Grande Lisboa é a zona do país com mais escassez de reservas de sangue
Instituto Português do Sangue e Transplantação apela às dádivas. Lisboa, por ter maior concentração de grandes hospitais, está mais exposta à falta de sangue.
Celebra-se hoje o Dia Nacional do Dador de Sangue. O último Relatório de Atividade Transfusional e Sistema Português de Hemovigilância, do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), data de 2022. À época estavam inscritos 373 209 dadores de sangue mas somente 203 287 dadores realizaram dádiva de sangue.
A Região da Grande Lisboa será a mais afetada pela falta de sangue. “A gestão das reservas de sangue é feita em rede, a nível nacional. A zona da Grande Lisboa, face ao número de hospitais de grande dimensão, é uma área do território que, em primeira instância, requer uma maior atenção para a escassez de componentes sanguíneos”.
O sangue é um elemento biológico essencial à vida e que não pode ser fabricado. Daí as dádivas serem essenciais. “O sangue não se produz artificialmente, só o ser humano o pode doar. A dádiva de sangue é um ato voluntário, benévolo, altruísta e não-remunerado”, explica, ao DN, Maria Antónia Escoval, presidente do IPST.
Apesar de todas as campanhas continua a ser um bem escasso. “Na presente data, 25 de março [dia em que o DN interpelou o IPST] as reservas de sangue e componentes sanguíneos do IPST situam-se entre os cinco dias para A positivo, 0 positivo e B negativo. Seis dias para 0 negativo e 40 dias para AB”, prossegue esta responsável. “Os dias de reserva, considerando as existências nos hospitais, situam-se entre os dez dias para A positivo, 18 dias para 0 negativo e os 40 dias para AB positivo”.
Todos os dias são precisas novas dádivas, sobretudo tendo em conta que os homens só podem dar sangue de três em três meses e as mulheres de quatro em quatro. “Os hospitais portugueses precisam, em média, de 1100 unidades de sangue por dia para tratar os doentes”, afiança Maria Antónia Escoval. E recorda que o sangue tem prazo de validade. “Os componentes sanguíneos têm uma validade limitada (concentrado eritrocitário 42 dias e as plaquetas entre cinco a sete dias), pelo que a necessidade de componentes sanguíneos é permanente”. E acrescenta, em jeito de apelo aos eventuais dadores: “Atualmente, os grupos mais deficitários são: A positivo, A negativo, 0 positivo e 0 negativo”.
Em caso de acidente ou situação de emergência, se não for possível determinar o grupo sanguíneo, há um que é “dador universal”, ou seja, serve para todos os doentes. “O dador universal é o 0 negativo, sendo que este é utilizado quando o doente só pode receber 0 negativo ou em emergências, em que não é possível determinar em tempo útil o grupo sanguíneo do doente”.
Mas, lá está, e mais uma vez em jeito de apelo, Maria Antónia Escoval sublinha: “Todas as pessoas saudáveis podem dar sangue e todos os tipos são necessários.”
No entanto, por muito boa vontade que se tenha, nem todas as pessoas podem ser dadoras de sangue. Maria Antónia Escoval indica quais os elegíveis para dadores: “As condições essenciais para ser dador de sangue são: ter entre 18 e 65 anos – o limite para a primeira dádiva são os 60 anos –, ter peso igual ou superior a 50 quilos e ter hábitos de vida saudável. A aprovação para a dádiva de sangue é feita no local da colheita por um profissional de saúde qualificado.”
Neste dia enfatiza-se, ainda, a contínua falta de sangue. E os motivos são vários: “O sangue é um bem escasso obtido a partir de dádivas benévolas. Atualmente, existe um conjunto de situações que afetam diretamente a estabilidade das reservas de sangue: o envelhecimento da população, doenças emergentes, alterações climáticas e das dinâmicas sociais resultantes do pós-pandemia, nomeadamente o alargamento do teletrabalho.”
Por isso, o apelo sucessivo é para as dádivas. “O medo das agulhas é uma situação recorrente como obstáculo para a dádiva de sangue. Porém, caso o candidato esteja tranquilo e devidamente hidratado, o desconforto da punção é transitório e poderá fazer a sua dádiva normalmente”, esclarece Maria Antónia Escoval.
“O medo das agulhas é (...) recorrente como obstáculo para a dádiva de sangue. Porém, caso o candidato esteja tranquilo (...) o desconforto da punção (...) é transitório.” Maria Antónia Escoval Presidente do IPST