“Ecologia” dominou dia no Barreiro
UM EXTENSO EDITORIAL ocupava boa parte da primeira página do DN, a propósito da insubordinação de alguns oficiais do Quartel de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. No Barreiro, centenas de crianças andaram a ajudar os funcionários do município a apanhar o
Oconceito ainda não estava em voga naqueles tempos, mas a 19 de março de 1974 o dia das crianças de uma escola do Barreiro foi passado a ajudar os trabalhadores municipais na recolha do lixo, na rua. O assunto teve chamada de primeira página no DN. “Para 380 crianças do Externato Diocesano Manuel de Melo, o tempo de aulas da manhã de ontem foi passado na rua numa actividade que, à primeira vista, não pareceria muito ligada à vida escolar: ajudar os funcionários camarários de limpeza a recolher o lixo das áreas mais próximas daquele estabelecimento de ensino”, podia ler-se.
Uma atitude ecológica e motivadora para as crianças. “Essa saída correu tão bem e agradou de tal forma que foi decidido repeti-la e prolongá-la no futuro, pelo que foi com um certo espanto que os transeuntes viram ontem a pequenada a colaborar com os funcionários da limpeza, não deixando ficar no chão qualquer detrito [em] que pusessem os olhos (...). Regressaram ao meio-dia. Muitos, sujos. Mas felizes, todos”.
Viviam-se dias conturbados. A coluna militar revoltosa que tinha saído das Caldas da Rainha para Lisboa continuava a dar que falar.
Aliás, o DN escrevia, na primeira página, um longo editorial sobre o assunto, intitulado: Palavras necessárias. Começava assim: “Os acontecimentos do último fim desemana causaram mágoa e surpresa. Sabia-se que em determinados setores do corpo militar ardia um fogo surdo, mas não se esperaria que súbita labareda irrompesse num ato inconsiderado, de que os protagonistas terão sido, eventualmente, os primeiros a arrepender-se.”
Finalizava o editorial com estas palavras: “As colunas militares (...) só podem deslocar-se num sentido. Aquele que lhes for apontado pelos supremos interesses da Pátria e da defesa da Nação.”
Ao mesmo tempo, era desmentida a imprensa internacional, através de um comunicado da secretaria de Estado da Informação. “Noticiaram alguns jornais estrangeiros terem sido presos cerca de 200 oficiais implicados na insubordinação verificada no Regimento de Infantaria 5. (...) Este número não corresponde à realidade, visto terem sido apenas detidos 33 oficiais.”
A crise da NATO voltava, também, a fazer notícia.