Diário de Notícias

“Ecologia” dominou dia no Barreiro

UM EXTENSO EDITORIAL ocupava boa parte da primeira página do DN, a propósito da insubordin­ação de alguns oficiais do Quartel de Infantaria 5, nas Caldas da Rainha. No Barreiro, centenas de crianças andaram a ajudar os funcionári­os do município a apanhar o

- TEXTO ISABEL LARANJO

Oconceito ainda não estava em voga naqueles tempos, mas a 19 de março de 1974 o dia das crianças de uma escola do Barreiro foi passado a ajudar os trabalhado­res municipais na recolha do lixo, na rua. O assunto teve chamada de primeira página no DN. “Para 380 crianças do Externato Diocesano Manuel de Melo, o tempo de aulas da manhã de ontem foi passado na rua numa actividade que, à primeira vista, não pareceria muito ligada à vida escolar: ajudar os funcionári­os camarários de limpeza a recolher o lixo das áreas mais próximas daquele estabeleci­mento de ensino”, podia ler-se.

Uma atitude ecológica e motivadora para as crianças. “Essa saída correu tão bem e agradou de tal forma que foi decidido repeti-la e prolongá-la no futuro, pelo que foi com um certo espanto que os transeunte­s viram ontem a pequenada a colaborar com os funcionári­os da limpeza, não deixando ficar no chão qualquer detrito [em] que pusessem os olhos (...). Regressara­m ao meio-dia. Muitos, sujos. Mas felizes, todos”.

Viviam-se dias conturbado­s. A coluna militar revoltosa que tinha saído das Caldas da Rainha para Lisboa continuava a dar que falar.

Aliás, o DN escrevia, na primeira página, um longo editorial sobre o assunto, intitulado: Palavras necessária­s. Começava assim: “Os acontecime­ntos do último fim desemana causaram mágoa e surpresa. Sabia-se que em determinad­os setores do corpo militar ardia um fogo surdo, mas não se esperaria que súbita labareda irrompesse num ato inconsider­ado, de que os protagonis­tas terão sido, eventualme­nte, os primeiros a arrepender-se.”

Finalizava o editorial com estas palavras: “As colunas militares (...) só podem deslocar-se num sentido. Aquele que lhes for apontado pelos supremos interesses da Pátria e da defesa da Nação.”

Ao mesmo tempo, era desmentida a imprensa internacio­nal, através de um comunicado da secretaria de Estado da Informação. “Noticiaram alguns jornais estrangeir­os terem sido presos cerca de 200 oficiais implicados na insubordin­ação verificada no Regimento de Infantaria 5. (...) Este número não correspond­e à realidade, visto terem sido apenas detidos 33 oficiais.”

A crise da NATO voltava, também, a fazer notícia.

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