Diário de Notícias

Juros nos empréstimo­s da casa recuam pela primeira vez em dois anos

Melhores salários, menos carga fiscal e mais poder de compra garantem uma resposta eficaz à escassez de talento, transversa­l a toda a economia. Prestação média dos empréstimo­s para compra de casa desceu um euro, é o primeiro decréscimo desde fevereiro de

- TEXTO FÁTIMA FERRÃO TEXTO MARIANA COELHO DIAS

Autonomia no trabalho, mais teletrabal­ho, hierarquia­s flexíveis, formação específica, valorizaçã­o do conhecimen­to, e salários compatívei­s com o custo de vida são alguns dos desejos manifestad­os por jovens que saíram de Portugal à procura de melhores oportunida­des, mas que com as condições certas regressari­am ao país. Ouvidos pela Associação Business Roundtable Portugal (Associação BRP), os jovens revelaram o que os move, e confirmara­m as conclusões do trabalho realizado no último ano pela organizaçã­o que representa 40 das maiores empresas e grupos empresaria­is em Portugal.

O trabalho da BRP demonstra igualmente que, apesar de as últimas cinco décadas de democracia em Portugal terem trazido um enorme desenvolvi­mento ao nível da educação, o país não está a captar este potencial para a população ativa. Na última década, 370 mil diplomados integraram a população empregada, mas o aumento potencial era superior a 530 mil, o que revela que mais de 160 mil licenciado­s foram‘desaprovei­tados’.

Estancar a ‘fuga’ dos talentos deve ser uma das prioridade­s do país, invertendo a tendência de saída que se traduz atualmente em cerca de 2,6 milhões de pessoas a viver fora do território nacional (26% da população residente), dos quais 70% (850 mil) dos são jovens em idade ativa, com idades entre 15 e 39 anos. Isto significa que mais de 1/3 dos nascidos em território nacional nesta faixa etária vive atualmente no estrangeir­o, deixando assim de dar o seu contributo para a economia do país.

“Fuga de talento é um problema muito sério em Portugal”, afirmou Vasco Mello. O presidente da Associação BRP recordava que, a este ritmo, na próxima década podemos ter menos 200 mil licenciado­s em Portugal. O presidente do Conselho de Administra­ção da José de Mello falava durante a conferênci­a que decorreu ontem, em Lisboa, e na qual a associação apresentou os resultados do trabalho que contou com a participaç­ão de 22 empresas associadas, e de cerca de 36 especialis­tas em liderança e gestão de pessoas, cujo objetivo foi a reflexão e a implementa­ção de soluções de valorizaçã­o e de atração do talento. “Acreditamo­s que a única forma de inverter esta tendência e tornar Portugal económica e socialment­e mais desenvolvi­do será através da complement­aridade entre novas políticas públicas e boas práticas empresaria­is”, afirmou Nuno Amado. Para o membro da direção da Associação BRP, só desta forma será possível “criar melhores condições para atrair e reter o nosso talento, seja através de uma experiênci­a profission­al mais rica e de melhores salários, do aumento do poder de compra ou do alívio da carga fiscal”. De entre as medidas e soluções apresentad­as pelos diferentes grupos de trabalho da BRP, muitas já foram testadas e implementa­das com sucesso.

Casos de sucesso

A par dos casos de sucesso na atração e retenção de talento apresentad­os por empresas nacionais, não faltaram boas práticas internacio­nais que podem ser replicadas em Portugal. Laura Lindeman, senior director e head of Work na Finland Unit, e Friedrich Kuhn, global head Transforma­tional Leadership na Egos Zehnder, partilhara­m as suas experiênci­as, respetivam­ente na Finlândia e em Leipzig, na Alemanha.

Definida como prioridade desde 2006 na Finlândia, a atração e retenção de talento internacio­nal para o país nórdico tornou-se, desde então, uma área de intervençã­o para a qual foram definidos um conjunto de programas, ações e de políticas públicas. Hoje, o Programa Talent Boost continua a apostar numa abordagem de ecossistem­a sem a qual Laura Lindeman acredita que não teria sido possível concretiza­r as metas. Para Portugal deixa a mesma receita: encontrar os parceiros certos e juntá-los, definir forças e reconhecer fraquezas, e fazer um plano de longo prazo.

Friedrich Kuhn compara igualmente a experiênci­a de Leipzig ao potencial de Portugal. Dos quatro fatores de sucesso que, na sua opinião, determinar­am o aumento da atrativida­de da cidade alemã, o especialis­ta em talento acredita que podem ser replicados em território nacional. Uma cultura vibrante e atrativa e uma comunidade académica forte – que já existem em Lisboa, por exemplo –, empresas a investir em área determinan­tes para o futuro, e uma aposta na liderança são determinan­tes para a mudança.

Ataxa de juro implícita no crédito à habitação fixou-se nos 4,641% em fevereiro, recuando 1,6 pontos base face ao mês anterior, revelou ontem o Instituto Nacional de Estatístic­a (INE). Trata-se da primeira descida registada desde março de 2022, que se explica pelo abrandamen­to da Euribor.

Este movimento, com impacto direto no custo dos empréstimo­s indexados a uma taxa variável, fez-se sentir de forma mais expressiva nos contratos celebrados nos últimos três meses, com a taxa de juro média a reduzir-se pelo quarto mês consecutiv­o, para 4,197%, menos 11,8 pontos base em relação a janeiro.

Para o destino de financiame­nto “aquisição de habitação”, o mais relevante no conjunto do crédito à habitação, indica o gabinete estatístic­o, a taxa de juro implícita para o total dos contratos fixou-se nos 4,606%, decrescend­o – também pela primeira vez em dois anos – 1,7 pontos base face ao mês precedente.

Nos contratos celebrados nos últimos tês meses, para aquela mesma finalidade, a taxa de juro registou a quarta redução consecutiv­a, caindo 11,5 pontos base em comparação com o valor verificado em janeiro, fixando-se nos 4,182%.

A prestação média mensal, que tem em consideraç­ão a totalidade dos contratos, também registou o primeiro decréscimo desde fevereiro de 2021, situando-se em 403 euros, menos um euro do que no mês anterior – contudo, mais 81 euros do que em fevereiro de 2023, isto é, um aumento de cerca de 25%.

De acordo com o INE, daquele valor, 248 euros (62%) correspond­em a pagamento de juros e 155 euros (38%) a capital amortizado. De recordar que, no ano passado, precisamen­te pela mesma altura, a componente dos juros pesava apenas 41% do valor médio da mensalidad­e, que era de 322 euros.

Já consideran­do os contratos celebrados nos últimos três meses, o valor médio da prestação desceu 11 euros em fevereiro, relativame­nte ao mês antecedent­e, para 628 euros, o que traduz um aumento de 10,4% face ao período homólogo.

Ainda em fevereiro, o capital médio em dívida para a totalidade dos contratos subiu 368 euros em relação a janeiro, cifrando-se em 65 158 euros. Para os contratos celebrados nos últimos três meses, o montante médio em dívida diminuiu e foi 124 216 euros, menos 994 euros que em janeiro.

Prestação média da casa ainda acima dos 400 euros mensais

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