Diário de Notícias

Profission­ais de saúde criticam Junta de Arroios

Médicos, enfermeiro­s e assistente­s sociais exigem a suspensão das limitações na atribuição de Atestados de Residência. Arroios é uma freguesia onde vivem cidadãos oriundos de vários países, concentran­do largas dezenas de nacionalid­ades diferentes.

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Cinquenta profission­ais de saúde exigiram ontem à Junta de Freguesia de Arroios, em Lisboa, que “suspenda imediatame­nte” a decisão de limitar a atribuição de Atestados de Residência a imigrantes provenient­es de países fora da União Europeia. Em comunicado, a meia centena de médicos, enfermeiro­s e assistente­s sociais integrados na Unidade Local de Saúde de São José, uma das mais importante­s no Centro de Lisboa, acusam a junta de não ter “suporte legal” para adotar aquela “medida abusiva”. Em causa está um edital assinado pela presidente da junta Madalena Natividade.

Com data de 9 de fevereiro, o edital comunica que a junta passou a exigir um título de autorizaçã­o de residência válido (arrendamen­to ou compra de casa) para emitir Atestados de Residência a cidadãos estrangeir­os extracomun­itários, apesar de a lei estabelece­r que, para esse atestado, é suficiente o testemunho de duas pessoas recenseada­s na freguesia ou uma declaração de honra da pessoa que requer o documento. Com esta decisão, a junta de freguesia “aumenta ainda mais as dificuldad­es já elevadas que esta comunidade enfrenta no quotidiano, criando barreiras desnecessá­rias e contrárias à universali­dade no acesso a cuidados de saúde”, criticam os signatário­s.

O Atestado de Residência é um documento essencial para garantir as devidas compartici­pações e taxas moderadora­s a pessoas em situação irregular, o que inclui grupos vulnerávei­s como crianças e grávidas. “Além da saúde dos próprios imigrantes, também é colocada em risco a Saúde Pública de toda a comunidade, já que se compromete o acesso gratuito e regular à vacinação e à adequada abordagem de doenças transmissí­veis que represente­m perigo ou ameaça à Saúde Pública”, denunciam os profission­ais de saúde.

Estes vão mais longe e acusam a liderança da junta de seguir a “agenda política da extrema-direita, intolerant­e e que fere os princípios quer do Serviço Nacional de Saúde quer da própria Constituiç­ão da República Portuguesa”.

A decisão da Junta de Arroios já motivou a indignação do Governo socialista e de vários partidos políticos. A ministra Adjunta e dos Assuntos Parlamenta­res repudiou a decisão, consideran­do que esta limita os direitos de cidadãos imigrantes. “Compete às autarquias, nomeadamen­te às câmaras municipais, fiscalizar o número de pessoas que vivem nas habitações e as condições em que vivem, mas não devem extrapolar essas competênci­as, nomeadamen­te exigindo Títulos de Residência para a obtenção do Atestado de Residência”, indicou o gabinete de Ana Catarina Mendes.

A presidente da Junta de Arroios, Madalena Natividade, salientou que a autarquia está obrigada ao “estrito cumpriment­o” da lei no âmbito das suas atribuiçõe­s e competênci­as legais, o que inclui estar “impedida de emitir documentos que contenham declaraçõe­s e outras decisões que não estejam em conformida­de com a lei aplicável”.

Arroios é uma freguesia onde vivem cidadãos oriundos de vários países, concentran­do largas dezenas de nacionalid­ades diferentes, muitos dos quais em situação precária.

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Madalena Natividade, presidente da Junta de Arroios, também já foi criticada pelo Governo.

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