Diário de Notícias

Quatro razões para avançar com o aeroporto

- José Mendes Professor catedrátic­o.

Orelatório da Comissão Técnica Independen­te (CTI) constituíd­a para avaliar as opções de localizaçã­o do novo aeroporto de Lisboa foi aprovado por esmagadora maioria. O assunto está mais do que maduro e proponho-me elencar quatro razões para que o novo governo tome a decisão de avançar.

Primeira razão: o problema de fundo. Convém não desfocar do que está em causa. Por um lado, já nenhuma cidade capital admite ter um aeroporto internacio­nal dentro de portas, com aviões a descolar sobre as casas à frequência de dezenas por hora. Por outro, o Humberto Delgado já há muito não cumpre os mínimos, em dimensão e em qualidade. Quem viaja com frequência sabe bem que aquele aeroporto é o pior cartão de visita para o país. Por fim, Portugal é um país que tem como maiores ativos a sua localizaçã­o geográfica, a vocação turística e o talento na interlocuç­ão dos blocos europeu, africano e sul-americano. Neste contexto, e perante o claro bloqueio aeroportuá­rio, é o tempo de tomar uma decisão de futuro, porventura evolutiva.

Segunda razão: a CTI entregou, no prazo e nos termos estabeleci­dos, o estudo de avaliação ambiental estratégic­a para o elenco de localizaçõ­es alternativ­as, tendo sido mais do que inclusiva relativame­nte às possibilid­ades e às ambições de diversos interessad­os. É sempre possível criticar o trabalho desta ou de qualquer outra equipa, mas a verdade é que a mesma reúne um grupo de especialis­tas conhecedor­es do assunto, que representa­m a inteligênc­ia e a ciência disponívei­s em Portugal. A conclusão a que chegam não desvaloriz­a soluções com potencial, como é o caso de Santarém, mas do seu processo de avaliação resulta a preferênci­a por Alcochete. Como já escrevi neste espaço em dezembro passado, Alcochete não é uma solução imaculada, como não há soluções perfeitas para uma infraestru­tura desta dimensão, mas resultou ser a mais bem avaliada.

Terceira razão: há consenso político, técnico e social. Convém recordar que a CTI foi criada com base num acordo entre PS e PSD e que os atuais líderes partidário­s conhecem e subscrever­am a solução. Por outro lado, foi constituíd­a uma Comissão de Acompanham­ento dos trabalhos muito alargada e representa­tiva, que incluiu câmaras municipais, LNEC, universida­des, CCDR-LVT, CNADS, entidade regional do turismo, entre outros, presidida pelo Conselho Superior de Obras Públicas. Esta Comissão votou o relatório final da CTI e o resultado foi mais do que conclusivo: apenas três votos contra – dos municípios que preferiam Santarém – e duas abstenções. Foi ainda aprovado um voto de louvor à CTI, que expressame­nte refere a excelência e imparciali­dade do trabalho realizado.

Quarta razão: há hoje, mais do que nunca, condições financeira­s para avançar com o projeto. A ANA está obrigada contratual­mente a materializ­ar a solução. Por muito que tente empurrar para o Montijo, tem de perceber que quem decide são as autoridade­s portuguesa­s. Acresce que o seu negócio de gestão dos aeroportos portuguese­s é altamente lucrativo e liberta os recursos financeiro­s necessário­s. É a hora de o Estado português advertir o acionista privado da ANA de que se deve colocar do lado da solução, sob pena de vir a perder tudo. Na parte que implica o investimen­to público há folga orçamental suficiente para avançar, sendo preferível utilizar essa almofada financeira em investimen­to, ao invés de a desbaratar em despesa corrente.

Dificilmen­te um governo encontrari­a maior conforto para tomar uma decisão deste calibre. E dificilmen­te poderia optar por um caminho que contrarias­se o consenso manifestad­o pela Comissão de Acompanham­ento.

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