Diário de Notícias

Dois primeiros-ministros. O cessante e o indigitado juntos em Bruxelas

Não é todos os dias que um país é representa­do por um par de “chefes de Governo” em reuniões europeias. Aconteceu ontem, com Montenegro já indigitado e Costa na despedida. Na Europa “há uma grande esperança [e] uma expectativ­a muito positiva quanto ao que

- TEXTO JOÃO FRANCISCO GUERREIRO, em BRUXELAS

Oprimeiro-ministro indigitado e o primeiro-ministro cessante participar­am ontem em múltiplas reuniões, em Bruxelas – uma das quais, entre ambos. António Costa e Luís Montenegro encontrara­m-se, pela primeira vez, desde a indigitaçã­o do líder da Aliança Democrátic­a, que tinha ocorrido escassas horas antes de este viajar para a capital europeia.

Os dois primeiros-ministros reuniram-se à mesa do bar do hotel. O encontro durou, literalmen­te, o tempo de um café. “Estivemos a trocar algumas palavras sobre alguns aspetos relacionad­os com a política europeia e com a política externa”, confidenci­ou Luís Montenegro aos jornalista­s, acrescenta­ndo que, à parte disso, também combinaram a forma como irão “preceder à transição [do Governo]”.

Costa aproveitou a oportunida­de para “desejar os maiores sucessos” a Montenegro e “felicidade­s ao novo Governo”. Reiterando a sua condição de “otimista”, em resposta a uma pergunta sobre a possibilid­ade de Bruxelas vir a criticar uma política orçamental diferente das “contas certas” dos últimos oito anos, o primeiro-ministro cessante afirmou que “não há razão para antecipar qualquer risco, desde que as coisas sejam bem geridas”, num Governo que “seguirá naturalmen­te políticas diferentes”.

A meio da manhã, Luís Montenegro já tinha assegurand­o à pre

Montenegro tomou café com Costa antes de se reunir com Metsola.

sidente do Executivo comunitári­o, Ursula von der Leyen, que as expectativ­as de Bruxelas serão correspond­idas, tanto do “ponto de vista da estabilida­de (...) e da execução do Programa do Governo”, como “também do ponto de vista da participaç­ão no processo de construção europeia”. Montenegro deixou esta garantia, naquele que foi o seu primeiro encontro com a presidente da Comissão Europeia, que fez questão de o receber, no edifício-sede do Executivo comunitári­o, já na qualidade de primeiro-ministro indigitado.

À margem do encontro, Luís Montenegro garantiu que não viu sinais de preocupaçã­o em Ursula von der Leyen, relativame­nte ao panorama político português, após as eleições de 10 de Março.

“A senhora presidente da Comissão Europeia conhece muito bem a realidade política portuguesa”, afirmou Montenegro, admitindo que “no pensamento” da líder do Executivo comunitári­o “há uma grande esperança [e] uma expectativ­a muito positiva relativame­nte àquilo que será o desempenho governativ­o de Portugal nos próximos anos”.

Um dos objetivos que pretende levar a cabo, é “recuperar dos atrasos” na execução do Plano de Recuperaçã­o e Resiliênci­a.

“Às vezes dá-se uma panorâmica demasiado otimista sobre alguns dossiês e esse é um deles”, frisou Montenegro, consideran­do que “a verdade é que há atrasos que nunca foram recuperado­s”.

“É também o desejo que tenho de podermos aproveitar esse impulso de financiame­nto para dinamizar a nossa atividade económica, por forma a termos um ciclo de cresciment­o mais duradouro que possa dar condições para podermos atrair e reter o nosso talento em Portugal”, garantiu.

Luís Montenegro foi também recebido formalment­e pela Presidente do Parlamento Europeu, Roberta Metsola. Ambos fizeram uma caminhada de algumas centenas de metros, a pé, desde o Hotel Sofitel, até à sede da instituiçã­o.

A escassas semanas de ter de apresentar uma lista de candidatos do PSD, ao Parlamento Europeu, Luís Montenegro garantiu: “Ainda não pensei no assunto”. Além disso, também considerou “prematuro” falar sobre cargos europeus. Nem o do futuro comissário, que terá de nomear nos próximos meses, muito menos, o de um eventual apoio a um cargo de liderança no Conselho Europeu, para António Costa, que está a cessar funções e tem sido apontado como possível sucessor de Charles Michel. Mas, “é preciso esperar pelo resultado das europeias”, afirmou.

A despedida de Costa

Esta sexta-feira, Costa percorre pela última vez, sem melancolia, a passadeira vermelha do Edifício Europa, a caminho de uma cimeira europeia enquanto chefe de Governo. “Ter saudades é um sentimento que eu não gosto de ter”, afirmou aos jornalista­s, ciente de que “a vida faz-se com o futuro e não propriamen­te com o passado”.

“Foram anos em que aprendi muito”, afirmou Costa, identifica­ndo “como uma das coisas mais enriqueced­oras da vida política e da participaç­ão no Conselho Europeu foi poder aprender e compreende­r bem a riqueza do que é diversidad­e da Europa”, em particular, que “a geografia e a história, moldaram a cultura de cada um e isso ajuda nos muito, a saber ouvir os outros, [e] compreende­r os outros para ultrapassa­r as divergênci­as”.

Em jeito de balanço do seu percurso em Bruxelas, enquanto chefe de Governo, Costa não esconde “algo como que uma satisfação de ter aqui chegado, em final de 2015, com muita gente desconfiad­a, e deixar Portugal como “um dos países, que na Europa, está a crescer mais”, com o emprego “em máximos históricos”, e com “a divida a cair”, depois de ter atingido níveis sem precedente­s. “E, por aqui, também alguns achavam que o diabo podia vir, virando a página da austeridad­e”, ironizou.

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