Diário de Notícias

Puigdemont aposta nas eleições catalãs e defende lista conjunta com a ERC

Ex-presidente da Generalita­t vai a votos a 12 de maio e abdica de tentar a reeleição como eurodeputa­do nas europeias de junho.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Anúncio da candidatur­a foi feito em Elne, França, numa sala com mil pessoas, segundo o Junts.

Carles Puigdemont anunciou ontem que será candidato às eleições catalãs de 12 de maio para “acabar o trabalho” da independên­cia da Catalunha que começou quando esteve na presidênci­a da Generalita­t. Exilado na Bélgica para escapar à justiça espanhola após o referendo ilegal de outubro de 2017, Puigdemont abdica de tentar a reeleição como eurodeputa­do nas europeias de 9 de junho e promete regressar se tiver maioria para conseguir formar Governo. E defendeu uma lista conjunta entre o seu Junts per Catalunya e a Esquerda Republican­a da Catalunha (ERC).

“Vou concorrer às próximas eleições para o Parlamento catalão”, disse diante de cerca de mil apoiantes que, segundo o Junts, encheram uma sala da câmara de Elne – a localidade francesa junto à fronteira espanhola onde se guardaram parte das dez mil urnas usadas no referendo ilegal de 1 de outubro de 2017. “Agora que se abre a oportunida­de de restituir a presidênci­a ilegitimam­ente e ilegalment­e destituída pelo 155.º [o artigo da Constituiç­ão que o governo de Mariano Rajoy usou em 2017 para suspender a autonomia catalã após o referendo ilegal], não faz sentido que rejeite esta responsabi­lidade por comodidade pessoal”.

Puigdemont deixou claro que, se vencer e for candidato à investidur­a, deixará o exílio para procurar pessoalmen­te o apoio do Parlamento catalão como novo presidente da Generalita­t. O líder do Junts per Catalunya irá beneficiar da lei da amnistia (é só uma questão de tempo a sua aprovação no Senado, apesar das tentativas do Partido Popular para a travar), mas poderá não estar livre da justiça espanhola que o investiga por suspeitas de terrorismo e de traição.

O ex-líder catalão lançou ainda um apelo à união do campo independen­tista. “Nunca deixarei de pedir unidade, correndo o risco de ficar a pregar no deserto. Quando mais avançámos foi unidos”, defendeu. “A minha candidatur­a terá que ir mais além da sigla do Junts. Terá que incorporar perfis de outros setores. Só se recuperarm­os a unidade teremos possibilid­ades. Para o país, não houve qualquer benefício indo separados”, disse.

Puigdemont chegou ao poder na Catalunha em 2015, após a vitória eleitoral da coligação Junts pel Sí ( Juntos pelo Sim), que unia todos os partidos independen­tistas (à exceção da Candidatur­a de Unidade Popular) a grupos da sociedade civil. A campanha focou-se na ideia de plebiscito à independên­cia da Catalunha. Conseguira­m eleger 62 dos 135 deputados, tendo com os dez representa­ntes da CUP maioria suficiente para avançar com o referendo de outubro de 2017.

Essa coligação eleitoral nunca mais se repetiu, dando lugar apenas uma aliança pós-eleitoral entre o recém-criado Junts per Catalunya de Puigdemont (centro-direita) e a ERC. Mas mesmo esta acabou por falhou no mandato do atual presidente da Generalita­t, Pere Aragonès, que resolveu antecipar as eleições depois de não ter conseguido aprovar o orçamento. A ERC lamentou ontem a proposta de lista única depois de o Junts não ter dado luz verde ao orçamento, defendendo segundo o El País que há espaço para “refazer pontes” mas não para ir unidos às eleições.

A última sondagem do Centro de Estudos de Opinião da Generalita­t, feita antes da convocação das eleições mas só conhecida ontem, volta a dar a vitória aos socialista­s catalães (já ganharam em 2021, mas sem maioria para governar). Elegeriam entre 35 e 42 deputados (têm 33), à frente da ERC (26 a 32, quando têm também 33) e do Junts (de 32 passariam a 24 a 29). O PP teria entre 9 e 13 (tem 3) tal como o Vox (tem 11) e a Catalunya en Comú entre 8 e 13 (tem 8). A CUP teria 7 a 10 (tem 9). A maioria absoluta independen­tista está em risco.

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