A agricultura modernizou-se e iniciativa cofinanciada pela UE quer mostrar como
Projeto B-Rural quer mudar a perceção das pessoas sobre o setor agrícola. O objetivo é mostrar uma agricultura moderna, assente em tecnologia, que atrai investimento para o país, tanto nacional como estrangeiro.
Ajudar a desmistificar ideias feitas da sociedade sobre a agricultura e contribuir para passar a mensagem de que se trata de uma atividade que se modernizou, este é o objetivo da B-Rural, uma iniciativa cofinanciada pela União Europeia e promovida pela Consulai, consultora especializada nos setores agrícola e florestal. Como explica a organização, este projeto visa mudar a perceção sobre a atividade agrícola nos dias de hoje, abordando as dimensões do recurso à tecnologia, da criação de conhecimento e de inovação, corrigindo a forma como a “realidade urbana” olha para a “realidade rural”.
A campanha da Consulai marca presença em múpis e envolve também o contacto com grupos-alvo, onde se incluem os estudantes universitários e os jornalistas. Tudo para mostrar a agricultura moderna e contrariar algumas mensagens comuns sobre a atividade agrícola, como, por exemplo, que culturas como a amêndoa e o abacate são grandes gastadoras de água. E foi nesse âmbito que o DN/Dinheiro Vivo visitou algumas explorações agrícolas no Alentejo e Algarve.
A agricultura mudou e hoje utiliza tecnologias como sensores de humidade e de nutrição e drones, e consome menos água do que se pensa. Ao ponto de investidores estrangeiros apostarem no território nacional como forma de abordar o mercado europeu.
É o caso das amendoeiras, área onde a Rota Unica Agriculture é um bom exemplo. Pertença de um fundo americano, e com David Doll à frente da empresa em Portugal, o objetivo (inicial) era o de replicar a exploração norte-americana em território nacional, por forma a diminuir a pegada carbónica e estar mais perto do mercado europeu. Mas rapidamente se deram conta de que a replicação não poderia ocorrer. Desde logo pela diferença dos solos e do acesso à água.
PedroVieira, responsável técnico da Rota Unica em Alvito, revelou que, dada a eficácia que alcança com as técnicas de irrigação e controlo, consegue ter uma boa produção (embora não aos níveis dos Estados Unidos) com muito menos água. Ao ponto de os americanos se deslocarem a Portugal para “apren
Técnicos da JBI analisam os dados das sondas de humidade para saber quando regar os abacates.
der” as técnicas. Só para se ter uma ideia, e segundo Pedro Vieira, a cultura consome entre 7500 e 8000 metros cúbicos de água por hectare. A empresa tem autorização da EDIA – Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva para utilizar 5700. E é com essa quantidade que trabalha. A empresa optou por apenas produzir variedades americanas (são distintas das ibéricas porque têm casca mole e não rija), que estão já presentes em várias zonas do Alentejo, com cerca de 1100 hectares de produção. E não estão sozinhos. O responsável técnico da Rota Unica em Alvito aponta que todos os grandes produtores de amêndoa em Portugal são investidores estrangeiros, com 60% da produção (segundo dados do INE de 2022) a ser feita no Alentejo.
Álvaro Labella, proprietário da Olivogestão, é outro estrangeiro que decidiu apostar tudo em Portugal. Natural de Córdoba, “aterrou” em Portugal em 2003 com a ideia de fazer um olival em sebe (ou superintensivo). Lembra que na altura teve algumas dificuldades, porque não era um método muito conhecido. Aliás, o sistema de
Rota Unica produz amêndoa de casca mole, variedade americana.
licenciamento não estava configurado para tantas árvores por hectare. Rapidamente evoluiu na ideia inicial e hoje, para além da produção própria, presta serviços de aconselhamento e acompanhamento. Uma espécie de solução chave-na-mão, em que o produtor não tem de se preocupar com nada. Ou quase nada. Quanto à produção em si, esta é feita em modo integrado, com recurso a sondas de humi
dade e fertilização que fazem medição a vários centímetros diferentes. Curiosamente, e ao contrário do que se pensa, segundo Álvaro Labella, a produção em sebe, quando a manutenção é bem feita, ajuda a controlar o aparecimento de pragas e, com isso, à diminuição da utilização de pesticidas e herbicidas.
Quanto a vantagens em relação ao olival em copa, o empresário agrícola é contundente: o preço da colheita é inferior, é uma produção mais eficiente, na medida em que consome menos água, o controlo de infestantes é mais eficaz e há uma maior qualidade da azeitona.
Também no Alentejo, mas no Sudoeste, fica a The Summer Berry Company, especializada na produção de pequenos frutos, nomeadamente framboesas. A razão é simples. O Sudoeste Alentejano é considerado uma das melhores regiões do mundo para cultivar framboesas e o melhor lugar da Europa para os pequenos frutos. Pertence ao grupo TSBC, que tem cinco herdades no Reino Unido, num total de mais de 350 hectares em produção, dos quais 150 em Portugal. O grupo prevê produzir 10 mil toneladas este ano e alcançar uma faturação de 65 milhões de libras (cerca de 76 milhões de euros), com Portugal a faturar cerca de 30 milhões (cerca de 35 milhões de euros).
Quando não são investidores estrangeiros a apostarem na agricultura portuguesa, são portugueses a arriscarem em culturas consideradas “exóticas”. No Algarve, por exemplo, já se veem muitas plantações de abacate (nalguns casos onde antes havia laranjal). 95% da produção é para exportação e é um fruto com elevado valor acrescentado, ou seja, com boa rentabilidade.
A JBI, empresa portuguesa, tem 320 hectares desse fruto, conseguindo produzir cerca de 1,5 milhões de toneladas por ano. Com uma vantagem adicional: trata-se de uma cultura que não requer muita mão de obra (com exceção da época da colheita). Aliás, Diogo Gaspar e João Sardo, técnicos agrónomos da JBI, apontam que, no quotidiano, gastam mais tempo a olhar para as sondas e a fazer a gestão da água. Mas é algo que, em termos económicos, garantem, vale a pena. Basta pensar que o preço do abacate é superior a 2,5 euros por quilo e que a produção rende cerca de 12 toneladas por hectare, por ano. Em comparação, o preço da laranja ronda os 55 cêntimos. Por outro lado, e ao contrário do que se poderia pensar, o investimento inicial para o plantio do abacate ronda os 20 mil euros por hectare, sendo que este valor, revela Diogo Gaspar, já inclui as sondas.