Cinco momentos decisivos
acontecer graças a vós, cidadãos da Rússia”, acrescentou.
Segundo analistas internacionais, este quinto mandato de Vladimir Putin será um prolongamento do anterior, com a continuação da guerra na Ucrânia, o consequente confronto com o Ocidente, e um maior controlo a nível interno, num país onde a dissidência já não é tolerada sob uma repressão em rápida aceleração. Tudo isto usando como validação os 87% de votos alcançados nestas eleições ou, como o porta-voz do Kremlin referia ontem de manhã ontem: a vitória de Putin mostrou que os russos estão firmes, reunidos “em torno do caminho dele”, apelidando-a de “um resultado excecionalmente perfeito”.
“Putin vai continuar a dizer ao seu povo mais do mesmo sobre o seu lugar na História e a necessidade da sua guerra na Ucrânia. As armas nucleares russas são grandes e assustadoras, a sociedade russa é uma grande família feliz, a economia do tempo de guerra está a ir bem, o futuro multipolar veio para ficar, basta manter a fé nesta guerra eterna com o Ocidente”, escrevia ontem Diana Magnay, correspondente internacional da Sky News. “Muitos, talvez a maioria, dos russos absorverão essa mensagem porque é transmitida de uma forma convincente e generalizada, mas há também uma sensação de desconforto face à guerra, uma incerteza e uma falta de vontade de olhar para o futuro ou de planear o futuro”, referiu a mesma jornalista.
A guerra na Ucrânia foi acompanhada por um crescendo da erosão dos direitos civis dos russos e a detenção de cidadãos por motivos que passaram de pequenos delitos a atos subversivos. Só nestas eleições, segundo a agência Interfax avançou ontem, 61 processos-crime foram interpostos pelo Ministério do Interior russo e 150 infrações administrativas foram interpostas, sendo que o maior número de processos-crime foi por denúncia de um ato de terrorismo deliberadamente falsa (23) e obstrução ao exercício dos direitos dos eleitores (21). Há ainda a registar a detenção de 80 pessoas.
“Todas estas pessoas que rodeiam Putin estão a participar numa corrida de iniciativas de repressão. Ser leal é inventar novas repressões, novas emendas às leis sobre agentes estrangeiros, aos media, ao código penal”, defendeu Andrei Kolesnikov, do think tank Carnegie Russia Eurasia Center.
Escolha baseada na repressão
Os aliados do presidente russo felicitaram-no ontem pela conquista de um quinto mandato no poder, mas as potências ocidentais denunciaram a eleição como ilegítima, realizada sob condições repressivas e sem oposição credível.
Pequim parabenizou Putin, dizendo que os dois países são “parceiros cooperativos estratégicos na nova era” e que o resultado “reflete plenamente o apoio do povo russo”, informaram os media estatais chineses. Já o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ofereceu as suas “calorosas felicitações” a Putin, acrescentando que espera desenvolver a sua relação “especial” – a Rússia é o maior fornecedor de armas da Índia. Kim Jong-un, da Coreia do Norte, disse que os eleitores russos demonstraram o seu “apoio e confiança inabaláveis” em Putin, de acordo com a KCNA.
“Este foi um processo incrivelmente antidemocrático”, referiu o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Vedant Patel, dizendo que Putin “provavelmente continuará a ser o presidente da Rússia, mas isso não o isenta da sua autocracia”.
Os países da União Europeia afirmaram num comunicado conjunto que foi negada aos russos uma “escolha real” depois de todos os candidatos que se opunham à guerra na Ucrânia terem sido excluídos. O chefe da política externa da UE, Josep Borrell, disse ainda que a votação foi “baseada na repressão e na intimidação”.
Tragédia do Kursk
Em agosto de 2000, quatro meses após Putin ter sido eleito presidente, o submarino nuclear Kursk afundou-se no Ártico, causando a morte dos 118 tripulantes. Moscovo só aceitou ajuda internacional para recuperar o submarino uma semana após o acidente, mas nessa altura toda a tripulação já tinha morrido, o que foi um enorme golpe inicial para a imagem de Putin.
Banho de sangue em Beslan
A 1 de setembro de 2004, no início do ano letivo na Rússia, terroristas islamistas invadiram uma escola em Beslan. Centenas de estudantes, pais e professores estiveram detidos mais de 50 horas, incidente que terminou com a morte de mais de 330 pessoas (incluindo 186 crianças), após as forças de segurança invadirem a escola. O Kremlin foi criticado pela forma como lidou com a crise.
Trocas no Kremlin
Quando Putin chegou ao limite de mandatos em 2008, entregou o Kremlin a Dmitry Medvedev, ficando como primeiro-ministro, o que os críticos descreveram como uma medida destinada a manter-se a longo prazo no poder. Manifestações eclodiram em Moscovo no final de 2011 contra a recandidatura de Putin à presidência. Putin consolidou a sua permanência no poder ao rever a Constituição em 2020, permitindo-lhe ficar no cargo até 2036.
Ataques na Ucrânia
Em 2014, um mês depois dos Jogos Olímpicos de Inverno de Sochi, aproveitando o seu aumento de popularidade e encorajado pela turbulência política na Ucrânia, Putin ordenou a entrada de tropas na Crimeia. A anexação rápida da península levou ao lançamento de uma rebelião por separatistas armados no leste do país. A 24 de fevereiro de 2022, a Rússia invadiu a Ucrânia.
Rebelião do Grupo Wagner
Em junho de 2023, Yevgeny Prigozhin, líder do Grupo Wagner, encabeçou um motim de curta duração contra a liderança militar de Moscovo por causa da guerra na Ucrânia. Dois meses após o motim fracassado, Prigozhin morreu num misterioso acidente de avião, do qual o Kremlin negou qualquer responsabilidade.
Vladimir Putin Presidente da Federação Russa
Xi Jinping Presidente da República Popular da China