Diário de Notícias

“Temos de enviar sinal à Rússia e a futuros ditadores de que não se deve ocupar outros países”

- Kusti Salm ENTREVISTA JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, BRUXELAS

Eurobonds para a Defesa e verbas nacionais: a Estónia diz ter plano “para Ucrânia vencer a guerra”, frisou ao DN o secretário de Estado da Defesa. Kusti Salm defende que uma parcela dos Orçamentos Nacionais seja dedicada, exclusivam­ente, à ajuda militar à Ucrânia.

Osecretári­o de Estado da Defesa da Estónia, Kusti Salm quer que Bruxelas avance definitiva­mente para emissão de Eurobonds para a Defesa – a emissão de dívida conjunta, na União Europeia – para financiar a indústria de Defesa e ajudar a Ucrânia a vencer a guerra. Entrevista­do em Bruxelas, pelo DN, Kusti Salm defende que uma parcela dos Orçamentos Nacionais seja dedicada, exclusivam­ente, à ajuda militar à Ucrânia.

Afirma que os Estados-membros devem dedicar 0,25% do PIB anual, em exclusivo, à defesa da Ucrânia. O seu plano prevê também a emissão de dívida conjunta em Defesa. O que se pretende com essa abordagem? O plano da Estónia é, em primeiro lugar, para que a Ucrânia ganhe a guerra. O que está em jogo não é apenas o sucesso militar ucraniano, mas também os valores que todos defendemos aqui na Europa. Temos de enviar um sinal, não só à Rússia, mas a todos os futuros assassinos e ditadores, de que não se deve ocupar outros países. Não toleramos que haja receio de interferên­cias na Europa. O que nos deve guiar é o direito à autodeterm­inação dos povos e das nações. Isto é algo que é a pedra angular de todas as nações, incluindo Portugal. É isso que vai desencadea­r todo o bem-estar dos povos e das nações. E é isso que está em causa na Ucrânia. Só precisamos de escolher o lado certo.

Isso não vai colocar ainda mais pressão sobre os Orçamentos Nacionais?

Estamos numa posição muito afortunada. A Ucrânia, com 40 milhões de cidadãos, tem condições para travar a guerra com a própria população. O que nos pedem é também pelos nossos valores. Pedem munições, armas, apoio militar e também apoio civil. É um preço bastante baixo que nos pedem. Mas, isto requer dinheiro. Não é com likes no Facebook que se compram armas. É preciso dinheiro. Em última análise, é nosso dever fornecer esse dinheiro. Não é o valor que está em causa, é também uma matriz de risco. Se a Rússia ganhasse [esta guerra], sairia com a noção de que as suas ações assassinas deram frutos. Os problemas agravar-se-iam depois. E, se olharmos para os custos que as guerras impuseram às nações ao longo da História, então, não estamos a falar apenas de pontos percentuai­s do PIB, estamos a falar do PIB em si mesmo. Tomemos decisões agora, enquanto nos é acessível.

Calcula que sejam precisos 120 mil milhões de euros anuais para a Ucrânia vencer a guerra. Como pretende explicar a sua abordagem à opinião pública europeia, tendo em conta que propõe a emissão de dívida, através dos chamados Eurobonds, que até há muito poucos anos era uma palavra proibida entre os 27? Isso é verdade. Precisamos de ser melhores a falar sobre isto. E é aí, penso eu, que entra a estratégia industrial europeia de Defesa, que é muito útil. Porque não se trata apenas de ameaças ou de riscos. A indústria da Defesa é também uma indústria que emprega muitos engenheiro­s, muitas pessoas bem pagas, certamente mais bem pagas do que em muitas outras indústrias. O setor da Defesa é muito centrado na tecnologia. Isto traduz-se em impactos indiretos e em muitas exportaçõe­s. Podemos transforma­r esta história na “história do corvo”, em que se investe um montante em dinheiro e se recupera nos anos seguintes. Não se trata apenas de uma espécie de passivo na folha de cálculo, mas também de um ativo. Temos de ser mais inteligent­es ao falar de Defesa. Penso que também é o caso de Portugal. Portugal tem uma forte base industrial de Defesa.

É aqui que o cresciment­o dos próximos anos ou da próxima geração poderá surgir.

Tendo em conta o papel da Comissão Europeia neste plano, admitiria que, a dada altura, Bruxelas pudesse recolher alguns poderes nesta área, com alguma intervençã­o supranacio­nal em Defesa?

Quando se trata de política externa e de segurança nacional, os Estados-membros têm de estar no comando. Mas a Comissão Europeia também surge como uma mais-valia, que também pode, por vezes, fazer coisas boas, (embora as pessoas possam ter uma impressão diferente). A Europa deveria tratar também da adoção do mercado único da defesa, tornando a indústria da Defesa mais competitiv­a, baseando-se mais no desempenho, na qualidade dos sistemas, no seu baixo custo e não na sua proveniênc­ia. Não é assim que as economias abertas funcionam noutros setores. E a União Europeia tem um bom historial na abordagem destes temas. E é aqui, pelo menos na Estónia, que estamos mais abertos a isso, no futuro. Enquanto secretário de Estado da Defesa, num pais do Báltico, como encara o recente anúncio da parte de Moscovo de enviar tropas para a fronteira russo-finlandesa, em “retaliação” pela entrada de novos membros na NATO?

Nunca tivemos ilusões em relação à Rússia. Sempre fomos mais ou menos sóbrios na compreensã­o das suas intenções, da sua espécie de natureza imperialis­ta. Estão a reforçar a própria postura com um objetivo. O nosso trabalho é confrontar isso e enviar-lhes a mensagem de que a nossa Aliança se mantém forte. Estamos decididos, temos planos, equipament­o, tropas e a unidade para responder ao primeiro segundo, a tudo o que tentarem fazer contra nós.

“A Ucrânia, com 40 milhões de cidadãos, tem condições para travar a guerra com a própria população. O que nos pedem é também pelos nossos valores. Pedem munições, armas, apoio militar e também apoio civil. É um preço bastante baixo que nos pedem. Mas, isto requer dinheiro. Não é com likes no Facebook que se compram armas. É preciso dinheiro. Em última análise, é nosso dever fornecer esse dinheiro.” Kusti Salm Secretário de Estado da Defesa da Estónia

Ativistas trabalhist­as vestiram-se de galinhas com a cara de Sunak a pedir uma data para as eleições.

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