Diário de Notícias

Estou a dizer que as classes trabalhado­ras não votaram no Chega? Claro que não, todos os partidos receberam e recebem votos das classes trabalhado­ras, mesmo aqueles que, na prática, não defendem os seus interesses.”

- Jornalista

nessas condições que declararam ir votar no Chega, num aparente suicídio financeiro através da urna eleitoral.

Dada esta maluquice, admito, por isso, que haja outras maluquices semelhante­s e que alguns votantes tradiciona­is do PCP tenham votado no Chega ou que outros desiludido­s com os comunistas num passado mais longínquo o façam agora –, mas transforma­r isso numa realidade sociológic­a estatistic­amente relevante e consistent­e é, no mínimo, imprudente: basta ver a implantaçã­o no terreno do eleitorado do Chega para perceber que estamos a falar de uma composição geográfica (e, por isso, social) muito diferente da do PCP.

Estou a dizer que as classes trabalhado­ras não votaram no Chega? Claro que não, todos os partidos receberam e recebem votos das classes trabalhado­ras, mesmo aqueles que, na prática, não defendem os seus interesses.

O que acontece é que estas pessoas que procuram uma equivalênc­ia entre Chega e PCP, tão aparenteme­nte indignadas com o ascenso da extrema-direita, acabam sempre por dirigir o tiro político para o mesmo inimigo de sempre, o seu verdadeiro adversário, aquele que, mesmo na mó de baixo, enfarinha as suas irreprimív­eis emoções: os comunistas portuguese­s que, irritantem­ente, apesar de todas as crises, apesar dos seus erros, apesar das suas sucessivas quebras eleitorais e apesar de todas as declaraçõe­s antecipada­s de morte, ainda valem em Portugal mais de 200 mil votos e elegem 4 deputados, muito acima da extinção parlamenta­r que as sondagens, durante quase toda a campanha eleitoral, vaticinara­m...

Ó verdadeiro­s, únicos e genuínos democratas: têm de trabalhar mais, porque ainda não foi desta que mataram o PCP.

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