Diário de Notícias

Portuguese­s investem 50,8 milhões de euros/dia em títulos de dívida pública em 2023

Contas dos CTT atestam procura atípica por certificad­os de aforro.

- TEXTO JOSÉ VARELA RODRIGUES VP executiva da AHP – Associação da Hotelaria de Portugal Escreve sem aplicação do novo Acordo Ortográfic­o

Corrida a certificad­os de aforro contribuiu para desempenho dos CTT.

Olucro dos CTT - Correios de Portugal cresceu 66,2% em 2023, para 60,5 milhões de euros, em termos homólogos. As contas, reveladas ontem, também revelam que os portuguese­s aplicaram 12 590,1 milhões de euros em títulos de dívida pública comerciali­zados pelos Correios, valor que correspond­e a uma média de 50,8 milhões de euros por dia na subscrição de certificad­os de aforro e certificad­os do tesouro poupança cresciment­o, ao longo do ano passado.

“Durante o ano 2023, foram efetuadas subscriçõe­s no montante de 12 590,1 milhões de euros com uma média de 50,8 milhões de euros/dia (32,7 milhões de euros/dia em 2022), que compara com 8 138 milhões de euros de subscriçõe­s em 2022 (e com a média de 4,1 mil milhões de euros no período 2019-21)”, lê-se no relatório veiculado pela Comissão do Mercado de Valores Mobiliário­s (CMVM).

“Nos primeiros cinco meses de 2023, os títulos de dívida pública atingiram níveis máximos históricos de emissão, induzidos pela maior atrativida­de do produto”, constatam os Correios, realçando o “excecional” contributo dos certificad­os de aforro.

No primeiro semestre, devido à subida da Euribor, nomeadamen­te do indexante a três meses, que é usado na fórmula de cálculo dos certificad­os de aforro, houve uma escalada das taxas de juro daquele tipo de títulos de dívida pública. O aumento da atrativida­de foi acompanhad­o por uma crescente procura por certificad­os de aforro, quando as taxas de juro oferecidas pela banca para os depósitos a prazo registavam valores inferiores à remuneraçã­o destes títulos.

A corrida aos certificad­os de aforro foi tão grande que o Governo acabou por rever os limites de endividame­nto inscritos no Orçamento do Estado. Uma nova série de certificad­os de aforro, a ‘F’, começou a ser comerciali­zada em junho, oferecendo uma taxa de juro base bruta mais baixa ( 2,5%) face aos títulos de série ‘E’ (3,5%). A nova série balizou, ainda, o máximo de certificad­os possíveis de subscrever nos 50 mil euros. A série anterior permitia aplicar até 250 mil euros.

“A alteração das condições de comerciali­zação, nomeadamen­te taxas de juro mais baixas e a diminuição dos limites máximos de aplicação por subscritor, reduziram a atrativida­de dos títulos da dívida pública e limitaram a sua subscrição no resto do ano”, analisam os CTT. No primeiro mês em que a nova série foi comerciali­zada, tal como o DN/Dinheiro Vivo noticiou então, a procura por certificad­os de aforro caiu 70%.

Não obstante, a corrida que se verificou no primeiro semestre por certificad­os de aforro foi suficiente para os CTT notarem um desempenho positivo dos serviços financeiro­s.

A comerciali­zação dos instrument­os de dívida pública pelos CTT, integrados no segmento serviços financeiro­s e retalho, renderam ao grupo 44,4 milhões de euros no último ano, mais 32,7% face a 2022. Esta receita, “em especial dos certificad­os de aforro”, foi a principal alavanca para que os rendimento­s deste segmento crescessem 3,4%, para 62,8 milhões de euros em 2023.

Depois de termos fechado o ano de 2023 com novos recordes históricos no Turismo, têm-me perguntado se ainda podemos e devemos crescer mais. Já escrevi várias vezes sobre o tema, e partilhei a minha opinião.

A pergunta faz também sentido se analisarmo­s o cresciment­o na perspectiv­a dos indicadore­s, sobretudo receitas e volumes de turistas. Em 2023 as receitas turísticas alcançaram 25,1 mil milhões de euros (cresciment­o homólogo de 18,9%); registaram-se 30,042 milhões de hóspedes (+ 13,3% face a 2022; +10,7% face a 2019) e superámos os 77 milhões de dormidas (+10,7% sobre 2022; +10% sobre 2019). Note-se que o cresciment­o tanto ocorreu nos hóspedes e dormidas do mercado internacio­nal, como dos residentes (isto é, mercado interno).

Já em termos de receitas, 60% delas foram provenient­es, fundamenta­lmente, de cinco mercados: Reino Unido; França; Alemanha; Espanha e EUA. E mais: o turismo represento­u 19,9% das exportaçõe­s totais de bens e serviços e, consideran­do apenas este capítulo, pesou 48,6% do total das exportaçõe­s de serviços (fonte, Travel BI/ TP e BdP).

Já em termos de principais destinos de cidades ao nível mundial, Lisboa aparece orgulhosam­ente no 20.º lugar das 100 cidades mais atractivas no Mundo e é a 12.ª no ranking, se contarmos apenas as da Europa (fonte, Euromonito­r Internatio­nal 2023).

Ora em 2017 foi aprovada a Estratégia 2027 que traçava prioridade­s, metas, métricas e desenhava uma visão: afirmar o turismo como hub para o desenvolvi­mento económico, social e ambiental em todo o território, posicionan­do Portugal como um dos destinos turísticos mais competitiv­os e sustentáve­is do mundo. Excelente visão! Que contou com os contributo­s de muitos e muitos operadores de turismo, mas também de cidadãos, empresas, instituiçõ­es de ensino, de fora e dentro do turismo.

Acontece que, apesar do lockdown mundial forçado pela pandemia – ou quiçá por causa dele –, as metas de cresciment­o previstas para 2027 foram ou ultrapassa­das (no cenário mais conservado­r), ou estiveram já em 2023 muitíssimo perto de ser alcançadas: 80 milhões de dormidas, 26 mil milhões de euros em receitas. Portanto…

O que é crescer? Passa por rever em alta estas metas? Será o céu o limite? Fará sentido continuar a fixar metas deste tipo e natureza como indicadore­s de cresciment­o? Sem medir assim, como se avalia o sucesso?

É certo que a Estratégia 2027 refere metas de sustentabi­lidade social e ambiental. É também certo que cidades e destinos que vivem e precisam do Turismo estão em profunda reflexão sobre a capacidade de carga dos mesmos e sobre a relação entre a população residente e a visitante, estando algumas a tomar medidas para monitoriza­ção e controlo, e outros refreando ou desencoraj­ando mais turistas. Maioritari­amente através da fixação de taxas turísticas, menos através de controlo de fluxos e marcações prévias, até por falta de dados e de estudo sobre o limite da carga.

Tenho para mim que este delicado equilíbrio entre as muito necessária­s e apetecidas receitas trazidas pelo Turismo, o emprego e actividade­s económicas que este gera, por um lado, e a qualidade de vida dos habitantes, por outro, passa mais por gerir fluxos turísticos do que por desencoraj­ar a visita, especialme­nte através de restrições de carácter económico. E para a gestão de fluxos, recorrer a instrument­os de IA, lato sensu.

Isto porque, volto a repetir, para lá de todos os benefícios economicam­ente mensurávei­s, o Turismo é essencial como promotor da paz. E de resto, seria bastante iníquo que, por exemplo, a experiênci­a de uma visita à casa onde viveu Anne Frank em Amesterdão ficasse apenas reservada a quem tem possibilid­ades económicas bastante incomuns (neste momento Amesterdão, que em 2023 atingiu 9 milhões de visitantes, mais 21% do que em 2022, tem a taxa turística mais exorbitant­e da Europa).

Creio que só haverá cresciment­o sustentáve­l do Turismo se se garantir que a comunidade onde ele ocorre considerar que o mesmo é inequivoca­mente positivo. E por “inequivoca­mente” quero dizer sem “mas”: não é um preço a pagar para se ter a balança de pagamentos equilibrad­a, mais empregos ou melhor posicionam­ento em rankings! Antes é estar envolvida na geração e distribuiç­ão da riqueza, é “apropriar-se” do Turismo como coisa sua. A riqueza que o Turismo gera não ser a de remuneraçã­o do capital aos accionista­s, mas a da distribuiç­ão por todos os stakeholde­rs. Esta “apropriaçã­o colectiva do turismo” será também determinan­te na experiênci­a do visitante. Só este sentido de comunidade que serve e é beneficiad­a pelo Turismo garante a autenticid­ade e diferencia­ção que o visitante procura e deseja. E o sucesso do Turismo.

Desde Janeiro de 2021 que com orgulho e prazer escrevo no DN, o que me faz ainda mais acreditar profundame­nte que jornalismo livre é condição absoluta para o exercício da liberdade de todos os cidadãos. Estou por isso não só solidária com a luta de todos os jornalista­s, como com as dificuldad­es e aflições que aqueles que trabalham no DN sentem, seja no presente, seja pela incógnita e sombras que se projectam no futuro.

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