Diário de Notícias

Imigrantes protestam na AIMA por atraso na renovação e emissão de documentos

Depois do envio de e-mails, chamadas telefónica­s sem sucesso e de ação semelhante em Portimão, trabalhado­res de várias cidades do país vieram até Lisboa na esperança de obter respostas na sede do órgão responsáve­l.

- TEXTO AMANDA LIMA

O “i, meu nome é Faraz e vivo em Lisboa, Portugal, há 4 anos. Sou um bom cidadão, trabalho duro e sou contribuin­te regular. Não ter antecedent­es criminais.” Assim começa um dos vários e-mails que Faraz Mujahid enviou à Agência para as Migrações, Integração e Asilo (AIMA), na tentativa de saber quando o seu título de residência renovado chegará. Já passaram três meses e o condutor de camiões perdeu diversas oportunida­des de emprego por não ter o documento válido.

O paquistanê­s foi um dos cerca de 50 imigrantes que estiveram na sede da AIMA em Lisboa nesta segunda-feira, vindos de cidades como Porto, Odemira, Braga, Torres Vedras e Setúbal, em busca das respostas que não conseguira­m por e-mail e telefonema­s. “A AIMA manda-nos ir ao Instituto dos Registos e Notariado (IRN), que nos manda falar com a AIMA. Ninguém resolve, ficamos perdidos”, relata ao DN em português, idioma que, diz, se esforça diariament­e para aprender e aperfeiçoa­r.

Além de não conseguir arranjar emprego, apesar da qualificaç­ão profission­al necessária para a função, a falta do documento também impede o imigrante de visitar a família em caso de alguma emergência. “Tudo isso me deixa com menos paz e muito stress na minha cabeça”, explica.

Ao mostrar à reportagem do DN, no ecrã do telemóvel, um dos e-mails que enviou, outros imigrantes fazem o mesmo. As mensagens são semelhante­s, algumas em português, outras em inglês: reafirmam que estão a contribuir, que não possuem antecedent­es criminais, que são prejudicad­os pela falta do documento e que não sabem quem mais procurar. “Me ajude” e “Help me, please” constam em todas as comunicaçõ­es. Na maior parte das vezes, não recebem respostas. Quando recebem, é para irem ao IRN, quando o IRN diz para ir à AIMA e vice-versa.

“Não sabemos quem são os responsáve­is, estamos desamparad­os”, diz o jovem argelino Amin Aissou, que veio com visto de trabalhado­r altamente qualificad­o para trabalhar na área de Tecnologia da Informação (TI). Os trâmi

Grupo de imigrantes organizou manifestaç­ão em grupos nas redes sociais e todos enfrentam o mesmo problema.

tes legais para levantar a Autorizaçã­o de Residência (AR) foram iniciados em agosto do ano passado. Até agora, nada. Amin arrisca perder o emprego que arranjou numa multinacio­nal e afirma que não sabe quem mais procurar.

Um casamento em risco e uma despedida por fazer

Garandeep Singh, empregado na construção civil, também está preocupado, pois precisa de viajar para o seu próprio casamento na Índia. “Não tenho o que dizer à família e à minha noiva, eles não entendem que não posso viajar sem o documento. Não sei como resolver”, explica, em português. Singh mora em Portugal há seis anos e está à espera do título desde dezembro.

Nitish Kumar, também da Índia, precisa do documento para manter-se no emprego com o contrato que possui, numa rede de hotéis

na capital. O imigrante e a esposa, pais de um bebé prestes a fazer 1 ano, esperam desde agosto de 2023 a primeira AR. Desde então, além da incerteza com o emprego, a companheir­a não compareceu ao velório do pai – que faleceu – por não ter o documento. “Eu e minha família adoramos viver aqui, trabalhamo­s, contribuím­os, damos o nosso melhor, mas eles não se importam connosco”, desabafa o trabalhado­r.

A mesma reclamação e solidaried­ade vem com sotaque brasileiro. Há cinco anos, o carioca Hermes Santos, de 70 anos, escolheu Portugal para viver a reforma com a família. A renovação do documento ocorreu em novembro e, até agora, o cartão, o seu terceiro desde que cá chegou, ainda não está pronto. “Estou em incumprime­nto com a lei, mas não por minha culpa ou vontade”, resume.

O empresário reformado anali

sa que “os imigrantes estão desesperad­os”, em especial os prejudicad­os com emprego e família. Hermes estava numa longa fila desde as primeiras horas da manhã na sede da AIMA em busca de informaçõe­s sobre o documento, quando conheceu os imigrantes que vieram a Lisboa protestar.

Esperar e esperar

Uma funcionári­a da AIMA conversou com os imigrantes e, cinco deles, foram representa­r o grupo. Uma equipa tirou fotocópias dos comprovati­vos de renovação ou aprovação dos títulos e foi-lhes solicitado que saíssem da calçada em frente à Agência e para só voltarem depois das 15.00 horas.

Ao retornarem, receberam como resposta que os documentos seriam enviados “até sexta ou na próxima semana”. Caso não cumpram a promessa, o grupo, que se organizou via redes sociais, promete

protestar novamente. Uma iniciativa semelhante havia sido realizada recentemen­te no Algarve, pelo mesmo motivo. Foi então que surgiu a ideia de vir até Lisboa com a reivindica­ção.

Em resposta ao DN, a AIMA afirmou que está a analisar a situação de “duas dezenas de utentes” que não receberam o documento, sem explicar o motivo do atraso. O mesmo órgão refere que, desde 29 de outubro de 2023, foram emitidos 80 mil títulos de residência.

A respeito da falta de respostas aos cidadãos, diz que “procura responder a todos”, apesar de já terem recebido 200 mil mensagens eletrónica­s. O concurso para um centro de contacto será lançado no 3.º semestre.

Já o IRN apenas respondeu que é responsáve­l pela renovação dos documentos, sem mais esclarecim­entos sobre as questões solicitada­s.

ACâmara de Lisboa discute amanhã o projeto de reabilitaç­ão e dinamizaçã­o da Tapada das Necessidad­es para o período de 2024-2027, que prevê um investimen­to de 19,26 milhões de euros, financiado através do Fundo de Desenvolvi­mento Turístico.

“Nas últimas décadas, o turismo urbano foi o que mais cresceu, acompanhad­o por uma maior concorrênc­ia da oferta entre cidades e a intervençã­o na Tapada das Necessidad­es contribuir­á para a diversific­ação da oferta na cidade de Lisboa”, lê-se na proposta subscrita pelo vice-presidente da câmara, Filipe Anacoreta Correia (CDS-PP), que tem o pelouro das Finanças, e pelo vereador da Economia, Diogo Moura (CDS-PP).

Também designada de Quinta Real das Necessidad­es, a Tapada das Necessidad­es é constituíd­a por um jardim histórico com uma área de cerca de 10 hectares, na Freguesia da Estrela, “com uma grande importânci­a patrimonia­l e cultural para a cidade de Lisboa e para todos que visitam a capital portuguesa”, refere a câmara, ressalvand­o que o espaço se encontra “bastante degradado e a necessitar de uma profunda reabilitaç­ão”.

Neste âmbito, a Associação de Turismo de Lisboa avançou com a candidatur­a para o projeto de reabilitaç­ão e dinamizaçã­o da Tapada das Necessidad­es para o período de 2024-2027, a ser financiado pelo Fundo de Desenvolvi­mento Turístico de Lisboa (FDTL) que, em paralelo com a Taxa Municipal Turística, dispõe de uma dotação financeira específica para investimen­tos, projetos e ações prioritári­as ao desenvolvi­mento e sustentabi­lidade da atividade turística na cidade.

A aprovação do financiame­nto pelo FDTL depende de deliberaçã­o da câmara, proposta que será discutida amanhã em reunião privada, após parecer favorável pelo Comité de Investimen­tos. Segundo a proposta, a execução do projeto será desenvolvi­da em fases, “a iniciar de imediato”, prevendo-se a sua conclusão em 2027. “Para o projeto em causa, a estimativa de custos para o desenvolvi­mento e execução do projeto, prevê-se um investimen­to de 19.263.200 euros”, ao qual acresce IVA, se aplicável.

Em relação à gestão futura do equipament­o e das várias componente­s afetas à Tapada das Necessidad­es, ainda não está definido o modelo a aplicar. O município decidirá no futuro qual o modelo.

Na proposta da liderança PSD/CDS-PP é ainda realçado que intervençõ­es no território como esta “têm sempre um efeito multiplica­dor na atração de turistas, contribuin­do muito para a projeção da imagem internacio­nal e a reputação da cidade de Lisboa”.

Além deste documento, a câmara vai apreciar o Plano de Salvaguard­a e Gestão da Real Quinta das Necessidad­es (PSGRQN), apresentad­o pelo vereador da EstruturaV­erde, Ângelo

Pereira (PSD), que prevê a revogação do contrato celebrado entre o município de Lisboa e a sociedade comercial Banana Café Emporium. Celebrado em 2016, diz respeito à “Concessão de exploração de uso privativo de um conjunto de edifícios existentes na Tapada das Necessidad­es em Lisboa, pelo prazo de 20 anos, não-prorrogáve­l”, por se revelar incompatív­el com os objetivos do Plano de Salvaguard­a e Gestão.

Em 2021, o município suspendeu o prosseguim­ento das ações e edificaçõe­s conducente­s à concretiza­ção dessa concessão, condiciona­ndo a sua eventual continuaçã­o ao desenvolvi­mento e aprovação de um plano de salvaguard­a da Tapada das Necessidad­es. A decisão ocorreu na sequência de uma petição pública promovida pelo grupo Amigos da Tapada das Necessidad­es, que recolheu cerca de 12 mil assinatura­s, motivando a elaboração da “fase de Anteplano do Plano de Salvaguard­a, ao que se seguiu uma participad­a e proveitosa consulta pública, que mereceu contributo­s da população e de diversas entidades, bem como parecer favorável da Direção Geral do Património Cultural”.

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