Ventos de mudança
Quando falamos em transformação, ambicionamos a mudança. Procuramos novos modelos de negócio onde a digitalização e a inovação estejam na frente do investimento, e onde as pessoas sejam um ativo, um bem maior (e que se sintam valorizadas). A transformação implica aceleração, implica experimentação, implica arriscar, implica uma dedicação extrema que, muitas vezes, vai para lá do que julgamos serem os nossos limites humanos. E isso, posso dizer, aplica-se também à transformação jornalística.
O Diário de Notícias tem leitores que depositam confiança no rigor jornalístico, no escrutínio dos poderes públicos, mas também no respeito pelas instituições e por quem serve essas mesmas instituições, no respeito pelas fontes de informação e na verificação dos factos, na dignificação da profissão. Mas este leitor é, ao mesmo tempo, cada vez mais (e bem) exigente. E a transformação digital, transversal a todos os setores da sociedade, tornou-o ainda mais exigente. Podemos questionar se, de facto, os leitores buscam imediatismo – será que há mesmo uma compreensão imediata dos acontecimentos? –, ou se estão cansados desse imediatismo, mas é certo que já não vivem sem a comunicação digital multiplataforma.
Por vezes questiono se muitos dos “leitores nativos digitais”, sabendo o que é uma notícia – que lhes chega, na maioria das vezes, através das redes e mídia sociais –, sabem o que é ser jornalista. Parece irónico assim dito, se quem escreve notícias é jornalista, porque não haveriam os leitores de saber o que é ser jornalista? Porque talvez já não consumam meios de comunicação social onde se observe a atividade do dia a dia do jornalista, onde se reconheça os seus nomes pelo investimento no trabalho que fazem, e se reconheçam essas marcas de informação pelo rigor noticioso, pela seriedade, pela responsabilidade perante os seus leitores, as fontes e os factos noticiados.
Chegados aqui, falamos de monetização do jornalismo, que é como quem diz: pagar-se para se ler bom jornalismo. Ora este é o grande desafio.
Não teríamos hoje uma redação pequena no DN, que foi emagrecendo ao longo dos anos – como a esmagadora maioria das redações de jornais que lemos todos os dias –, se o atual modelo de negócio do jornalismo (em geral) estivesse a funcionar. Daí que seja preciso mudar: e por isso chamei-lhe transformação jornalística. No nosso caso, sabemos o que fazemos, temos uma linha editorial que nos honra, fazemos em dezembro 160 anos de história, mas precisamos de nos transformar. Parece-me normal, tudo está em transformação.
O que não é normal é a desvalorização do jornalismo, da profissão e da liberdade editorial. E isso temos de combater, hoje, em dia de greve de jornalistas, como sempre. Passámos por um período que nos fez repensar na defesa da profissão, na forma de nos protegermos de ataques à liberdade editorial, e na forma de o leitor se sentir protegido, na medida em que pode confiar no (bom) trabalho das marcas de informação que são reconhecidas pela credibilidade que lhes merece o conteúdo que publicam.
Hoje, no DN, com esta direção interina, iniciamos uma transformação, que pretende motivar e honrar todos os jornalistas desta casa, e que o produto do nosso trabalho corresponda às necessidades e expectativas do nosso leitor. Não há imediatismos na mudança, há um período de coragem e de determinação para se fazer mais e melhor, utilizando as mais modernas ferramentas para chegar ao leitor nas plataformas digitais, sem deixarmos de ter o que nos caracteriza historicamente) como um jornal que marca a atualidade noticiosa em banca.
Recentemente, assistimos a um movimento em torno de marcas do Global Media Group, como o DN ( JN, TSF, Dinheiro Vivo, O Jogo, entre outras), que mostram como a sociedade sente o empobrecimento se não forem respeitadas e cuidadas por todos – e não é preciso invocar os 50 anos da democracia. O leitor está vivo e a sociedade está desperta para a missão de serviço público do jornalismo hoje e sempre. E serão sempre estes que irão avaliar o trabalho dos jornalistas, conhecendo-os pelo nome e conhecendo os títulos de referência. É para isso que cá estamos na missão de informar os leitores, com a qualidade de sempre, para que valha apena pagar para receber notícias.
No nosso caso, sabemos o que fazemos, temos uma linha editorial que nos honra, fazemos em dezembro 160 anos de história, mas precisamos de nos transformar. Parece-me normal, tudo está em transformação.”