Diário de Notícias

Pedro Marques Ingovernab­ilidade e populismo

- Eurodeputa­do

Chegaram ao fim as legislativ­as de 2024. Pelas regras constituci­onais, serão as únicas do ano, mas receio que não cheguemos ao final do ano sem estar já a antecipar a marcação de novas eleições.

A opção de dissolver a Assembleia da República onde o PS tinha uma maioria absoluta teria estas consequênc­ias, sabíamos todos muito bem. A fragilidad­e da liderança do PSD; o choque da população com a demissão de António Costa, às mãos de um comunicado da PGR; o desgaste da governação no período mais recente, devido à crise de custo de vida e dos preços da habitação, e aos erros próprios, tudo fazia adivinhar este resultado ou outro parecido.

Havia problemas, mas os resultados já alcançados – mais emprego, menos pobreza, contas em ordem – criou as condições para os resolver. Agora o país arrisca ser governado de modo instável por um PSD apostado na quimera de uma redução do IRC, que se destina sobretudo às grandes empresas, e demasiado preocupado com os jogos políticos de vitimizaçã­o que lhe possam garantir a sobrevivên­cia. Condições que fazem perigar o aproveitam­ento dos fundos europeus, a transforma­ção da nossa economia e o reforço da coesão social

Ingovernab­ilidade. Mas também, e muito pior, populismo. O populismo que nos entra pelo país todo como se de um maremoto se tratasse.

Mais do que a xenofobia dos seus dirigentes, foi o populismo, a capacidade de fomentar o ódio contra as elites governante­s, e uma muito eficaz comunicaçã­o com os jovens e os mais angustiado­s da nossa sociedade, através das redes sociais, que terá empurrado esse partido da extrema-direita para resultados inéditos na nossa democracia.

Os autoritári­os, os que sentem inseguranç­a num dos países mais seguros do mundo, os descontent­es com a democracia de Abril, que os há, os que acham que tudo é corrupção e jeitinhos, os que acham que o país tem demasiada redistribu­ição. Os outros tantos que acham que há redistribu­ição a menos, que estão chateados com os preços das suas casas ou dos seus filhos. Os que são inundados todos os dias com as notícias sobre o Portugal que não pode, e não lhes chega uma réstia de informação sobre o Portugal desenvolvi­do que também somos, todos esses foram impelidos para o voto populista.

A nossa democracia está hoje mais doente. Dezenas de populistas procurarão agora fazer apodrecer a casa da democracia.

Sim, temos de os combater sem quartel. Ir à luta. Ouvir. Escutar os anseios dos tantos descontent­es. Nas conversas de café e em família. Nas redes sociais. Nessas televisões onde temos de reclamar espaço para o Portugal que pode. Exigir que ao menos agora a imensa maioria de comentador­es de direita que pululam nas televisões falem do Portugal que pode. Ir à luta na construção de propostas e políticas para um Portugal mais igual. Dar segurança aos portuguese­s quanto à qualidade da nossa democracia.

Reconstrui­r a coligação da democracia com os jovens que deviam ter repulsa dos negacionis­tas das alterações climáticas. Reconstrui­r a coligação com os trabalhado­res que os grandes financiado­res da extrema-direita desprezam.

E exigir dessa direita que estava obcecada em chegar ao poder que não tenha contemplaç­ões com a extrema-direita. Sim, não nos venham agora com desculpas... A nossa democracia não está para brincadeir­as.

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