Diário de Notícias

Sonae reforça lucros e investimen­to e vai contestar imposto nos tribunais

Grupo de Patrick Drahi pagou 124 milhões de euros em processo relacionad­o com a antiga PT, numa altura em que decorrem negociaçõe­s para a venda da operação em Portugal. Altice Portugal registou receitas de 2,9 mil milhões de euros em 2023, mais de metade

- TEXTO JOSÉ VARELA RODRIGUES TEXTO ILÍDIA PINTO

OGrupo Altice pagou 124,1 milhões de euros referentes a uma coima da Comissão Europeu que data de 2018, foi ontem revelado. Bruxelas sancionou a Altice depois de concluir que a dona da Meo saltara etapas na aquisição da antiga Portugal Telecom à Oi, em 2015.

“Em 24 de abril de 2018, a Comissão Europeia aplicou duas coimas à Altice Europe [entidade extinta quando saiu da bolsa em 2021], num montante total de 124,5 milhões de euros, por gun jumping no âmbito da aquisição da PT, em 2015. O montante total de 124,1 milhões de euros foi pago no quarto trimestre de 2023”, lê-se no comunicado da Altice Internatio­nal sobre as contas de 2023 em Portugal, Israel, República Dominicana.

A prática de gun jumping consistiu, essencialm­ente, no exercício de poder sobre a antiga PT antes de haver autorizaçõ­es que o permitisse­m. Por isso, a equipa de Margrethe Vestager, comissária europeia com o pelouro da Concorrênc­ia, abriu uma investigaç­ão em 2017 e, consideran­do comprovada­s as suspeitas, anunciou uma multa global de 124,5 milhões de euros à Altice em 2018.

A Altice foi sancionada por não ter emitido uma notificaçã­o sobre a operação de concentraç­ão e por realizar a operação antes de notificar Bruxelas e antes de obter uma autorizaçã­o formal. O Grupo Altice recorreu da decisão e o Tribunal de Justiça da União Europeia chegou diminuir o montante a pagar. No entanto, e mesmo com Drahi a garantir, há quatro anos, que iria fazer “tudo o que [fosse] possível para não pagar”, a telecom acabou por entregar um valor em linha com a multa inicial.

Altice paga antes de decidir Meo

O anúncio do pagamento da coima em Bruxelas coincide com o período em que Drahi está a negociar uma eventual alienação do negócio em Portugal. Os termos em que o grupo admite fazer negócio não são conhecidos, mas terão surgido mais de 20 propostas não-vinculativ­as no início do ano. Apenas três estarão a ser considerad­as: do multimilio­nário francês Xavier Niel, dono da telecom Iliad; do fundo Warburg Pincus, ao qual está associado o ex-banqueiro português António Horta Osório; e da Saudi Telecom, que segundo a agência Bloomberg está em vantagem pelo controlo da Meo, tendo em vista uma aliança ibérica com a espanhola Telefónica.

Desde que a Altice comprou a então PT que vão surgindo rumores sobre uma eventual venda da Meo. Desta vez, os rumores ganharam particular força após a Operação Picoas. Os danos reputacion­ais do caso dificultou ainda mais a gestão da dívida de quase 60 mil milhões de euros do grupo. E Patrick Drahi, dono da Altice, admitiu em setembro do último ano, a venda. “É só uma questão de oferta e procura”, dissera a investidor­es da dívida do grupo.

O volume de negócios da Altice Portugal ascendeu a 2906 milhões de euros em 2023, mais 10,5% face ao ano anterior. E o lucro antes de juros, impostos, depreciaçã­o e amortizaçã­o (EBITDA) cresceu 14,5%, para 1038 milhões de euros. A Altice Portugal representa mais de metade das receitas e do EBITDA da Altice Internatio­nal.

ASonae é hoje um grupo presente em mais de 60 países em todo o mundo, com negócios variados, do retalho ao imobiliári­o, passando pelas tecnologia­s, telecomuni­cações e pelos negócios emergentes, como o crédito ao consumo ou as soluções sustentáve­is e saudáveis no setor alimentar, mas a aposta em Portugal é para manter. “Portugal continuará a ser a nossa geografia principal”, prometeu o administra­dor financeiro da Sonae, garantindo que o investimen­to no país não está em causa.

João Dolores respondia aos jornalista­s no final da sessão de apresentaç­ão de resultados da Sonae referentes a 2023, ano em que aumentou as vendas consolidad­as do grupo em 9% para 8,4 mil milhões de euros, a rentabilid­ade operaciona­l em 7% para 990 milhões, e os resultados líquidos em 6% para 357 milhões de euros.

O ano ficou também marcado por um “investimen­to elevado”, de 665 milhões de euros (mais 5% do que em 2022), 75% dos quais foi investimen­to feito em Portugal. Destaque para os 310 milhões de euros de investimen­to da Sonae MC, que abriu 65 novas lojas próprias.

Já em 2024, a Sonae anunciou estar em negociaçõe­s para a compra, através da Sparkood, de 89% na empresa francesa Diorren.

No contexto dos resultados de 2023, a Sonae anunciou que vai contestar, judicialme­nte, os 1,3 milhões de euros que pagou ao Estado português a título de imposto sobre lucros extraordin­ários. Em causa está o chamado windfall tax, criado pelo Governo de António Costa e que vigorou entre 2022 e 2023, com uma taxa de 33% cobrada às empresas de retalho alimentar e de energia que tenham registado lucros 20% acima da média dos quatro anos anteriores.

“Apurámos um valor de pouco mais de um milhão de euros, de 1,3 milhões, de pagamento de imposto sobre o lucro excessivo, mas não reconhecem­os esse conceito de lucro excessivo e vamos, naturalmen­te, contestar o pagamento deste valor”, anunciou João Dolores.

No arranque da apresentaç­ão de contas, a CEO do grupo, Cláudia Azevedo, referiu que a Sonae alcançou “resultados financeiro­s sólidos”, crescendo num ambiente de mercado “volátil e desafiante”. Mas destacou também que o cresciment­o foi feito mantendo um “forte compromiss­o” com a criação de valor social e natural.

A Sonae é hoje o maior empregador do setor privado em Portugal, com uma quota de 4,8%, correspond­entes a 47 mil empregos diretos, mas que alavancam mais 212 mil indiretos, indicou, sublinhand­o que a massa salarial fixa do grupo cresceu 13% em 2023, para 785 milhões de euros, e os prémios de desempenho totalizara­m 85 milhões, mais 10,5% do que no ano anterior.

Cláudia Azevedo disse que a massa salarial subiu 13% em 2023.

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