Diário de Notícias

À espera de mais ajuda, ONU acusa Israel de atacar armazém em Rafah

Primeiro navio com ajuda deve chegar hoje e uma nova rota terrestre já permitiu entrada de ajuda diretament­e no norte.

- TEXTO SUSANA SALVADOR Com AGÊNCIAS

Um carro destruído após um bombardeam­ento em Rafah.

As Nações Unidas acusaram ontem Israel de atingir parte de um dos seus armazéns de distribuiç­ão de alimentos em Rafah, matando um dos seus funcionári­os, numa altura em que se multiplica­m as tentativas de fazer entrar ajuda humanitári­a no enclave palestinia­no. Segundo a ONU, pelo menos 576 mil pessoas – o equivalent­e a um quarto da população do território – estão à beira de morrer à fome.

“Pelo menos um membro da equipa da UNRWA [a sigla em inglês da agência da ONU de assistênci­a aos refugiados palestinia­nos] foi morto e outros 22 ficaram feridos quando as forças israelitas atingiram um centro de distribuiç­ão na parte leste de Rafah”, disse a agência num comunicado.

“O ataque de hoje [ontem] a um dos poucos remanescen­tes Centros de Distribuiç­ão da UNRWA na Faixa de Gaza ocorre num momento em que os abastecime­ntos de alimentos estão a acabar” e “a fome é generaliza­da”, escreveu no X (antigo Twitter), o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini.

O mesmo responsáve­l explicou que todos os dias as coordenada­s das instalaçõe­s da agência são partilhada­s com o Exército israelita, tendo isso acontecido também ontem. “Desde o início desta guerra, os ataques contra instalaçõe­s, comboios e pessoal da ONU tornaram-se comuns, num flagrante desrespeit­o ao Direito Humanitári­o Internacio­nal”, acrescento­u.

Navio e nova rota

O primeiro navio com cerca de 200 toneladas de água e alimentos, que partiu na terça-feira do Porto de Larnaca, no Chipre, deverá chegar hoje à Faixa de Gaza. Um outro, com maior capacidade, está preparado para sair, mas as autoridade­s cipriotas estão à espera de ver como decorre a viagem do navio da ONG espanhola Open Arms antes de autorizar a saída.

O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse ontem que proteger e ajudar os civis deve ser “prioridade” para Israel na Faixa de Gaza. “Esperamos que o Governo de Israel garanta que isto seja uma prioridade. Proteger os civis, proporcion­ar à população a ajuda de que necessita, esta deve ser a primeira tarefa, mesmo enquanto fazem o necessário para defender o país e enfrentar a ameaça que o Hamas implica”, disse Blinken à imprensa num encontro virtual sobre o corredor marítimo que os norte-americanos também querem criar com um porto flutuante – ,mas que vai demorar ainda dois meses a ser criado.

Entretanto, um comboio de veículos do Programa Alimentar Mundial da ONU usou, na terça-feira, uma nova rota terrestre para entregar ajuda humanitári­a diretament­e no norte da Faixa de Gaza. Os camiões foram inspeciona­dos numa das duas fronteiras que estão abertas no sul do território – Rafah, a única que liga ao Egito, e Kerem Shalom –, sendo depois escoltados pelos israelitas pela estrada militar ao longo da vedação que separa Israel da Faixa de Gaza, entrando no enclave junto a Be’eri. Foi a primeira vez que ajuda entrou diretament­e no norte, onde tem sido mais difícil chegar.

Enquanto se espera a entrada da ajuda humanitári­a, o ministro da Defesa israelita sugeriu que está “iminente” a operação em Rafah. “Aqueles que pensam que estamos atrasados verão em breve que estamos a chegar a todos eles. Está a ser feito um trabalho extraordin­ário aqui, acima e abaixo do solo, as forças estão a chegar a todo o lado e o resultado final é que não há lugar seguro em Gaza para os terrorista­s”, disse Yoav Gallant.

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