Estreias e regressos estavam a marcar a primeira sessão até chegar o caos
Grande quantidade de novos deputados e os equilíbrios necessários numa legislatura sem maioria absoluta bastariam para a Assembleia da República ter um dia diferente. Luís Montenegro optou pela serenidade e Pedro Nuno Santos pelas conversas com a esquerda
Praticamente uma centena de deputados novos, com escasso ou nenhum conhecimento dos corredores do Palácio de São Bento, garantiria sempre uma dose de desorientação mesmo que a tarde e a noite não tivessem evoluído para o polémico e caótico processo de eleição do presidente da Assembleia da República. Desde a manhã de ontem que novatos, em grande parte do contingente do Chega, se foram misturaram com veteranos, regressados e muitos jornalistas, assessores e funcionários.
Com pouco para fazer antes da hora de almoço, pois a primeira sessão plenária serviu apenas para apontar o deputado comunista António Filipe - regressado após uma legislatura de fora - para conduzir os trabalhos até à eleição do presidente da Assembleia da República, que na altura se antecipava ser pouco atribulada, os representantes eleitos do povo português foram tratar de formalidades na comissão de verificação de incompatibilidades. Entre as novidades que se confirmaram, como a escolha do secretário-geral do PSD, Hugo Soares, para próximo líder do grupo parlamentar - ainda que para já se mantenha Joaquim Miranda Sarmento, que deve ser ministro das Finanças -, persistindo a dúvida quanto ao que Pedro Nuno Santos pretende para a bancada do PS, para já conduzida por Eurico Brilhante Dias, houve momentos simbólicos, como a reposição da placa metálica do grupo parlamentar do CDS-PP (ver texto ao lado) e anúncios que pareciam tranquilos. Como aquele em que AndréVentura revelou os candidatos do Chega a vice-presidente da Assembleia da República, a secretário da mesa e a vice-secretário da mesa, Diogo Pacheco de Amorim, Gabriel Mithá Ribeiro e Pedro Frazão, supostamente consensualizados na véspera com o PSD.
Por esta altura, as maiores preocupações que existiam entre os novos deputados eram questões tão corriqueiras quanto a localização da casa de banho ou do elevador mais próximos, tendo uma das mais jovens eleitas confessado, entre risos, que se iria concentrar em não tropeçar nas escadas quando fosse chamada para depositar na urna o voto no social-democrata Aguiar-Branco, então o único candidato a presidente da Assembleia da República.
Mas não era a única: Salvador Malheiro (do PSD) e Paulo Raimundo
também andaram “perdidos”.
Quando os deputados tomaram os seus lugares num hemiciclo muito renovado, em que todos os grupos parlamentares têm lugar na fila da frente - apenas a deputada única do PAN, Inês de Sousa Real, fica atrás -, notaram-se curiosidades. Desde logo, o facto de os dois deputados do CDS-PP, Nuno Melo e Paulo Núncio, sentados em filas diferentes, serem “enclaves” entre dezenas de eleitos do Chega, com os veteranos da anterior legislatura em destaque, e Rita Matias (que cedeu o lugar de mais nova do Parlamento à colega de bancada Madalena Cordeiro, que tem 20 anos) sentada ao lado de André Ventura.
Ao lado, a Iniciativa Liberal denotava uma arrumação regional, com os “sulistas” Bernardo Blanco, Joana Cordeiro e Rodrigo Saraiva na segunda fila, atrás do líder partidário Rui Rocha e da nova líder parlamentar Mariana Leitão, e os “nortenhos” Carlos Guimarães Pinto, Mário Amorim Lopes e Patrícia Gilvaz mais cima.
Já entre o PSD, com um primeiro-ministro (Luís Montenegro foi muito cumprimentado e primou pela serenidade mesmo quando tudo se complicou), prováveis ministros, um candidato a presidente da Assembleia da República e o futuro líder parlamentar a comandar as hostes, notaram-se momentos de comunicação com a bancada socialista. Hugo Soares esteve a falar longos minutos ao telefone com Pedro Delgado Alves, um dos nomes apontados como seu futuro homólogo, tal como Alexandra Leitão, que também ocupou lugar na primeira fila, perto de Pedro Nuno
Santos. Nas últimas filas estiveram deputados como Francisco Assis, que mais tarde acabaria por ser apresentado como candidato socialista à presidência da Assembleia da República, Sérgio Sousa Pinto ou Francisco César.
Após a confusão gerada pelo falhanço na eleição de Aguiar-Branco, Pedro Nuno Santos optou por conversar no hemiciclo com os representantes dos partidos à esquer
da do PS. Sobretudo com a coordenadora bloquista Mariana Mortágua, mas também com o porta-voz do Livre, Rui Tavares, com o secretário-geral do PCP, Paulo Raimundo, mais discreto num primeiro dia enquanto deputado para mais tarde recordar. Tal como a da antiga eurodeputada bloquista (e candidata presidencial) Marisa Matias, que só ontem se estreou na Assembleia da República.