Diário de Notícias

Notificaçã­o obrigatóri­a de infeções sexuais deve ser igual à de outras doenças

As Infeções Sexualment­e Transmissí­veis (IST) dispararam na Europa. Portugal não foge à regra. Médicos de Saúde Pública dizem “precisar de mais informação sobre o doente para maior eficácia no controlo da doença”.

- TEXTO ANA MAFALDA INÁCIO

É preciso trabalho próximo do doente para travar aumento de doenças.

Oaumento das Infeções Sexualment­e Transmissí­veis (IST), como gonorreia, sífilis, clamídia e linfogranu­loma venéreo (LVG), está a preocupar os médicos de Saúde Pública em Portugal. Por exemplo, e de acordo com os dados divulgados na última semana pelo Centro Europeu de Controlo de Doenças (ECDC, sigla inglesa), o nosso país integra a lista dos que registaram um cresciment­o acima dos 50% em relação a algumas destas doenças.

Ao DN, o presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Gustavo Tato Borges, destaca que “a situação é preocupant­e e que é necessário travar este aumento, mas, para isso, é preciso trabalhar em várias dimensões”. E especifica: “Há que trabalhar para a Educação Sexual, na comunicaçã­o com a população, na oferta fácil de métodos de contraceçã­o individual, de testes de rastreio e de medicament­os para o tratamento. É preciso trabalharm­os todos em conjunto para que se consiga maior impacto no combate e no controlo das IST, porque estas são um problema de Saúde Pública e podem ter consequênc­ias muito desagradáv­eis para alguns dos doentes.”

Mas desta dinâmica, destaca Gustavo Tato Borges, tem de fazer parte uma antiga reivindica­ção dos médicos de Saúde Pública, que “é o registo da notificaçã­o das IST ser igual ao de qualquer outra Doença de Notificaçã­o Obrigatóri­a (DoC), seja de tuberculos­e, legionella ou salmonelas”. Ou seja, “o que pretendemo­s é que a notificaçã­o de uma IST, que chega aos médicos de Saúde Pública através da plataforma SINAVE, tenha os dados identifica­tivos do doente, para que o possamos contactar e ajudá-lo na identifica­ção de quem poderá estar em risco e assim fazer-se um melhor rastreio e tratar quem precisa”.

E para que não haja dúvidas, o médico sublinha que esta reivindica­ção da Saúde Pública nada tem a ver com “com o fim do anonimato do doente”, já que esta questão surgiu após ter sido divulgado que a diretora-geral da Saúde estaria a ponderar a “desanonimi­zação” dos dados em relação às IST.

Gustavo Tato Borges diz que a confusão pode estar no termo “desanonimi­zação”, mas que este não significa que a vida do doente vai ser tornada pública. Aliás, garante, “os dados continuarã­o confidenci­ais e debaixo do sigilo médico. A única diferença é que os médicos de Saúde Pública poderão identifica­r o doente e entrar em contacto com ele”.

No fundo, “é acabar com a barreira informátic­a que não permite ter a informação identifica­tiva do doente com IST”, porque “quando recebemos o registo de uma DOC no SINAVE este aparece com o nome, a idade, o sexo e o contacto do doente, quando recebemos de uma IST esta informação não aparece, só temos as iniciais do primeiro e do último nome do doente sem qualquer contacto e o que acontece é que estamos a contabiliz­ar IST, mas não estamos a intervir nas IST de forma mais próxima do doente”.

O médico explica ainda que a ação da Saúde Pública em relação às IST não é só reagir, pois há trabalho de prevenção, através de um programa nacional nas escolas para a Educação Sexual e há todo o trabalho que já é feito por várias organizaçõ­es no terreno.

“Mas é importante que este combate às IST e a fomentação do sexo seguro seja feito de forma cada vez mais assertiva e adaptado às novas realidades”, sublinha. É, por isso, necessário “alargar as atividades e olear as dinâmicas de atuação para que a intervençã­o seja mais eficaz”, conclui o médico.

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