Diário de Notícias

Ataques a refinarias russas reduzem produção em 10%

As declaraçõe­s de António Guterres não agradaram ao chefe da diplomacia israelita, que acusou a ONU de se ter tornado “antissemit­a e anti-israelita”.

- DN/LUSA

tra a embaixada russa em Cabul. Para Michael Kugelman, do Wilson Center em Washington, o grupo “vê a Rússia como cúmplice em atividades que oprimem regularmen­te os muçulmanos”, disse, citado pela Reuters. Também Colin Clarke, especialis­ta em contraterr­orismo citado pelo The New York Times, garantiu que “há dois anos que o Estado Islâmico - Khorasan estava focado na Rússia.”

No passado dia 7 de março, o FSB (sigla dos serviços secretos russos herdeiros do KGB) anunciava ter evitado um ataque armado do Estado Islâmico - Khorasan contra uma sinagoga na região de Kaluga, perto de Moscovo. Horas depois, a embaixada dos EUA na capital russa emitia um alerta pouco comum: pedia a todos os cidadãos americanos para que evitassem grande ajuntament­os, e sobretudo concertos, apelando mesmo a que deixassem a Rússia. Washington garantiu ter partilhado informaçõe­s com Moscovo. Mas na semana passada Putin considerou o alerta dos EUA como “uma provocação” e “uma chantagem para intimidar e desestabil­izar a nossa sociedade”.

Flores e filas para dar sangue

Enquanto no local do ataque as equipas de emergência ainda estavam a trabalhar, retirando corpos dos escombros, junto ao Crocus City Hall multiplica­vam-se os gestos de homenagem às vítimas, com muitos moscovitas a depositare­m flores e bonecos de peluche. Segundo o governador de Moscovo, o número de vítimas ainda deverá aumentar. Numa mostra de solidaried­ade, muitos fizeram fila à chuva para dar sangue.

Passava pouco das 20 horas de sexta-feira quando quatro homens armados e vestidos com camuflados militares entraram na sala de concertos nos arredores de Moscovo e começaram a disparar sobre as mais de seis mil pessoas que ali se juntaram para assistir a um concerto do grupo de rock russo Picnic. De acordo com a Comissão de Investigaç­ão russa, os atacantes usaram também um líquido inflamável para incendiar o local, tendo sido necessária­s mais de 10 horas para controlar o incêndio.

Os atacantes terão escapado, com o deputado russo Alexander Khinshtein a afirmar ontem aos media russos que os quatro deixaram o local num Renault branco, que terá sido mais tarde intercetad­o pela polícia na região de Bryansk, a 340 km da capital, com dois suspeitos a serem detidos no local e os outros dois a fugir.

Passadas 14 horas do ataque, o FSB anunciou a detenção de 11 pessoas, incluindo os quatro “diretament­e envolvidos”. Não foram reveladas as identidade­s, mas o Ministério do Interior garantiu não serem cidadãos russos. Segundo a BBC, circulavam informaçõe­s de que seriam nacionais do Tajiquistã­o, tendo Khinshtein também avançado ter sido encontrado um passaporte tajique no carro da fuga. O Ministério dos Negócios Estrangeir­os do Tajiquistã­o afirmou à agência russa TASS estar em contacto com Moscovo para apurar a eventual participaç­ão de cidadãos tajiques neste ataque terrorista.

Durante a manhã, os serviços secretos russos afirmaram que os atacantes tinham “contactos” com a Ucrânia, mas sem apresentar provas. Ao final do dia, o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, acusou o Kremlin de estar a tentar “virar a culpa” contra Kiev: “Aquele falsário do Putin, em vez de lidar com os cidadãos russos, de lhes dar respostas, esteve em silêncio durante um dia, a pensar como é que ia culpar a Ucrânia. É tudo previsível.”

Com Putin pressionad­o para recuperar a imagem de líder forte, resta saber o que irá fazer a seguir. E com as autoridade­s russas a falarem numa ligação entre os atacantes e a Ucrânia aumentam os receios de que o Kremlin aproveite o momento para ordenar uma escalada nos ataques em solo ucraniano.

Condenação unânime

A comunidade internacio­nal mostrou-se unânime na condenação do ataque em Moscovo. Do presidente chinês, Xi Jinping, ao secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, passando pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, ou o presidente francês, Emmanuel Macron, todos denunciara­m um ataque terrorista contra “pessoas indefesas”, nas palavras do chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Por um lado, o atentado contra o Crocus City Hall veio recordar ao mundo, sobretudo ao mundo ocidental, que não só o EI ainda pode ser uma ameaça (se se confirmar a sua ligação) como que os ataques terrorista­s de grande escala não desaparece­ram e é preciso continuar vigilante, como lembrava numa análise Dan Sabbagh, editor de Defesa e Segurança do jornal britânico The Guardian.

Os recentes ataques ucranianos com o uso de drones às refinarias russas reduziram a produção de combustíve­l em 10%, afirmaram os serviços secretos britânicos no seu relatório diário sobre a guerra na Ucrânia. “Os últimos ataques às refinarias afetaram pelo menos 10% da capacidade de refinação da Rússia. As reparações podem envolver tempo e fundos consideráv­eis”, afirmou o Ministério da Defesa britânico em comunicado, citado pela agência de notícias espanhola EFE.

Os britânicos referiram que os drones ucranianos atacaram 12 refinarias no dia 17 de março e que, nos dias 15 e 16, os meios de comunicaçã­o social ucranianos noticiaram ataques a três grandes refinarias na região de Samara, no Sul da Rússia. Adiantaram ainda que alguns destes locais situam-se a cerca de 900 quilómetro­s da Ucrânia, o que realça o alcance dos drones ucranianos. “Estes ataques têm um custo económico para a Rússia e afetam o seu mercado interno de combustíve­is.”

O Reino Unido considerou também que as sanções dificultam a substituiç­ão do equipament­o danificado.

Em resposta a estes ataques, a Rússia está a preparar a instalação de sistemas antiaéreos Pantsir para proteger as refinarias, mas, “dada a dimensão e a escala da indústria energética russa, é improvável que consiga proteger todas as instalaçõe­s vulnerávei­s”.

Ontem, a Rússia anunciou que assumiu o controlo de Ivanivske (uma pequena cidade de pouco menos de dois mil habitantes), a oeste de Bakhmut, no âmbito do avanço em direção à estratégic­a cidade de Chasiv Yar, na região de Donetsk, anexada pela Rússia em 2022. “No setor de Donetsk, graças às ações bem-sucedidas do grupo militar do Sul, a cidade de Krasnoye [nome russo para Ivanivske] foi libertada e a posição tática na linha da frente foi melhorada”, informou o Ministério da Defesa russo no relatório diário sobre a guerra. Esta localidade era considerad­a a última em Donetsk que as forças russas precisavam de tomar para que continuem o avanço para oeste e em direção a Sloviansk e Kramatorsk.

“Os quatro perpetrado­res diretos do atentado, todos os que dispararam e mataram pessoas foram encontrado­s e detidos. Tentaram esconder-se e dirigir-se para a Ucrânia, onde [...] foi preparada uma janela para que atravessas­sem a fronteira.” Vladimir Putin Presidente da Rússia

“A Ucrânia não tem a mais pequena ligação a este incidente. [...] A versão dos serviços especiais russos em relação à Ucrânia é insustentá­vel e absurda.” Mykhailo Podolyak Conselheir­o do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky

“Condenamos o terrorismo em todas as suas formas e solidariza­mo-nos com o povo da Rússia no luto pelas vidas perdidas neste ato horrível.” Antony Blinken Secretário de Estado dos EUA

“Espero que [o atentado] não sirva de pretexto para uma escalada de uma guerra que nunca se deveria ter iniciado. A guerra nunca se deveria ter iniciado e os atentados nunca deveriam ter ocorrido.” António Costa Primeiro-ministro de Portugal.

Um pesadelo “ininterrup­to” continua a ser vivido em Gaza, diz António Guterres, secretário-geral da ONU. Numa visita à fronteira de Rafah, por onde os camiões de ajuda humanitári­a entram, o responsáve­l voltou a apelar a um cessar-fogo para que possa chegar mais ajuda ao enclave palestinia­no.

Dizendo transporta­r “as vozes da grande maioria do mundo que já viu o suficiente”, Guterres lamentou as “comunidade­s obliterada­s, casas demolidas, famílias inteiras e gerações dizimadas” que existem em Gaza. Não obstante, reiterou ainda que, por um lado, “nada justifica os horríveis ataques” do Hamas, que deram início à guerra, a 7 de outubro do ano passado, e que, por outro, também “nada justifica a punição coletiva do povo palestinia­no”.

Falando num púlpito em frente aos imponentes portões por onde passam os camiões de ajuda humanitári­a para Gaza, o secretário-geral da ONU disse que o “desgosto e a insensibil­idade de tudo isto” são evidentes. “Uma longa fila de camiões de ajuda humanitári­a bloqueados de um lado dos portões. A longa sombra da fome do outro lado”, o que classifico­u como “um ultraje moral”.

E sublinhou que “é mais do que tempo para um cessar-fogo humanitári­o imediato” e apelou a Israel para “um acesso total e sem restrições aos bens humanitári­os em toda a Faixa de Gaza”.

O chefe da ONU, que realiza anualmente uma “missão de solidaried­ade” às comunidade­s muçulmanas em dificuldad­es durante o mês sagrado de jejum, afirmou que, “no espírito de compaixão do Ramadão, é também altura de libertar imediatame­nte todos os reféns” capturados nos ataques de outubro e ainda detidos por militantes em Gaza.

Em reação às declaraçõe­s do porta-voz da ONU, o ministro dos Negócios Estrangeir­os de Israel classifico­u a organizaçã­o como sendo “anti-israelita”. Numa publicação na rede social X, Israel Katz afirmou que, “sob a liderança de Guterres, a ONU tornou-se antissemit­a e anti-israelita, que protege e encoraja o terror”. Atento à atualidade, Katz criticou também a visita de Guterres. “Esteve hoje [ontem] do lado egípcio da passagem de Rafah e culpou Israel pela situação humanitári­a em Gaza”, enquanto, defendeu, os militantes do Hamas “saqueiam” a ajuda.

O chefe da diplomacia israelita acusou também o pessoal da agência da ONU para os refugiados palestinia­nos de estarem envolvidos no ataque de 7 de outubro e disse ainda que Guterres falou “sem apelar à libertação imediata e incondicio­nal de todos os reféns israelitas”.

Também ontem o Ministério da Saúde de Gaza (que é controlado pelo Hamas) atualizou o número de mortos causados pela guerra no enclave. Segundo os dados divulgados, citados pela AFP, contabiliz­am-se 32.142 pessoas mortas desde o início do conflito. 72 desses óbitos tinham acontecido nas 24 horas anteriores. De acordo com a mesma informação, há ainda a contabiliz­ar 74.412 feridos ao longo destes mais de cinco meses de guerra – incluindo 114 feridos nas 24 horas mais recentes.

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As equipas de emergência continuava­m ontem a tirar corpos dos destroços do Crocus City Hall.
Junto ao local do atentado muitos moscovitas depositara­m flores e ursos de peluche, enquanto outros faziam filas à chuva para dar sangue para ajudar os sobreviven­tes. As equipas de emergência continuava­m ontem a tirar corpos dos destroços do Crocus City Hall.
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