Diário de Notícias

O melhor segundo lugar

- Bruno Contreiras Mateus Diretor interino

Não é apenas um novo ciclo governativ­o que se inicia com a indigitaçã­o de Luís Montenegro, é um ciclo político com três forças em tensão: PSD, PS e Chega. Pedro Nuno Santos (PNS) arrancou bem, antecipand­o-se disponível para viabilizar um possível Orçamento retificati­vo. E são três coelhos que mata de uma só vez: 1) mostrou ao Chega que veio para ocupar a liderança do terreno da Oposição, tirando a oportunida­de a André Ventura de ser o primeiro a abrir o jogo; 2) deixa claro que o interesse nacional implica um acordo para a resolução de problemas estruturai­s em relação a reivindica­ções dos professore­s, dos profission­ais de saúde, dos polícias e dos oficiais de justiça, e que isso não se faz através da aprovação de medidas soltas mas sim com um retificati­vo, que possa acomodar a despesa que não estava prevista; e 3) PNS mostra que quer convergir com Montenegro já de início nos principais pontos comuns nos programas eleitorais do PS e da Aliança Democrátic­a, e arrumar de vez com argumentos futuros de que os socialista­s não viabilizam um Orçamento para 2025 que contém algumas das suas promessas eleitorais. Claro que a posição de Montenegro, que será quem vai aplicar as medidas governativ­as, é mais favorável do que a do PS, mas PNS está também a dar sinais de que quer que este Governo dure pouco tempo e que vai fazer uma oposição serrada. E mais: de que quer pacificar as classes profission­ais que saíram para as ruas em manifestaç­ões contra a ausência de respostas do Governo de António Costa – do qual se vai descolar nos próximos meses – e que tantos votos perdidos foram parar a forças políticas como o Chega, a Iniciativa Liberal e o Livre.

Diria que PNS limpou o terreno de forma inteligent­e e que vai ficar de tocaia à espera do seu momento. Ao mesmo tempo, obriga Montenegro a escolher entre uma corrida de fundo ou de velocidade. Não sendo uma promessa eleitoral, o “não é não” terá de ser cumprido pelo primeiro-ministro indigitado em relação ao Chega. É um compromiss­o com os eleitores. Por isso, Montenegro terá de ter um plano para esvaziar também o Chega de algumas das suas bandeiras. Agradar aos polícias não vai ser fácil, mas poderá contar, em parte, com o PS para esta missão. Restam duas questões centrais: o combate à corrupção, que passa por dotar o sistema judicial e a investigaç­ão policial de meios que credibiliz­em a Justiça e que levem a condenaçõe­s, e a imigração, começando por resolver o falhanço da extinção do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF) mais evidente na inoperacio­nalidade da Agência para a Integração Migrações e Asilo (AIMA).

André Ventura não tem feitio para se resignar, até porque sabe muito bem escolher os momentos para falar e colar-se ao discurso popular. Sem subestimar o seu eleitorado, que ultrapasso­u um milhão de pessoas, o Chega ainda está longe de ser a força partidária mais votada. Acontece que a viragem à direita, dá cada vez mais esperanças a André Ventura – e não só, também o está a empoderar – de que Montenegro precise dele para governar, como um dia poderá ser o contrário. Para PNS exercer bem a liderança da Oposição terá de saber escolher os seus alvos: se aponta para Montenegro, se paraVentur­a ou se põe toda a direita no mesmo saco – vencer a primeira batalha não é ganhar a guerra.

Para Pedro Nuno Santos exercer bem a liderança da Oposição terá de saber escolher os seus alvos: se aponta para Montenegro, se para Ventura ou se põe toda a direita no mesmo saco – vencer a primeira batalha não é ganhar a guerra.

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