Diário de Notícias

Crime de ofensas corporais aumenta entre os mais jovens

Verónica é uma das 1237 crianças e jovens alvo de ofensas corporais, dentro ou fora da escola, no âmbito do Programa Escola Segura. A jovem passou a sofrer de ansiedade. No dia 16 de fevereiro “ela encontrou a agressora. A Verónica estava dentro do autoca

- TEXTO ISABEL LARANJO

Em causa estão crimes praticados por menores, dentro ou, no caso, nas imediações da escola. Segundo o último relatório do Programa Escola Segura (PES), que se dedica a policiar os estabeleci­mentos de Ensino Básico e Secundário, as ofensas corporais foram um dos crimes a subir. Se em 2022 tinham acontecido 1172 agressões, no ano passado foram 1237. Verónica faz parte desta estatístic­a, que incluiu outros crimes, como injúrias e ameaças.

Tudo aconteceu entre um grupo de raparigas que frequentav­am a mesma escola, em Lisboa. Verónica foi espancada com violência e as agressões filmadas, em novembro de 2023. “Armaram-lhe uma cilada. Uma amiga combinou com ela um encontro. Disse-lhe que não estava bem e que precisava de falar. Quando a minha irmã chegou ao local, a cerca de 100 metros da escola, já lá estavam umas quantas para a agredir”, conta ao DN Flávia Silva, irmã da adolescent­e agredida. “Foi agredida, foi filmada e ameaçaram-na que se ela contasse alguma coisa em casa que lhe podia voltar a acontecer o mesmo.”

Verónica, 15 anos, ficou paralisada pelo medo. “A minha irmã andou duas semanas em que só chorava e, em casa, não contou nada. Até que percebi que ela até durante a noite chorava”, começa por explicar a irmã, Flávia, que tem a menor à sua guarda. “Inicialmen­te pensei que fosse coisas de miúdos, quezílias de namoro, que ela se tivesse chateado com algum namorado e não nos tivesse dito nada”, prossegue. “No entanto, o meu filho apercebeu-se de que ela chorava constantem­ente, de dia e de noite. Tentei ter uma conversa com a minha irmã, para ver o que é que se passava. Ela não contava nada. Recorri à minha tia, que é uma pessoa mais velha e consegue aperceber-se melhor das situações. Foi quando a Verónica contou à tia o que é que tinha acontecido.”

Agredida e agressora tinham-se conhecido na escola. “Aquilo aconteceu num parque infantil, que está escondido atrás de uns prédios”, revela Flávia.

Verónica, que foi retirada à mãe após monitoriza­ção da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens de Lisboa (CPCJ) por faltar às aulas, continuou com medo de ir à escola. De tal modo que a irmã, sua cuidadora, resolveu mudá-la de estabeleci­mento de ensino. Apesar de tudo, os problemas não acabaram. “Ela agora anda noutra escola, mas vai passar os fins de semana a casa da nossa mãe. E essa rapariga que lhe bateu frequenta o bairro onde a nossa mãe mora, portanto elas cruzam-se.”

No dia 16 de fevereiro deste ano voltaram a acontecer incidentes que deixaram Verónica “em pânico”, como conta a irmã Flávia.

“Nesse dia ela encontrou a agressora. A Verónica estava dentro do autocarro e a agressora estava do lado de fora. Só que, quando viu a minha irmã, começou aos gritos para dentro do autocarro, a chamar-lhe nomes. A Verónica ficou mesmo apavorada e, nesse dia, nem foi à escola. Apareceu em casa a chorar e, desde que isto começou que tem crises de ansiedade.” Flávia acrescenta que “sempre que a veem, ameaçam-na”.

O medo toma também conta da família mais próxima. “Nem sempre conseguimo­s estar ao pé da Verónica. Por exemplo, quando esta situação do autocarro aconteceu, ela ia da casa da mãe para a escola. E estas coisas acontecem sempre que ela está sozinha. Aliás, antes da agressão de novembro, que foi filmada e da qual foi feita queixa, a minha irmã já tinha sido agredida, já lhe tinham batido”, aflige-se a irmã mais velha, de 29 anos, e cuidadora da menor.

Na origem das agressões está “um diz que disse: a agressora diz que a minha irmã falou umas coisas, a minha irmã nega. Sei que elas antes eram amigas, porque a minha irmã andava na mesma escola que ela”.

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