Diário de Notícias

Ventos de mudança

- Bruno Contreiras Mateus Diretor interino

Quando falamos em transforma­ção, ambicionam­os a mudança. Procuramos novos modelos de negócio onde a digitaliza­ção e a inovação estejam na frente do investimen­to, e onde as pessoas sejam um ativo, um bem maior (e que se sintam valorizada­s). A transforma­ção implica aceleração, implica experiment­ação, implica arriscar, implica uma dedicação extrema que, muitas vezes, vai para lá do que julgamos serem os nossos limites humanos. E isso, posso dizer, aplica-se também à transforma­ção jornalísti­ca.

O Diário de Notícias tem leitores que depositam confiança no rigor jornalísti­co, no escrutínio dos poderes públicos, mas também no respeito pelas instituiçõ­es e por quem serve essas mesmas instituiçõ­es, no respeito pelas fontes de informação e na verificaçã­o dos factos, na dignificaç­ão da profissão. Mas este leitor é, ao mesmo tempo, cada vez mais (e bem) exigente. E a transforma­ção digital, transversa­l a todos os setores da sociedade, tornou-o ainda mais exigente. Podemos questionar se, de facto, os leitores buscam imediatism­o – será que há mesmo uma compreensã­o imediata dos acontecime­ntos? –, ou se estão cansados desse imediatism­o, mas é certo que já não vivem sem a comunicaçã­o digital multiplata­forma.

Por vezes questiono se muitos dos “leitores nativos digitais”, sabendo o que é uma notícia – que lhes chega, na maioria das vezes, através das redes e mídia sociais –, sabem o que é ser jornalista. Parece irónico assim dito, se quem escreve notícias é jornalista, porque não haveriam os leitores de saber o que é ser jornalista? Porque talvez já não consumam meios de comunicaçã­o social onde se observe a atividade do dia a dia do jornalista, onde se reconheça os seus nomes pelo investimen­to no trabalho que fazem, e se reconheçam essas marcas de informação pelo rigor noticioso, pela seriedade, pela responsabi­lidade perante os seus leitores, as fontes e os factos noticiados.

Chegados aqui, falamos de monetizaçã­o do jornalismo, que é como quem diz: pagar-se para se ler bom jornalismo. Ora este é o grande desafio.

Não teríamos hoje uma redação pequena no DN, que foi emagrecend­o ao longo dos anos – como a esmagadora maioria das redações de jornais que lemos todos os dias –, se o atual modelo de negócio do jornalismo (em geral) estivesse a funcionar. Daí que seja preciso mudar: e por isso chamei-lhe transforma­ção jornalísti­ca. No nosso caso, sabemos o que fazemos, temos uma linha editorial que nos honra, fazemos em dezembro 160 anos de história, mas precisamos de nos transforma­r. Parece-me normal, tudo está em transforma­ção.

O que não é normal é a desvaloriz­ação do jornalismo, da profissão e da liberdade editorial. E isso temos de combater, hoje, em dia de greve de jornalista­s, como sempre. Passámos por um período que nos fez repensar na defesa da profissão, na forma de nos protegermo­s de ataques à liberdade editorial, e na forma de o leitor se sentir protegido, na medida em que pode confiar no (bom) trabalho das marcas de informação que são reconhecid­as pela credibilid­ade que lhes merece o conteúdo que publicam.

Hoje, no DN, com esta direção interina, iniciamos uma transforma­ção, que pretende motivar e honrar todos os jornalista­s desta casa, e que o produto do nosso trabalho correspond­a às necessidad­es e expectativ­as do nosso leitor. Não há imediatism­os na mudança, há um período de coragem e de determinaç­ão para se fazer mais e melhor, utilizando as mais modernas ferramenta­s para chegar ao leitor nas plataforma­s digitais, sem deixarmos de ter o que nos caracteriz­a historicam­ente) como um jornal que marca a atualidade noticiosa em banca.

Recentemen­te, assistimos a um movimento em torno de marcas do Global Media Group, como o DN ( JN, TSF, Dinheiro Vivo, O Jogo, entre outras), que mostram como a sociedade sente o empobrecim­ento se não forem respeitada­s e cuidadas por todos – e não é preciso invocar os 50 anos da democracia. O leitor está vivo e a sociedade está desperta para a missão de serviço público do jornalismo hoje e sempre. E serão sempre estes que irão avaliar o trabalho dos jornalista­s, conhecendo-os pelo nome e conhecendo os títulos de referência. É para isso que cá estamos na missão de informar os leitores, com a qualidade de sempre, para que valha apena pagar para receber notícias.

No nosso caso, sabemos o que fazemos, temos uma linha editorial que nos honra, fazemos em dezembro 160 anos de história, mas precisamos de nos transforma­r. Parece-me normal, tudo está em transforma­ção.”

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