o PS por cerca de 23 mil votos. Mas Gaia é uma espécie de swing state à portuguesa, um concelho que nas últimas nove eleições legislativ­as votou oito vezes no partido vencedor. Recebido com beijos e abraços, o antigo autarca fez questão de puxar dos galões, lembrando a obra feita na Afurada e exaltando a “honradez” de uma terra que, mais do que em ideologia, “vota nas pessoas”, disse, recordando os votos da freguesia “em Sá Carneiro e em Mário Soares”, que “na altura também não tinham experiênci­a governativ­a”. Tal como o atual líder do PSD, em contrapont­o com um “Pedro Nuno Santos, que tem experiênci­a, sim, mas de governar mal”.

Como não podia deixar de ser, Montenegro prometeu apoiar a pesca, um setor que contribui “para um país que queremos mais produtivo”, defendeu a igualdade de oportunida­des para os jovens filhos dos pescadores, para que possam “ficar cá a ajudar-nos a construir o país”, abraçou a igualdade de género como causa e reafirmou um “compromiss­o com os pensionist­as”: um “rendimento mínimo garantido não inferior a 820 euros para cada reformado” no espaço de uma legislatur­a (quatro anos).

Hoje, a campanha da AD encerra em Lisboa, com as presenças anunciadas de Cavaco Silva e Manuela Ferreira Leite num “megacomíci­o” final no Campo Pequeno.

Em dia passado no Grande Porto, Montenegro cumpriu a sua check list de temas obrigatóri­os para as diversas faixas de eleitorado, das mulheres aos pensionist­as.

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Luís Montenegro levantado em ombros na Rua de Santa Catarina, na Baixa do Porto.
 ?? ?? Na Afurada, Luís Filipe Menezes surgiu ao lado do líder da AD.
Na Afurada, Luís Filipe Menezes surgiu ao lado do líder da AD.
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