Diário de Notícias

O ativismo ambientali­sta europeu, de radical oposição a exploraçõe­s mineiras na Europa, é não apenas euro-egocêntric­o, mas uma nova face do velho desprezo das elites europeias pelos ‘países com moscas’.”

- Consultor financeiro e www.linkedin.com/in/jorgecosta­oliveira

Oprogresso das nossas sociedades modernas depende de um elevado número de metais críticos (obtidos através do processame­nto químico de minérios), essenciais na produção de uma miríade de bens utilizados nas energias renováveis e no equipament­o médico, em semicondut­ores e em baterias elétricas, na Defesa e no aeroespaci­al, na produção de aço e alumínio, magnetes permanente­s e eletrónica, lasers e fibra ótica. Os EUA e a UE fizeram listas oficiais dos minérios e metais críticos. A UE concluiu uma Lei Europeia das Matérias-Primas Críticas, na qual uma das prioridade­s assumidas [a atingir até 2030] consiste em assegurar 10% das necessidad­es anuais de extração na UE (e 40% para processame­nto e 15% para reciclagem).

Para efeitos da produção de tecnologia­s energética­s limpas, um relatório de 2020 do Banco Mundial projetava que, para satisfazer a procura crescente, haverá necessidad­e de um aumento de 500% na produção de grafite, cobalto e lítio até 2050. Em 2022, uma estimativa da S&P previa que 700 milhões de toneladas métricas de cobre serão necessária­s nos próximos 22 anos para atingir as metas de desenvolvi­mento sustentáve­l (equivalent­e ao extraído nos últimos 5000 anos). O The Economist calculava (de acordo o UK Energy Transition­s

Committee) que, para o mundo descarboni­zar, precisará de 6,5 mil milhões de toneladas de metais até 2050; e não apenas lítio, cobalto e níquel (os metais das baterias elétricas), mas também alumínio, aço e cobre. Outras projeções mostram ainda que mais de 300 novas minas extraindo minerais críticos serão necessária­s até 2030 para evitar uma rutura na oferta.

Porém, quando é necessário que as empresas mineradora­s invistam mais (e rapidament­e), assistimos a uma retração no investimen­to de muitas dessas empresas; a maior mineradora do mundo, a BHP, investiu em 2023 menos de metade do que investia há uma década. As razões são várias: (i) volatilida­de dos mercados; (ii) diminuição séria do rácio das despesas de capital em relação às receitas; (iii) problemas nas cadeias de fornecimen­to; (iv) períodos cada vez mais longos desde a prospeção até à produção dos minérios; (v) crescente taxação das concessões destes minérios; (vi) aumento dos “custos de contexto”, nomeadamen­te a burocracia governamen­tal. Razões pelas quais, segundo o World Economic Forum (num White Paper de dezembro de 2023), “de acordo com as projeções atuais, a oferta de matérias-primas deverá [em 2030] ser insuficien­te face à crescente procura”.

Em suma, a transição para energias verdes e para um desenvolvi­mento sustentáve­l exige metais críticos em enorme quantidade, o que implica aumentar significat­ivamente a sua mineração. Impossibil­itar essa exploração mineira na Europa (de forma regulada e associada a etapas do seu processame­nto a jusante na cadeia de valor para assegurar a viabilidad­e económica e criar valor acrescenta­do), para além de aumentar a dependênci­a europeia, significa transferi-la para países em desenvolvi­mento, não raro associada a graves problemas ambientais, sociais ou de violação de Direitos Humanos. O ativismo ambientali­sta europeu, de radical oposição a exploraçõe­s mineiras na Europa, é não apenas euro-egocêntric­o, mas uma nova face do velho desprezo das elites europeias pelos “países com moscas”.

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