O “perigoso” braço-de-ferro, as “irritações” e o “receio” de eleições
O primeiro dia na nova legislatura, a XVI, reforçou o cenário considerado “provável” de eleições legislativas antecipadas no “final do ano” por “estratégia” do Chega. A probabilidade de o Orçamento do Estado da AD ser chumbado pelo Chega é um cenário que
A“sensação” já percorria os Passos Perdidos e a manhã ainda ia a meio. A postura “de papo cheio” – expressão referida por recém-eleitos parlamentares do PSD – dos deputados do Chega começava a criar “irritação”.
Entre deputados socialistas surgiam conversas de que “isto não vai durar até final do ano” sem que ninguém imaginasse sequer, àquela hora, a reviravolta de um acordo anunciado por André Ventura [Chega votaria no candidato do PSD, o PSD votaria no candidato do Chega] e as trocas de acusações sobre coligações “negativas” e “positivas”.
A constatação, e nalguns casos a manifestação de “receios democráticos”, apontava para “final do ano”, “muito provavelmente em outubro”, por alturas do Orçamento do Estado, para a queda do governo de Luís Montenegro e Nuno Melo.
“Até lá”, diz um deputado socialista, “vamos ter uma trituradora [ou seja, o Chega] a pressionar o PSD até aos limites e a tentar colar-nos ao PSD”.
“Vai ser um constante braço de ferro”, admite-se nos sociais-democratas, com “manifestações de força, afinal são 50 deputados que podem bloquear muita coisa, e o apontar de culpas por tudo e por nada a PSD e PS”.
É esta “constatação” que deixa apreensivos alguns deputados socialistas. “É um caminho perigoso que pode levar a novas eleições, essas sim perigosas porque eles [o Chega] vão culpar o PSD e o PS pelo descalabro. Se isso acontecer nada nos garante que eles não ganhem as eleições”.
Outros, que admitem este cená
Foram vários os momentos em que dirigentes da esquerda se encontraram para conversar. Neste caso também com Hugo Soares do PSD.
rio como “provável”, consideram que “está nas nossas mãos evitar que isto vá por este caminho. Temos que assumir um sentido de responsabilidade, ter sentido de Estado, e se for preciso não deixar cair o PSD desta forma e fazermos frente ao Chega”.
Não deixar cair significa o quê? “Negociar, encontrar entendimentos, aprovar o Orçamento do Estado, travar os populismos. Mas, atenção, tem que haver no PSD exatamente a mesma postura. É que isto não coloca em causa apenas um dos partidos. Coloca em causa o país, a democracia”, explica um deputado.
Entre as esquerdas, em particular no PCP, há a “quase certeza” de que “outros interesses, os económicos,
se levantam, já se levantaram, e vão deixar que isto se mantenha”. E o “isto” é uma governação “à direita” apesar do “não, é não” de Luís Montenegro ao Chega. Daí que Paulo Raimundo, secretário-geral do partido, já tenha dito não haver no PCP a “mínima tolerância ao projeto da direita”.
A tese dos “interesses económicos”, ontem reafirmada, já tinha sido sustentada por Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, quando em entrevista ao DN e à TSF elencou a lista de empresas e empresários que são, garantiu, os financiadores do partido de André Ventura.
A “farsa política”, como a define Rui Tavares, deputado e porta-voz do Livre, chama-se “Chega”.