EUA pedem pela 1.ª vez na ONU “cessar-fogo imediato” em Gaza
Projeto de resolução faz depender uma trégua da libertação dos reféns. Antony Blinken estará hoje em Israel e deverá discutir o texto que ainda não tem data para ser votado.
Depois de três vetos no Conselho de Segurança das Nações Unidas a resoluções que pediam “pausas humanitárias” ou um “cessar-fogo humanitário imediato” na Faixa de Gaza, os EUA vão apresentar pela primeira vez o seu próprio projeto de resolução que pede um “cessar-fogo imediato vinculado à libertação dos reféns” do Hamas. Uma mudança de tom que traduz a mudança de posição nas últimas semanas e que visa pressionar Israel a negociar uma trégua.
O anúncio foi feito pelo secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, numa entrevista ao canal Al Hadath, na Arábia Saudita. “Esperamos sinceramente que os países apoiem” o texto, disse o chefe da diplomacia dos EUA, que ontem esteve no Egito e hoje estará em Israel. Há um mês, Washington vetou a resolução proposta pela Argélia que pedia um “cessar-fogo humanitário imediato”, alegando que punha em risco as negociações que estavam a decorrer para uma trégua e a libertação de reféns. As negociações ainda decorrem.
“O Conselho de Segurança determina o imperativo de um cessar-fogo imediato e duradouro para proteger os civis de todos os lados, permitir a entrega de ajuda humanitária essencial e aliviar o
Antony Blinken, chefe da diplomacia americana, à chegada, ontem, ao Cairo. Hoje estará em Telavive.
sofrimento humano e para esse fim apoia inequivocamente os esforços diplomáticos internacionais em curso para garantir tal cessar-fogo em conexão com a libertação de todos os reféns restantes”, diz o rascunho da resolução, que ainda não tem data para ser votada.
A Al Jazeera alega que, apesar de a linguagem ser a mais forte até agora, não é uma exigência de cessar-fogo imediato como Blinken alegou. O próprio secretário de Estado norte-americano, na entrevista, disse, contudo, que a resolução enviaria “uma forte mensagem”.
Blinken estará hoje em Israel e a resolução deverá ser alvo de discussão com os políticos israelitas. A relação entre o presidente norte-americano, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, tem-se deteriorado com o passar dos meses de guerra – desencadeada pelo ataque terrorista do Hamas contra Israel que resultou na morte de cerca de 1200 pessoas e no rapto de outras 240.
O último ponto de discórdia entre EUA e Israel é a operação terrestre que os israelitas querem lançar em Rafah. A cidade, no sul da Faixa de Gaza, acolhe mais de um milhão de refugiados que fugiram aos combates e bombardeamentos que já causaram a morte de 32 mil pessoas desde 7 de outubro. Rafah é também a principal entrada de ajuda humanitária no enclave palestiniano. Netanyahu insiste que só uma operação terrestre permitirá derrotar totalmente o Hamas.
Ontem, no Egito, o chefe da diplomacia dos EUA recebeu o apoio de cinco países árabes para a resolução a pedir o cessar-fogo imediato – o próprio Egito, Arábia Saudita, Qatar, Jordânia e Emirados Árabes Unidos. No Qatar, os mediadores continuam a tentar chegar a um acordo de cessar-fogo que permita a libertação dos reféns israelitas em troca da libertação dos presos palestinianos e o aumento da ajuda. O líder da Mossad (a secreta israelita), David Barnea, regressa hoje ao Qatar para as negociações.
No terreno, as Forças de Defesa de Israel (IDF, na sigla em inglês) continuavam ontem, pelo quarto dia consecutivo, as operações dentro do complexo do hospital Al-Shifa, em Gaza (que já tinham atacado em novembro). Os israelitas alegam que o Hamas se esconde entre os doentes e os deslocados que aí procuraram refúgio. Segundo as IDF, pelo menos 200 pessoas já foram detidas e pelo menos 140 combatentes palestinianos morreram nos combates na área, não tendo morrido qualquer civil. Uma versão que as autoridades de saúde de Gaza, controladas pelo Hamas, negam, acusando os israelitas de matar “dezenas de deslocados, doentes e pessoal médico”.