À espera de mais ajuda, ONU acusa Israel de atacar armazém em Rafah
Primeiro navio com ajuda deve chegar hoje e uma nova rota terrestre já permitiu entrada de ajuda diretamente no norte.
Um carro destruído após um bombardeamento em Rafah.
As Nações Unidas acusaram ontem Israel de atingir parte de um dos seus armazéns de distribuição de alimentos em Rafah, matando um dos seus funcionários, numa altura em que se multiplicam as tentativas de fazer entrar ajuda humanitária no enclave palestiniano. Segundo a ONU, pelo menos 576 mil pessoas – o equivalente a um quarto da população do território – estão à beira de morrer à fome.
“Pelo menos um membro da equipa da UNRWA [a sigla em inglês da agência da ONU de assistência aos refugiados palestinianos] foi morto e outros 22 ficaram feridos quando as forças israelitas atingiram um centro de distribuição na parte leste de Rafah”, disse a agência num comunicado.
“O ataque de hoje [ontem] a um dos poucos remanescentes Centros de Distribuição da UNRWA na Faixa de Gaza ocorre num momento em que os abastecimentos de alimentos estão a acabar” e “a fome é generalizada”, escreveu no X (antigo Twitter), o diretor da UNRWA, Philippe Lazzarini.
O mesmo responsável explicou que todos os dias as coordenadas das instalações da agência são partilhadas com o Exército israelita, tendo isso acontecido também ontem. “Desde o início desta guerra, os ataques contra instalações, comboios e pessoal da ONU tornaram-se comuns, num flagrante desrespeito ao Direito Humanitário Internacional”, acrescentou.
Navio e nova rota
O primeiro navio com cerca de 200 toneladas de água e alimentos, que partiu na terça-feira do Porto de Larnaca, no Chipre, deverá chegar hoje à Faixa de Gaza. Um outro, com maior capacidade, está preparado para sair, mas as autoridades cipriotas estão à espera de ver como decorre a viagem do navio da ONG espanhola Open Arms antes de autorizar a saída.
O secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, disse ontem que proteger e ajudar os civis deve ser “prioridade” para Israel na Faixa de Gaza. “Esperamos que o Governo de Israel garanta que isto seja uma prioridade. Proteger os civis, proporcionar à população a ajuda de que necessita, esta deve ser a primeira tarefa, mesmo enquanto fazem o necessário para defender o país e enfrentar a ameaça que o Hamas implica”, disse Blinken à imprensa num encontro virtual sobre o corredor marítimo que os norte-americanos também querem criar com um porto flutuante – ,mas que vai demorar ainda dois meses a ser criado.
Entretanto, um comboio de veículos do Programa Alimentar Mundial da ONU usou, na terça-feira, uma nova rota terrestre para entregar ajuda humanitária diretamente no norte da Faixa de Gaza. Os camiões foram inspecionados numa das duas fronteiras que estão abertas no sul do território – Rafah, a única que liga ao Egito, e Kerem Shalom –, sendo depois escoltados pelos israelitas pela estrada militar ao longo da vedação que separa Israel da Faixa de Gaza, entrando no enclave junto a Be’eri. Foi a primeira vez que ajuda entrou diretamente no norte, onde tem sido mais difícil chegar.
Enquanto se espera a entrada da ajuda humanitária, o ministro da Defesa israelita sugeriu que está “iminente” a operação em Rafah. “Aqueles que pensam que estamos atrasados verão em breve que estamos a chegar a todos eles. Está a ser feito um trabalho extraordinário aqui, acima e abaixo do solo, as forças estão a chegar a todo o lado e o resultado final é que não há lugar seguro em Gaza para os terroristas”, disse Yoav Gallant.