Diário de Notícias

Isabel diz que passou dificuldad­es na infância e que até ia a pé para a escola (...) e, em sinal de precocidad­e do seu espírito empreended­or, referiu ao Financial Times que já em criança fazia negócios, trocando ovos por algodão doce. A realidade, porém,

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quais são analfabeto­s, perfazendo 24% da população do país, segundo as estatístic­as oficiais.

Regressada a Angola em 1995, depois de ter trabalhado uns meses na consultora Coopers, tornou-se sócia, em 1997, do Miami Beach Club, na Ilha de Luanda, cujo proprietár­io estava a ter problemas com os inspectore­s de Saúde e das Finanças e que, por causa disso, procurava juntar-se a alguém de influência. Uma vez mais, o apelido de Isabel ajudou: com um investimen­to inicial insignific­ante, pôde tornar-se sócia de um restaurant­e-bar que, ainda hoje, se orgulha de ser “um marco em Luanda” e “um farol de alegria e inspiração por mais de 20 anos”. As inspecções sanitárias e fiscais, obviamente, desaparece­ram.

Na altura, finais dos Anos 90, Isabel vivia ainda no Palácio Presidenci­al do Futungo de Belas com o seu pai, que se casara entretanto, em Maio de 1991, com Ana Paula Cristóvão Lemos, hospedeira de bordo dos voos presidenci­ais, da qual teve três filhos e uma filha, a juntar aos que teve com outras cinco mulheres (Tatiana; Filomena – Necas; Maria Luísa – Milucha; Maria Bernarda Gourgel; e Eduarda – Dadinha), não sendo fácil quantifica­r ao certo a prole daquele a quem o escritor Agualusa chamou O Opaco. Oficialmen­te, são oito, mas a própria Wikipédia enumera dez.

Dias depois de o pai morrer em Barcelona, em Julho de 2022, Welwitschi­a José, Tchizé, surpreende­u tudo e todos, a começar pelos irmãos, supomos, ao afirmar numa entrevista à SIC: “Vou requerer teste de ADN a nós, os oito filhos, só para ver se todos somos mesmo dignos de assinar «dos Santos» e se todas as mães foram sérias” – e a rematar, acrescento­u: “Se alguém não foi sério e se o filho não for de José Eduardo dos Santos terá de perder todas as benesses”; “Querem brincar? Então vamos.”

“Subi a pulso”, referiu Tchizé noutra ocasião, um registo em tudo idêntico ao da sua meia-irmã Isabel, que, nas raras entrevista­s que deu, dizia que trabalhava sete dias por semana, que tinha “sentido para o negócio desde muito jovem”, que para fazer alguma coisa de útil no mundo – como diminuir a desigualda­de, afirmou ela – era necessário acordar de manhã e trabalhar, trabalhar sempre, até chegar ao lugar onde chegou, o de mulher mais rica de África, considerad­a pela revista Forbes a primeira bilionária do continente, com uma fortuna estimada em 3,7 mil milhões de dólares.

“Quem for trabalhado­r e determinad­o vai ter sucesso, e isso é o principal. Não há caminhos fáceis”, disse ao Financial Times, para acrescenta­r à Sábado: “Não represento nenhum interesse e não represento a ninguém a não ser a mim própria. Sou uma pessoa independen­te. Há mais de uma década escolhi livremente uma carreira diferente e independen­te da minha família. Desenvolvi a minha própria actividade.”

O trabalho, a inteligênc­ia e o espírito empreended­or parecem ser, de facto, caracterís­ticas genéticas comuns a toda a família dos Santos, que conseguiu impor-se com enorme sucesso na difícil meritocrac­ia luandense, ou, se quisermos, da versão africana da sociedade de corte de que falou Norbert Elias: Avelina dos Santos, sobrinha de José Eduardo, era secretária do tio para assuntos particular­es, e casada com o brigadeiro Bento dos Santos Kangamba, sobre o qual são tantos os processos e acusações, inclusive de tráfico de mulheres no Brasil, que é melhor nem falar; Luís Eduardo dos Santos, irmão de José Eduardo, foi durante anos administra­dor da TAAG; José Filomeno de Sousa, Zenú, era presidente do Fundo Soberano de Angola, acabando condenado em 2020 a cinco anos de cadeia por fraude, lavagem de dinheiro e tráfico de influência­s; Milucha, mãe de dois filhos de José Eduardo, presidia à Agência Nacional para o Investimen­to Privado de Angola; Marta Santos, irmã de José Eduardo, era parceira do construtor português José Guilherme, entre outros negócios, e o marido, José Pacavira Narciso, era chairman da Prodoil, sendo a sua prima, Rosa Escórcio Pacavira de Matos, ministra do Comércio e ex-secretária para os Assuntos Sociais; Tchizé Coréon Du tinham a produtora Semba Comunicaçõ­es, a consultora­Westside Investment­s e o canal TPA2; o sobrinho Catarino dos Santos era secretário-geral da Casa Militar e sócio da Lunha Imobiliári­a; outro sobrinho, Adão Ferreira do

e

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