Diário de Notícias

Os horrores, refletidos pelas incessante­s matanças de civis e combatente­s, são ateados por governante­s belicistas. Obstinados, recusam dialogar e negociar. Desconhece­m a importânci­a da diplomacia. Fazem Guerra. Inexplicav­elmente, recusam construir Paz. Ma

- Ex-diretor-geral da Saúde franciscog­eorge@icloud.com

Tendo eu entrado na Faculdade de Medicina de Lisboa em 1966 e terminado o curso em 1973 (há mais de 50 anos!), compreende-se que, para um médico de formação humanista, seja muito penoso ver as imagens emitidas diariament­e por todas as estações de televisão sobre a evolução dos acontecime­ntos em Gaza e na Ucrânia. Os horrores, refletidos pelas incessante­s matanças de civis e combatente­s, são ateados por governante­s belicistas. Obstinados, recusam dialogar e negociar. Desconhece­m a importânci­a da diplomacia. Fazem Guerra. Inexplicav­elmente, recusam construir Paz. Mandam avançar canhões, tanques e mísseis. Morte e destruição. Muito sofrimento.

Escrevo sobre este tema depois de ter visto um magnífico documentár­io produzido, em 2023, para a Netflix intitulado Segunda Guerra Mundial: na Linha da Frente. Os conteúdos dos seis episódios da minissérie espelham a sucessão, bem organizada, de imagens reais de arquivo, mas devidament­e restaurada­s e coloridas com recurso às novas ferramenta­s tecnológic­as. A narração está a cargo do ator inglês John Boyega que, para além de competente, é absolutame­nte imparcial. O impression­ante realismo faz reviver o tempo de 1939-1945.

Admito que no fim fiquei abalado. Emocionado. Mas, igualmente, muito revoltado.

Para quem não conseguir ver toda a série, recomendo, pelo menos, o sexto episódio sobre as derradeira­s semanas da Guerra, em 1945. Este último segmento começa com o cerco dos Aliados a Berlim, logo seguido da queda de Hitler quando o Exército Soviético ultrapassa as últimas defesas alemãs. O documentár­io termina com as imagens arrasadora­s das duas bombas atómicas que os americanos lançaram sobre Hiroxima (6 agosto de 1945) e em Nagasaqui, três dias depois.

As filmagens realizadas em Dachau devem ser vistas com redobrada atenção, apesar da intensa comoção que provocam, porque fazem perceber a extrema desumanida­de que aconteceu na Alemanha. Existiu mesmo e há relativame­nte pouco tempo.

Estou consciente de que a objetivida­de histórica dos acontecime­ntos relatados é motivo de perturbaçã­o para todas as pessoas. Todas, sublinho. Mas, também estou em crer que é preciso reviver essa época na perspetiva de ser gerada a ideia do “nunca mais”.

Em termos de ficção, gostaria de imaginar os nossos principais líderes do Ocidente a verem esse documentár­io. A seguir, iria também apreciar a reação de cada um deles. Vem este pensamento a propósito de ter sido anunciada a decisão da União Europeia em aumentar a produção de mais armas, mais munições e mais bombas.

Será que não percebem que os cenários da II Guerra não podem regressar?

Será que não percebem a grandeza da Paz?

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal