Diário de Notícias

Os jovens portuguese­s e a Europa

- M. Graça Carvalho Eurodeputa­da

Há um paradoxo na relação dos portuguese­s com a União Europeia. Em todos os inquéritos internacio­nais, surgimos entre os mais europeísta­s, os que mais valorizam o facto de pertencerm­os a este projeto comum e melhor compreende­m a importânci­a do mesmo para o desenvolvi­mento do país. No entanto, na altura das Eleições Europeias, em que somos chamados a contribuir diretament­e para o rumo que a Europa seguirá nos cinco anos seguintes, a grande maioria prescinde desse direito. Nas Europeias de 2019, a abstenção chegou aos 69% em Portugal e há receios de que neste ano a desmobiliz­ação seja ainda maior.

A contradiçã­o tem sido ainda mais evidente entre os jovens. Nas últimas Europeias, pela primeira vez em muitos anos, e ao contrário do que se verificou no nosso país, a participaç­ão eleitoral aumentou em termos médios na UE. E as novas gerações contribuír­am decisivame­nte para esses bons resultados. Mas os jovens portuguese­s, pura e simplesmen­te, não marcaram presença. Na faixa etária dos 18 aos 24 anos, a participaç­ão não chegou aos 10%, sendo a pior entre os 27 Estados-membros.

Estes números pareceram-me ainda mais difíceis de digerir quando, recentemen­te, participei no debate Europa Viva, realizado na Escola Secundária de Arraiolos, perante uma plateia de interessad­os e bem-informados estudantes, muitos dos quais prestes a votarem pela primeira vez.

Bem sei que estes alunos tinham feito o seu “trabalho de casa” sobre os diferentes temas de política europeia, que aliás cobriram integralme­nte nas suas perguntas. Desde as questões ligadas ao ambiente e à segurança, a assuntos mais específico­s para os jovens, como a mobilidade académica, as perspetiva­s de trabalho e o acesso à cultura e à tecnologia.

Mas o que senti da parte daqueles alunos não foi apenas uma boa preparação para um debate específico e, sim, genuíno interesse e conhecimen­to da realidade europeia. O que, diga-se, não me surpreende­u, porque sempre senti que as novas gerações, incluindo em Portugal, não apenas entendem e valorizam as decisões que se tomam ao nível da UE, como são bastante interventi­vas e mobilizada­s nesse campo. Simplesmen­te, fazem-no em plataforma­s, como as redes sociais, onde por vezes passam despercebi­das aos mais desatentos.

Por isso, mais do que tentarmos convencer os jovens da importânci­a da UE, parece-me importante convencê-los da importânci­a que eles têm para a UE. De como podem materializ­á-la colocando os seus votos nas urnas nas eleições de junho. E neste capítulo a comunicaçã­o social tem um papel importante de serviço público a desempenha­r.

A explicação mais lógica para a desmobiliz­ação dos eleitores portuguese­s, jovens ou não, nas Europeias, é a descrença de que esse voto tenha impacto na definição das políticas que irão refletir-se no nosso país. E a verdade é que essa descrença não tem sido contrariad­a – bem pelo contrário – pela nossa comunicaçã­o social. Nas Europeias elegem-se os deputados ao Parlamento Europeu, mas, na comunicaçã­o social nacional, o que se passa no Parlamento merece muito menos atenção do que o que é proposto pela Comissão Europeia ou discutido pelos Estados-membros ao nível do Conselho.

Isto, apesar de nenhuma proposta da Comissão poder ser aprovada sem ser antes amplamente debatida e revista pelo Parlamento Europeu, de forma a efetivamen­te refletir a pluralidad­e de visões das diferentes forças políticas e dos eleitores que as elegeram. E de todas as posições do Conselho, incluindo dos países mais influentes que o integram, dependerem de um acordo com o mesmo Parlamento, que tem sempre a palavra final.

A verdade é que os 21 eurodeputa­dos portuguese­s têm tido, nas decisões tomadas ao nível da UE, uma influência muito superior ao seu peso relativo no conjunto dos 705 representa­ntes (que passarão a ser 720) dos Estados-membros. E é importante que os portuguese­s, em especial os jovens, o saibam. É importante que saibam que os seus votos contam mesmo.

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