“Temos de enviar sinal à Rússia e a futuros ditadores de que não se deve ocupar outros países”
Eurobonds para a Defesa e verbas nacionais: a Estónia diz ter plano “para Ucrânia vencer a guerra”, frisou ao DN o secretário de Estado da Defesa. Kusti Salm defende que uma parcela dos Orçamentos Nacionais seja dedicada, exclusivamente, à ajuda militar à Ucrânia.
Osecretário de Estado da Defesa da Estónia, Kusti Salm quer que Bruxelas avance definitivamente para emissão de Eurobonds para a Defesa – a emissão de dívida conjunta, na União Europeia – para financiar a indústria de Defesa e ajudar a Ucrânia a vencer a guerra. Entrevistado em Bruxelas, pelo DN, Kusti Salm defende que uma parcela dos Orçamentos Nacionais seja dedicada, exclusivamente, à ajuda militar à Ucrânia.
Afirma que os Estados-membros devem dedicar 0,25% do PIB anual, em exclusivo, à defesa da Ucrânia. O seu plano prevê também a emissão de dívida conjunta em Defesa. O que se pretende com essa abordagem? O plano da Estónia é, em primeiro lugar, para que a Ucrânia ganhe a guerra. O que está em jogo não é apenas o sucesso militar ucraniano, mas também os valores que todos defendemos aqui na Europa. Temos de enviar um sinal, não só à Rússia, mas a todos os futuros assassinos e ditadores, de que não se deve ocupar outros países. Não toleramos que haja receio de interferências na Europa. O que nos deve guiar é o direito à autodeterminação dos povos e das nações. Isto é algo que é a pedra angular de todas as nações, incluindo Portugal. É isso que vai desencadear todo o bem-estar dos povos e das nações. E é isso que está em causa na Ucrânia. Só precisamos de escolher o lado certo.
Isso não vai colocar ainda mais pressão sobre os Orçamentos Nacionais?
Estamos numa posição muito afortunada. A Ucrânia, com 40 milhões de cidadãos, tem condições para travar a guerra com a própria população. O que nos pedem é também pelos nossos valores. Pedem munições, armas, apoio militar e também apoio civil. É um preço bastante baixo que nos pedem. Mas, isto requer dinheiro. Não é com likes no Facebook que se compram armas. É preciso dinheiro. Em última análise, é nosso dever fornecer esse dinheiro. Não é o valor que está em causa, é também uma matriz de risco. Se a Rússia ganhasse [esta guerra], sairia com a noção de que as suas ações assassinas deram frutos. Os problemas agravar-se-iam depois. E, se olharmos para os custos que as guerras impuseram às nações ao longo da História, então, não estamos a falar apenas de pontos percentuais do PIB, estamos a falar do PIB em si mesmo. Tomemos decisões agora, enquanto nos é acessível.
Calcula que sejam precisos 120 mil milhões de euros anuais para a Ucrânia vencer a guerra. Como pretende explicar a sua abordagem à opinião pública europeia, tendo em conta que propõe a emissão de dívida, através dos chamados Eurobonds, que até há muito poucos anos era uma palavra proibida entre os 27? Isso é verdade. Precisamos de ser melhores a falar sobre isto. E é aí, penso eu, que entra a estratégia industrial europeia de Defesa, que é muito útil. Porque não se trata apenas de ameaças ou de riscos. A indústria da Defesa é também uma indústria que emprega muitos engenheiros, muitas pessoas bem pagas, certamente mais bem pagas do que em muitas outras indústrias. O setor da Defesa é muito centrado na tecnologia. Isto traduz-se em impactos indiretos e em muitas exportações. Podemos transformar esta história na “história do corvo”, em que se investe um montante em dinheiro e se recupera nos anos seguintes. Não se trata apenas de uma espécie de passivo na folha de cálculo, mas também de um ativo. Temos de ser mais inteligentes ao falar de Defesa. Penso que também é o caso de Portugal. Portugal tem uma forte base industrial de Defesa.
É aqui que o crescimento dos próximos anos ou da próxima geração poderá surgir.
Tendo em conta o papel da Comissão Europeia neste plano, admitiria que, a dada altura, Bruxelas pudesse recolher alguns poderes nesta área, com alguma intervenção supranacional em Defesa?
Quando se trata de política externa e de segurança nacional, os Estados-membros têm de estar no comando. Mas a Comissão Europeia também surge como uma mais-valia, que também pode, por vezes, fazer coisas boas, (embora as pessoas possam ter uma impressão diferente). A Europa deveria tratar também da adoção do mercado único da defesa, tornando a indústria da Defesa mais competitiva, baseando-se mais no desempenho, na qualidade dos sistemas, no seu baixo custo e não na sua proveniência. Não é assim que as economias abertas funcionam noutros setores. E a União Europeia tem um bom historial na abordagem destes temas. E é aqui, pelo menos na Estónia, que estamos mais abertos a isso, no futuro. Enquanto secretário de Estado da Defesa, num pais do Báltico, como encara o recente anúncio da parte de Moscovo de enviar tropas para a fronteira russo-finlandesa, em “retaliação” pela entrada de novos membros na NATO?
Nunca tivemos ilusões em relação à Rússia. Sempre fomos mais ou menos sóbrios na compreensão das suas intenções, da sua espécie de natureza imperialista. Estão a reforçar a própria postura com um objetivo. O nosso trabalho é confrontar isso e enviar-lhes a mensagem de que a nossa Aliança se mantém forte. Estamos decididos, temos planos, equipamento, tropas e a unidade para responder ao primeiro segundo, a tudo o que tentarem fazer contra nós.
“A Ucrânia, com 40 milhões de cidadãos, tem condições para travar a guerra com a própria população. O que nos pedem é também pelos nossos valores. Pedem munições, armas, apoio militar e também apoio civil. É um preço bastante baixo que nos pedem. Mas, isto requer dinheiro. Não é com likes no Facebook que se compram armas. É preciso dinheiro. Em última análise, é nosso dever fornecer esse dinheiro.” Kusti Salm Secretário de Estado da Defesa da Estónia
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