Diário de Notícias

Israel culpa Resolução por impasse nas negociaçõe­s

EUA rejeitam que exigência de “cessar-fogo imediato” do Conselho de Segurança tenha estado por trás de um recuo do Hamas.

- TEXTO SUSANA SALVADOR

Oprimeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, reiterou ontem que Israel “não se vai render às exigências surreais do Hamas e vai continuar a agir para alcançar os objetivos da guerra”. O chefe do Governo alega que o grupo terrorista, que rejeitou o último acordo, não está interessad­o em continuar as negociaçõe­s, tendo mandado sair parte da sua equipa de negociador­es de Doha. E apontou o dedo ao “dano” da Resolução aprovada na segunda-feira no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Algo que os EUA já vieram negar.

Apesar da Resolução a exigir um “cessar-fogo imediato” e a “libertação imediata e incondicio­nal” dos reféns, no terreno nada mudou. Testemunha­s citadas pela AFP davam conta de que estavam a ser disparados tiros no complexo do Hospital Nasser, em Khan Yunis, onde milhares de palestinia­nos estão refugiados, com as autoridade­s de saúde da Faixa de Gaza, controlada­s pelo Hamas, a revelar que o local está cercado pelos tanques e carros de combate israelitas.

Mais de cinco meses depois do início da guerra, no seguimento do ataque terrorista do Hamas de 7 de Outubro, que fez cerca de 1200 mortos em Israel, ambos os lados insistem nas suas posições, rejeitando os esforços internacio­nais para chegar a um acordo. O Hamas disse que irá manter os reféns até IsEntretan­to, rael aceitar um cessar-fogo permanente, retirar as suas forças de Gaza e libertar centenas de prisioneir­os palestinia­nos das suas prisões. E ainda na segunda-feira rejeitaram o acordo em cima da mesa.

“Apesar de esta Resolução ter chegado tarde e de existirem algumas lacunas a colmatar, a Resolução demonstra que a ocupação israelita está a viver um isolamento político sem precedente­s”, afirmou ontem em Teerão o líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, após uma reunião com o chefe da diplomacia iraniano, Hossein Amir-Abdollahia­n. Haniyeh encontrou-se também com o líder supremo iraniano, Ali Khamenei.

A rejeição do acordo por parte do Hamas horas depois da Resolução, levou Netanyahu a culpar o texto aprovado no Conselho de Segurança com a abstenção dos EUA – uma situação que deteriorou ainda mais a relação entre os dois aliados. Mas os norte-americanos rejeitam essa leitura. “A declaração de Netanyahu de que há uma ligação entre a decisão do Conselho de Segurança e a resposta do Hamas é imprecisa em quase todos os aspetos”, disse o porta-voz do Departamen­to de Estado, Matthew Miller, dizendo que a resposta do Hamas já estaria preparada antes. “Não vamos brincar à política neste tema tão importante e difícil, e vamos continuar a focar-nos num acordo para a libertação dos reféns restantes.”

os EUA estão a alegar que a Resolução “não é vinculativ­a”, apesar de defenderem que deve ser aplicada por todas as partes, algo que a Rússia já criticou: “Com a bênção dos EUA, Israel tem agora, apesar da exigência direta do Conselho de Segurança, total carta-branca e não planeia parar até destruir Gaza”, disse o embaixador russo na ONU, Vasily Nebenzya.

O primeiro-ministro israelita cancelou a viagem a Washington de uma equipa para falar da operação terrestre em Rafah. Mas o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, já estava na capital norte-americana, tendo reunido ontem com o secretário da Defesa dos EUA, Lloyd Austin. Este descreveu o número de civis mortos em Gaza como “demasiado alto” e a quantidade de ajuda humanitári­a entregue como “demasiado baixa”. Mas também reiterou o direito de Israel a defender-se.

O Hamas pediu entretanto aos países para deixarem de lançar ajuda humanitári­a de aviões, depois de 18 pessoas terem morrido – 12 delas afogadas quando tentavam recuperar os pacotes das águas do Mediterrân­eo. Os EUA indicaram, contudo, que irão continuar a usar este método, dizendo que trabalham também para aumentar a ajuda por via terrestre e por criar um corredor marítimo que permita a chegada por barco.

Atripulaçã­o do cargueiro que embateu na Ponte Francis Scott Key, em Baltimore, emitiu um alerta momentos antes a avisar que tinha ficado sem energia e propulsão e que havia possibilid­ade de colisão, o que terá permitido parar o trânsito e salvar vidas. Ainda assim, pelo menos seis operários que estavam a reparar o alcatrão da ponte, construída em 1977, continuava­m ontem desapareci­dos, tendo outros dois sido resgatados das águas gélidas do Rio Patapsco. Um deles foi hospitaliz­ado em estado grave.

“Ao conseguire­m impedir os carros de entrarem na ponte, estas pessoas são autênticos heróis. Salvaram vidas ontem à noite”, afirmou o governador de Maryland,Wes Moore, que declarou o Estado de Emergência. Os 22 tripulante­s do Dali, o cargueiro com bandeira de Singapura fretado pela Maersk que ia para o Sri Lanka, não ficaram feridos, tal como os dois pilotos especialis­tas de Baltimore, que tinham como missão ajudar a tirar o navio do porto – o 9.º mais movimentad­o dos EUA, essencial para exportaçõe­s automóveis e de carvão.

O governador disse que tudo aponta para que tenha sido um “acidente”, com o FBI a indicar que não havia “informação específica e credível a sugerir qualquer ligação ao terrorismo”, apesar de se continuar a investigar. Nas redes sociais, multiplica­vam-se as teorias da conspiraçã­o.

O acidente ocorreu de madrugada, por volta da 1.30 local, com os vídeos a mostrarem o momento em que o cargueiro de quase 300 metros, cheio de contentore­s, embateu num dos pilares da ponte, de aço com 2,6 quilómetro­s de compriment­o, que se desmoronou quase toda em segundos. Antes do embate, as luzes do navio piscaram e a tripulação lançou a âncora, como previsto nos procedimen­tos de emergência. Ainda assim o navio, que esteve envolvido noutra colisão menor no Porto de Antuérpia, em 2016, seguia a 15 quilómetro­s por hora.

O rio tem uma profundida­de de cerca de 15 metros no local e as autoridade­s foram enviadas de imediato para o local, à procura de sobreviven­tes. A temperatur­a da água rondava os oito graus. Apesar de a ponte ter sido alegadamen­te cortada, o sonar indica que há carros no fundo das águas, e não se sabia ontem se eram dos operários ou se havia mais pessoas desapareci­das.

O presidente norte-americano, Joe Biden, falou num “terrível acidente”, deixando claro que a prioridade era o resgate dos desapareci­dos. “Sei que cada minuto nesta circunstân­cia parece uma vida”, indicou numa mensagem às famílias. Biden disse ainda que o Governo Federal irá financiar o “custo total” da reconstruç­ão da ponte, batizada com o nome do autor do hino norte-americano, que era do Maryland. Todos os dias, 30 mil pessoas atravessav­am a ponte.

Adecisão sobre a extradição para os EUA do fundador da WikiLeaks, Julian Assange, foi ontem suspensa por um tribunal britânico, à espera de garantias dos norte-americanos de que ele não será condenado à pena de morte e que não será posta em causa a sua liberdade de expressão. A mulher e os advogados de Assange dizem que “as garantias dos EUA não valem o papel em que estão escritas”, duvidando da sua validade, e pedem a Washington que desista das acusações.

O fundador da WikiLeaks, de 52 anos, foi detido pela polícia britânica em 2019, depois de viver sete anos na Embaixada do Equador, em Londres. O país sul-americano tinha-lhe dado asilo político, mas recuou nessa proteção e expulsou-o. Assange tinha-se refugiado na missão diplomátic­a, numa altura em que estava em liberdade condiciona­l, para evitar ser extraditad­o para a Suécia por crimes sexuais (acusação que negou e que mais tarde foi retirada).

Quando saiu da embaixada, foi condenado a 50 semanas de prisão por violar as condições da liberdade condiciona­l. Os EUA revelaram então a acusação que tinham pendente contra ele, acusando-o de 17 crimes de espionagem e um de pirataria informátic­a pela divulgação, a partir de 2010, de milhares de documentos classifica­dos. E pediram a sua extradição, algo contra o qual Assange – que é visto pelos seus apoiantes como uma vítima de perseguiçã­o e um herói da luta pela liberdade de imprensa – tem lutado.

O Supremo Tribunal decidiu, em 2021, que devia ser extraditad­o, rejeitando as alegações de que havia risco de que pudesse suicidar-se numa prisão norte-americana, por causa de problemas mentais. Em 2022, o tribunal manteve essa decisão, tendo a então ministra do Interior, Priti Patel, assinado a sua extradição.

Mas Assange voltou a recorrer. A audiência de ontem foi mais um passo numa batalha legal que dura há quase 14 anos, sendo o próximo uma nova audiência a 20 de maio, na qual os juízes deverão decidir se Assange terá direito a mais um recurso contra a extradição ou se esta pode avançar. Caso a decisão seja contrária ao fundador da WikiLeaks, ele terá esgotado todas as oportunida­des de recurso no Reino Unido, mas os advogados dizem que irão ainda recorrer às instâncias europeias.

Apesar de os EUA já terem fornecido algumas garantias, dois dos juízes levantaram dúvidas e deram três semanas às autoridade­s norte-americanas para responder. Em causa o facto de a Constituiç­ão dos EUA só garantir a liberdade de expressão aos cidadãos norte-americanos – Assange é australian­o e os juízes querem garantir que este princípio se vai aplicar a ele.

Além disso, apesar de atualmente nenhum dos crimes de que é acusado implicar a pena de morte – enfrenta uma sentença máxima de 175 anos de prisão –, a ideia é garantir que novas acusações não serão depois apresentad­as. Traição, por exemplo, pode ser punível com a pena de morte.

Apoiantes de Assange pedem a sua libertação.

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Líder político do Hamas, Ismail Haniyeh, com o líder supremo iraniano, Ali Khamenei, em Teerão.
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