O negócio corre bem à banca
Apolítica de juros altos impulsionou a banca, com lucros recorde em Portugal de 12 milhões de euros por dia em 2023. O resultado líquido dos seis maiores bancos subiu cerca de 70% de um ano para o outro, alcançando os 4,3 mil milhões de euros – uma folga que contrasta com o aperto das famílias para pagar a prestação do crédito à habitação que subiu em flecha, precisamente com a subida dos juros para combater a inflação elevada. Daí que o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, tenha explicado, mais uma vez, que são “resultados que fogem um pouco ao que foi o passado recente da banca” e que permitem corrigir anos anteriores de prejuízos.
Nos últimos 10 anos a digitalização do setor bancário – que em grande parte se deve à aceleração a que as fintechs vieram obrigar – e a mudança de hábitos dos clientes levaram a que metade dos balcões fechasse ou reduzisse a sua operação (uns anos antes tínhamos assistido precisamente ao contrário, a um grande aumento do número de balcões). O emagrecimento nesta década levou ainda à saída de 12 mil trabalhadores, pelas contas feitas pelo DN/Dinheiro Vivo. Os sindicatos, ainda assim, apontam como justificação para o corte nas despesas com pessoal a “obsessão [da banca] com o lucro”.
Do lado do cliente, quando os resultados eram maus, aumentavam-se as comissões bancárias. Mas o reequilíbrio deveria existir logo que se alcançassem lucros, mais ainda com lucros recorde. A “almofada” conseguida não serve apenas para robustecer a banca, deve ter um sentido de justiça social, baixando de facto as comissões. Não basta descidas marginais. O otimismo das famílias, apesar dos sinais de descida das taxas de juro na habitação, é muito tímido.
Ainda que de formas diferentes e com pesos distintos, a responsabilidade social, no entanto, não se cinge apenas à banca. Deve ser partilhada também pelo Estado. Os lucros “extraordinários” da banca no ano de 2023 também encheram os cofres públicos. Em conjunto, os cinco maiores bancos em Portugal pagaram 1,47 mil milhões de euros de IRC (mas há mais impostos sobre os lucros da banca), o dobro do ano anterior. Impõem-se a pergunta: o que fazer com uma parte deste dinheiro arrecadado? Desde logo, aqui, através da coleta de impostos “extraordinários”, as políticas públicas têm de ser claras na sua aplicação, devendo beneficiar os contribuintes com medidas concretas na melhoria das suas condições, em particular, e da sociedade, em geral.
Não se pode olhar para a banca como um “bicho-papão” ou deixá-la refém de populismos partidários, como muitas vezes assistimos em anos de resultados positivos. A solidez do setor é desejável para impulsionar a economia nacional e o sistema financeiro – dela dependem em larga medida o investimento privado e os estímulos ao consumo. Agora, este não pode é ser o ano em que todos ganham (batendo recordes) com o negócio da banca menos os clientes (geralmente são penalizados), que até nas suas poupanças sofrem com os juros dos depósitos abaixo da remuneração da média europeia. Em suma, resultados positivos na banca exigem maior responsabilização e consciência social.
Do lado do cliente, quando os resultados eram maus, aumentavam-se as comissões bancárias. Mas o reequilíbrio deveria existir logo que se alcançassem lucros. A “almofada” não serve apenas para robustecer a banca, deve ter um sentido de justiça social, baixando de facto as comissões.