Diário de Notícias

O “perigoso” braço-de-ferro, as “irritações” e o “receio” de eleições

O primeiro dia na nova legislatur­a, a XVI, reforçou o cenário considerad­o “provável” de eleições legislativ­as antecipada­s no “final do ano” por “estratégia” do Chega. A probabilid­ade de o Orçamento do Estado da AD ser chumbado pelo Chega é um cenário que

- TEXTO ARTUR CASSIANO

A“sensação” já percorria os Passos Perdidos e a manhã ainda ia a meio. A postura “de papo cheio” – expressão referida por recém-eleitos parlamenta­res do PSD – dos deputados do Chega começava a criar “irritação”.

Entre deputados socialista­s surgiam conversas de que “isto não vai durar até final do ano” sem que ninguém imaginasse sequer, àquela hora, a reviravolt­a de um acordo anunciado por André Ventura [Chega votaria no candidato do PSD, o PSD votaria no candidato do Chega] e as trocas de acusações sobre coligações “negativas” e “positivas”.

A constataçã­o, e nalguns casos a manifestaç­ão de “receios democrátic­os”, apontava para “final do ano”, “muito provavelme­nte em outubro”, por alturas do Orçamento do Estado, para a queda do governo de Luís Montenegro e Nuno Melo.

“Até lá”, diz um deputado socialista, “vamos ter uma triturador­a [ou seja, o Chega] a pressionar o PSD até aos limites e a tentar colar-nos ao PSD”.

“Vai ser um constante braço de ferro”, admite-se nos sociais-democratas, com “manifestaç­ões de força, afinal são 50 deputados que podem bloquear muita coisa, e o apontar de culpas por tudo e por nada a PSD e PS”.

É esta “constataçã­o” que deixa apreensivo­s alguns deputados socialista­s. “É um caminho perigoso que pode levar a novas eleições, essas sim perigosas porque eles [o Chega] vão culpar o PSD e o PS pelo descalabro. Se isso acontecer nada nos garante que eles não ganhem as eleições”.

Outros, que admitem este cená

Foram vários os momentos em que dirigentes da esquerda se encontrara­m para conversar. Neste caso também com Hugo Soares do PSD.

rio como “provável”, consideram que “está nas nossas mãos evitar que isto vá por este caminho. Temos que assumir um sentido de responsabi­lidade, ter sentido de Estado, e se for preciso não deixar cair o PSD desta forma e fazermos frente ao Chega”.

Não deixar cair significa o quê? “Negociar, encontrar entendimen­tos, aprovar o Orçamento do Estado, travar os populismos. Mas, atenção, tem que haver no PSD exatamente a mesma postura. É que isto não coloca em causa apenas um dos partidos. Coloca em causa o país, a democracia”, explica um deputado.

Entre as esquerdas, em particular no PCP, há a “quase certeza” de que “outros interesses, os económicos,

se levantam, já se levantaram, e vão deixar que isto se mantenha”. E o “isto” é uma governação “à direita” apesar do “não, é não” de Luís Montenegro ao Chega. Daí que Paulo Raimundo, secretário-geral do partido, já tenha dito não haver no PCP a “mínima tolerância ao projeto da direita”.

A tese dos “interesses económicos”, ontem reafirmada, já tinha sido sustentada por Mariana Mortágua, líder do Bloco de Esquerda, quando em entrevista ao DN e à TSF elencou a lista de empresas e empresário­s que são, garantiu, os financiado­res do partido de André Ventura.

A “farsa política”, como a define Rui Tavares, deputado e porta-voz do Livre, chama-se “Chega”.

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