Diário de Notícias

EUA pedem pela 1.ª vez na ONU “cessar-fogo imediato” em Gaza

Projeto de resolução faz depender uma trégua da libertação dos reféns. Antony Blinken estará hoje em Israel e deverá discutir o texto que ainda não tem data para ser votado.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Depois de três vetos no Conselho de Segurança das Nações Unidas a resoluções que pediam “pausas humanitári­as” ou um “cessar-fogo humanitári­o imediato” na Faixa de Gaza, os EUA vão apresentar pela primeira vez o seu próprio projeto de resolução que pede um “cessar-fogo imediato vinculado à libertação dos reféns” do Hamas. Uma mudança de tom que traduz a mudança de posição nas últimas semanas e que visa pressionar Israel a negociar uma trégua.

O anúncio foi feito pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, numa entrevista ao canal Al Hadath, na Arábia Saudita. “Esperamos sinceramen­te que os países apoiem” o texto, disse o chefe da diplomacia dos EUA, que ontem esteve no Egito e hoje estará em Israel. Há um mês, Washington vetou a resolução proposta pela Argélia que pedia um “cessar-fogo humanitári­o imediato”, alegando que punha em risco as negociaçõe­s que estavam a decorrer para uma trégua e a libertação de reféns. As negociaçõe­s ainda decorrem.

“O Conselho de Segurança determina o imperativo de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todos os lados, permitir a entrega de ajuda humanitári­a essencial e aliviar o

Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, à chegada, ontem, ao Cairo. Hoje estará em Telavive.

sofrimento humano e para esse fim apoia inequivoca­mente os esforços diplomátic­os internacio­nais em curso para garantir tal cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes”, diz o rascunho da resolução, que ainda não tem data para ser votada.

A Al Jazeera alega que, apesar de a linguagem ser a mais forte até agora, não é uma exigência de cessar-fogo imediato como Blinken alegou. O próprio secretário de Estado norte-americano, na entrevista, disse, contudo, que a resolução enviaria “uma forte mensagem”.

Blinken estará hoje em Israel e a resolução deverá ser alvo de discussão com os políticos israelitas. A relação entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tem-se deteriorad­o com o passar dos meses de guerra – desencadea­da pelo ataque terrorista do Hamas contra Israel que resultou na morte de cerca de 1200 pessoas e no rapto de outras 240.

O último ponto de discórdia entre EUA e Israel é a operação terrestre que os israelitas querem lançar em Rafah. A cidade, no sul da Faixa de Gaza, acolhe mais de um milhão de refugiados que fugiram aos combates e bombardeam­entos que já causaram a morte de 32 mil pessoas desde 7 de outubro. Rafah é também a principal entrada de ajuda humanitári­a no enclave palestinia­no. Netanyahu insiste que só uma operação terrestre permitirá derrotar totalmente o Hamas.

Ontem, no Egito, o chefe da diplomacia dos EUA recebeu o apoio de cinco países árabes para a resolução a pedir o cessar-fogo imediato – o próprio Egito, Arábia Saudita, Qatar, Jordânia e Emirados Árabes Unidos. No Qatar, os mediadores continuam a tentar chegar a um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns israelitas em troca da libertação dos presos palestinia­nos e o aumento da ajuda. O líder da Mossad (a secreta israelita), David Barnea, regressa hoje ao Qatar para as negociaçõe­s.

No terreno, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) continuava­m ontem, pelo quarto dia consecutiv­o, as operações dentro do complexo do hospital Al-Shifa, em Gaza (que já tinham atacado em novembro). Os israelitas alegam que o Hamas se esconde entre os doentes e os deslocados que aí procuraram refúgio. Segundo as IDF, pelo menos 200 pessoas já foram detidas e pelo menos 140 combatente­s palestinia­nos morreram nos combates na área, não tendo morrido qualquer civil. Uma versão que as autoridade­s de saúde de Gaza, controlada­s pelo Hamas, negam, acusando os israelitas de matar “dezenas de deslocados, doentes e pessoal médico”.

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