Afinal as princesas falam muito ou falam pouco?
OTeste de Bechdel é um teste muito popular que mede, nos filmes, o tempo em que duas mulheres estão a partilhar a cena e entram em diálogo, diálogo esse que não pode estar centrado… num homem! Pois bem, há quem tenha ido mais longe e tenha calculado o tempo em que uma mulher participa num diálogo, não sendo relevante a circunstância ou o assunto da conversação. Mas isto é pior ainda, pois também se mediu o número de palavras ditas por personagens masculinas e femininas em cerca de 2000 filmes.
Se os dados recolhidos são dramáticos no cinema, na animação é mais desastroso ainda.
Um grupo de investigadores atestou que os homens falam mais frequentemente do que as mulheres nos filmes de princesas da Disney. Ao contrário do que seria de prever, diria eu, já que são enredos centrados numa princesa, que é uma personagem feminina. Em 30 filmes da Disney, incluindo a Pixar, os resultados foram bem claros: 22 de 30 destes têm uma maioria de diálogos masculinos. Mesmo em filmes com protagonistas femininas, como Mulan, ou Pocahontas. Ou seja, os diálogos são claramente dominados pelo sexo masculino. Veja-se que Mushu, o dragão protetor de Mulan, tem mais 50% de palavras de diálogo do que a própria Mulan, que até é, imagine-se!, a protagonista!
Em Toy Story então, a presença feminina é quase inexistente, a modos que a roçar uma quase não-existência! Não acho mal que haja filmes centrados em personagens masculinas, e também não acha mal que haja filmes sem personagens femininas. Não acho mal, porque o que seria normal num mundo desenvolvido e moderno, é que o oposto também acontecesse: filmes só com mulheres e sobre mulheres. Também os há. Mas quando olhamos para o Excel do cinema de animação, as personagens femininas saem claramente a perder. Tanto que até num filme sobre elas, o protagonismo no diálogo é dos homens.
Podemos sempre afirmar que há mais guionistas homens, mais produtores homens e mais realizadores homens. Mas olhe-se para a obra de Hayao Miyazaki, homem, guionista, animador, produtor e realizador, que centrou a maior parte da sua obra fílmica no predomínio da mulher.
Eu diria até, que é tempo de arrumar a peruca, pois já não estamos nos tempos de Shakespeare, onde eram os homens que representavam mulheres, porque estas não cabiam em cena. Mas agora cabem! Pois tal como Miyazaki, para dar protagonismo à mulher, basta querermos!
Designer e diretor do IADE – Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação da Universidade Europeia