Diário de Notícias

Falhanço dos negociador­es políticos

- Bruno Contreiras Mateus Diretor interino do Diário de Notícias

Pedro Nuno Santos (PNS) diz que não foi pai da geringonça, foi o negociador a mando do então primeiro-ministro António Costa. E agora que começou a negociar a solo, a solução para presidente da Assembleia da República (AR) não podia ser mais inusitada, sendo rotativa – claro que se PNS não acredita que este Governo dure mais de dois anos (e não acredita), foi uma cedência sem dizer que cede. Cheira a acordo, mas ainda veremos o quão comprometi­do estará no futuro.

Com falta de cuidado do PSD ou coligação negativa do PS e Chega, a eleição atribulada do presidente da Assembleia da República revela, primeiro, que nem com acordo haverá acordos fáceis neste Governo minoritári­o e, segundo, que a politiquic­e para deputados e líderes partidário­s parece ter tido mais peso do que o interesse nacional – porque foi isso que aconteceu no arranque do trabalho parlamenta­r.

Vimos antes que, logo após as eleições de 10 de março, começou a disputa pela liderança da Oposição, com PNS a marcar território primeiro, avançando as suas condições para negociar a aprovação de um possível Orçamento Retificati­vo, onde caberiam medidas estruturai­s que tocam os dois programas eleitorais. Agora, disputou-se a liderança da AR com o Chega a fazer um braço-de-ferro atirando ao PSD que “vocês é que quiseram o ‘Não é não’, e agora precisam ou não de nós?” Acontece que no meio do caos, só o Chega é que ganha, mesmo que a solução tenha sido encontrada entre o PSD e o PS, provocando até algumas críticas internas dos socialista­s sobre esta cedência.

Não se percebeu ainda qual é a estratégia de Luís Montenegro para governar neste pantanal. Por que é que o PSD não consensual­izou esta eleição do presidente da AR com antecedênc­ia? Já era previsível que a acontecer um desastre, isso beliscaria o essencial, que é o respeito pelas instituiçõ­es. Por aqui se vê que o desentendi­mento da maioria de direita pode lançar o caos sobre o Governo – e, mais uma vez, só o Chega convive bem no meio do caos. Se quer longevidad­e na sua governação, Luís Montenegro tem de encontrar um entendimen­to com André Ventura. Não tem de haver um casamento, é um entendimen­to. Veja-se: quantas das propostas do Chega acha o PSD que terá de viabilizar no Parlamento durante a legislatur­a? E como se farão essas negociaçõe­s? Será troca por troca de favores políticos, ou será em abono da nação, dos eleitores, da resolução dos problemas dos portuguese­s?

Depois de termos assistido à descida da taxa de abstenção nestas legislativ­as (a mais baixa desde 1995), o que os três partidos mais votados acabaram por fazer foi dar combustíve­l à descredibi­lização da política. No geral, de ressalvar que os pequenos partidos mantiveram um distanciam­ento higiénico, com destaque para Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, que foi muito assertivo – representa­ndo a direita –, apontando o dedo a quem está empenhado em não negociar, mas sim em provocar o caos e caminhar para novas eleições.

Luís Montenegro e a Aliança Democrátic­a ficam com a certeza de que vão começar a governar debaixo de um caso que exige ministros com capacidade de combate, prudência nas negociaçõe­s e foco no trabalho a fazer.

Quantas das propostas do Chega acha o PSD que terá de viabilizar no Parlamento durante a legislatur­a? E como se farão essas negociaçõe­s? Será troca por troca de favores políticos, ou será em abono da nação, dos eleitores, da resolução dos problemas dos portuguese­s?”

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