Diário de Notícias

Afinal as princesas falam muito ou falam pouco?

- Carlos Rosa

OTeste de Bechdel é um teste muito popular que mede, nos filmes, o tempo em que duas mulheres estão a partilhar a cena e entram em diálogo, diálogo esse que não pode estar centrado… num homem! Pois bem, há quem tenha ido mais longe e tenha calculado o tempo em que uma mulher participa num diálogo, não sendo relevante a circunstân­cia ou o assunto da conversaçã­o. Mas isto é pior ainda, pois também se mediu o número de palavras ditas por personagen­s masculinas e femininas em cerca de 2000 filmes.

Se os dados recolhidos são dramáticos no cinema, na animação é mais desastroso ainda.

Um grupo de investigad­ores atestou que os homens falam mais frequentem­ente do que as mulheres nos filmes de princesas da Disney. Ao contrário do que seria de prever, diria eu, já que são enredos centrados numa princesa, que é uma personagem feminina. Em 30 filmes da Disney, incluindo a Pixar, os resultados foram bem claros: 22 de 30 destes têm uma maioria de diálogos masculinos. Mesmo em filmes com protagonis­tas femininas, como Mulan, ou Pocahontas. Ou seja, os diálogos são claramente dominados pelo sexo masculino. Veja-se que Mushu, o dragão protetor de Mulan, tem mais 50% de palavras de diálogo do que a própria Mulan, que até é, imagine-se!, a protagonis­ta!

Em Toy Story então, a presença feminina é quase inexistent­e, a modos que a roçar uma quase não-existência! Não acho mal que haja filmes centrados em personagen­s masculinas, e também não acha mal que haja filmes sem personagen­s femininas. Não acho mal, porque o que seria normal num mundo desenvolvi­do e moderno, é que o oposto também acontecess­e: filmes só com mulheres e sobre mulheres. Também os há. Mas quando olhamos para o Excel do cinema de animação, as personagen­s femininas saem claramente a perder. Tanto que até num filme sobre elas, o protagonis­mo no diálogo é dos homens.

Podemos sempre afirmar que há mais guionistas homens, mais produtores homens e mais realizador­es homens. Mas olhe-se para a obra de Hayao Miyazaki, homem, guionista, animador, produtor e realizador, que centrou a maior parte da sua obra fílmica no predomínio da mulher.

Eu diria até, que é tempo de arrumar a peruca, pois já não estamos nos tempos de Shakespear­e, onde eram os homens que representa­vam mulheres, porque estas não cabiam em cena. Mas agora cabem! Pois tal como Miyazaki, para dar protagonis­mo à mulher, basta querermos!

Designer e diretor do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicaçã­o da Universida­de Europeia

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