Juan Carlos Fresnadillo “É incrível como Portugal pode ser cenário de um conto de fadas”
Já é um sucesso na Netflix, A Donzela, conto de fadas com um dragão-fêmea e Millie Bobby Brown. Realizado por Juan Carlos Fresnadillo, cineasta espanhol adotado por Hollywood, foi filmado parcialmente em Portugal. Segundo ele, os nossos castelos e luz sol
ANetflix ainda acredita em contos de fadas. A suposição bate certo com o orçamento generoso de que este conto de dragões chamado A Donzela, de Juan Carlos Fresnadillo, dispôs. O filme, que está já disponível e à frente do top na plataforma, é a uma aventura de fantasia sobre uma princesa que não precisa de ser salva e que se torna num Rambo feminino na masmorra. Damsel quer ser mesmo um reclame ao poder feminino, uma fábula de empoderamento de raparigas, supostamente para inspirar, não tendo sido ao acaso que tenha estreado mundialmente no Dia da Mulher.
A princesa em questão é uma rapariga filha de um lorde falido que negoceia a sua mão com o filho de uma rainha de um reino supostamente idílico. Quando o casamento real parece estar a ser de sonho, a princesa percebe que terá de ser sacrificada para o dragão que protege o reino. Só que esta princesa tem raça e não se deixa ficar: enfrenta sozinha, numa masmorra húmida e fria, o dragão, neste caso, um dragão-fêmea. Mais uma vez, Millie Bobby Brown num exemplo de girl power após os filmes Enola Holmes, também para a Netflix.
Quando em Alfama encontramos o realizador espanhol que foi o escolhido pela Netflix para ser o timoneiro deste filme, percebemos que esta aventura lhe roubou cinco anos de vida. E percebemos também que está feliz da vida com a empreitada e explica como decidiu escolher Portugal para ser palco dos décors principais, entre Côa, Batalha e Tomar.
“Estava de férias em Lisboa e a trocar mensagens com o diretor de Arte para tentar escolher onde podíamos filmar o reino fantasioso. E foi quando visitei a Torre de Belém que me toquei: o estilo Manuelino era perfeito para a estética pretendida. Aquelas formas sinuosas e exuberantes encantaram-me! Mais tarde, descobrimos os templos e igrejas Manuelinas em Portugal e foi aí que escolhemos. Ficámos apaixonados com o que descobrimos. Claro que o que vemos no filme, sobretudo no Douro, mete muitos efeitos visuais. Descobrimos lugares tão lindos... O problema é que apanhámos aí muito calor! Um calor infernal! Sofremos tanto nessas quatro semanas em junho! Mas compensou, as imagens são belíssimas”.
Damsel – A Donzela, depois de Velocidade Furiosa X, de Louis Leterrier, e Heart of Stone, de Tom Harper, é mais uma das superproduções americanas a apostar recentemente em Portugal para rodar. E outra a tirar partido dos benefícios fiscais, o tão procurado cash rebate. Por coincidência, o espanhol Juan Carlos Fresnadillo está a viver em Lisboa por motivos românticos, precisamente ele, que quer continuar a filmar mais aventuras desta personagem de Millie Bobby Brown.
Meio a brincar, diz que pode ter problemas com os seus conterrâneos por não ter escolhido o seu país e os seus castelos para este ser transformado no Reino de Áurea. “Foi mesmo uma delícia termos feito cá o filme – amei os vossos mosteiros e templos! Adorei a luz de Portugal, parecia cristalina e que gama cromática! E na cena quando a personagem de Robin Wright aparece são mesmo os claustros do Mosteiro da Batalha, sem efeitos. Mas parece mesmo um reino de fantasia, sem tocarmos nada. Ah! A entrada do castelo é o convento de Tomar. É incrível como Portugal pode ser cenário de um conto de fadas. Este país é muito atraente para filmar, nomeadamente pelas suas paisagens e monumentos. E senti-me muito bem a trabalhar com a equipa portuguesa. Quero repetir a experiência.”
Se Damsel – A Donzela é um veículo para Millie Bobby Brown, o realizador de 28 Anos Depois, só tem as habituais palavras de referência para a sua estrela, que, nem de propósito, tem créditos de produtora: “Ela teve sempre muito respeito por todo o processo de realização. Não senti que ela fosse a chefe, houve muita colaboração. Quis e adorei que ela tivesse um espaço de criação no seu trabalho. Quis dar-lhe todo o espaço necessário.”
Voltando ao seu futuro próximo, Juan Carlos vai desfrutando de Lisboa e, mesmo sem saber se volta às labaredas deste dragão, tem já um desejo: “Tanto me atrai fazer estes filmes ambiciosos e de grande orçamento como também apostar em projetos mais íntimos e pessoais. Gostaria de intervalar esse tipo de obras. Neste momento, estou a pensar em colocar de pé um filme sem ser tão grande como Damsel, talvez em Espanha, ainda não sei”.
Por agora, a prioridade é aproveitar a cidade que o acolhe, Lisboa: “Trata-se de uma cidade que me fascina! Viajo muito e tenho a sensação de que todas as cidades já se parecem muito umas com as outras – esse é um dos efeitos negativos da globalização. Perde-se humanidade, singularidade. Mas creio que Lisboa é uma das cidades que consegue preservar algo autónomo e único. É uma cidade única e amável, com qualquer coisa que emana proximidade. Estou feliz a viver aqui e, ao mesmo tempo, preparo próximos projetos.”
“Foi mesmo uma delícia termos feito cá o filme – amei os vossos mosteiros e templos! Adorei a luz de Portugal, parecia cristalina e que gama cromática!“Juan Carlos Fresnadillo Realizador