A jovem estrela que brilha na cozinha
Rita Magro foi distinguida com o Prémio Jovem Chef na gala do Guia Michelin, que se realizou recentemente no Algarve, região onde iniciou o seu percurso profissional. Nos últimos anos tem estado no Porto, onde é responsável pelo restaurante Blind.
O irmão é o grande culpado, quando começou “a fazer coisas inovadoras” lá em casa, em Coimbra. Rita começou a interessar-se e juntou-se a essas incursões culinárias.
Foi há poucos dias que Rita Magro teve o seu grande momento de glória, quando subiu ao palco para receber o Prémio Jovem Chef do Guia Michelin. Na gala, realizada no Algarve, desfilaram pelo palco muitos chefs de cozinha, a grande maioria homens. “Nós, mulheres, temos dificuldade em agarrar o protagonismo. Eu tinha vergonha de ser o foco da atenção”, avalia a jovem, de 27 anos, chef do restaurante Blind, no Porto. Com o tempo percebeu que há que “mostrar o que se vale” e transformar todas as experiências numa aprendizagem. É o que tem feito desde que decidiu que o seu futuro passava pela cozinha.
“Não tenho uma história muito bonita”, diz quando se lhe pergunta como entrou neste mundo, como se a expectativa fosse de romantismo. O irmão é o grande culpado, quando começou “a fazer coisas inovadoras” lá em casa, em Coimbra. Rita começou a interessar-se e juntou-se a essas incursões culinárias. Nada digno de registo para a posteridade. “Eram coisas aleatórias, sem sentido. Era olhar para o frigorífico, ver o que havia e fazer”, conta, considerando até que “hoje em dia até é um bocado parvo” pensar naquilo que ambos confecionavam.
O certo é que o irmão não seguiu esta área – dedicou-se ao design –, enquanto ela ficou com o bichinho. “Estava no 11.º ano de escolaridade e já sabia que queria cozinhar”, ao ponto de se ter desleixado nos estudos e pensado em desistir. Mas ganhou juízo, como ela própria diz, e tirou o curso de Fisioterapia. Estudou Gestão e Produção de Cozinha na Escola de Hotelaria e Turismo de Coimbra.
O primeiro estágio, de três meses, ainda a meio do curso, levou-a até ao Algarve, a um dos restaurantes do Vila Vita Parc. Não foi fácil. O estar tão longe de casa, sozinha e com saudades fizeram desta uma experiência difícil de digerir. Boa, mas difícil. Mas voltou, uns tempos depois, já no fim do curso e para um outro restaurante, mais exigente, daquele resort. “Não desiludiu”, diz.
Rumo ao Norte
Só que o Algarve continuava muito longe de casa e no inverno era calmo demais. Rumou então ao Solpoente, em Aveiro, onde trabalhou com o chef Duarte Eira, aprendiz de Vítor Matos, que Rita vê hoje como a sua grande referência na gastronomia. É com ele que vai depois trabalhar no Antiqvvm (agora distinguido com a segunda estrela Michelin) e atualmente no Blind, pois é ele o Blind Master e chef consultor deste projeto de fine dining do Torel Palace Porto.
Um projeto diferente, inspirado no livro Ensaio sobre a Cegueira, de José Saramago, em que a refeição é degustada sob uma luz ténue, para ter todos os outros sentidos bem apurados. “Fazer o que é a nossa paixão todos os dias e ver que os nossos clientes saem felizes com isso é o que nos dá maior satisfação”, diz Rita Magro, que “quer fazer mais e melhor” desde que foi distinguida pelo Guia Michelin com o Prémio Jovem Chef.
Nesse final de tarde em Albufeira, quando ainda não se conheciam os resultados, o ministro da Economia, António Costa Silva, confessou que gostaria muito de ver uma mulher a ser distinguida com uma estrela Michelin. Isso não aconteceu, mas, além do prémio atribuído a Rita Magro, outras seis mulheres estão nos 21 restaurantes recomendados pelo Guia e duas entre os oito classificados como Bib Gourmand (boa relação qualidade/preço) deste ano.
“Não devemos ter vergonha de nos chegarmos à frente e mostrarmos o que valemos”, conclui Rita Magro.