Falhanço dos negociadores políticos
Pedro Nuno Santos (PNS) diz que não foi pai da geringonça, foi o negociador a mando do então primeiro-ministro António Costa. E agora que começou a negociar a solo, a solução para presidente da Assembleia da República (AR) não podia ser mais inusitada, sendo rotativa – claro que se PNS não acredita que este Governo dure mais de dois anos (e não acredita), foi uma cedência sem dizer que cede. Cheira a acordo, mas ainda veremos o quão comprometido estará no futuro.
Com falta de cuidado do PSD ou coligação negativa do PS e Chega, a eleição atribulada do presidente da Assembleia da República revela, primeiro, que nem com acordo haverá acordos fáceis neste Governo minoritário e, segundo, que a politiquice para deputados e líderes partidários parece ter tido mais peso do que o interesse nacional – porque foi isso que aconteceu no arranque do trabalho parlamentar.
Vimos antes que, logo após as eleições de 10 de março, começou a disputa pela liderança da Oposição, com PNS a marcar território primeiro, avançando as suas condições para negociar a aprovação de um possível Orçamento Retificativo, onde caberiam medidas estruturais que tocam os dois programas eleitorais. Agora, disputou-se a liderança da AR com o Chega a fazer um braço-de-ferro atirando ao PSD que “vocês é que quiseram o ‘Não é não’, e agora precisam ou não de nós?” Acontece que no meio do caos, só o Chega é que ganha, mesmo que a solução tenha sido encontrada entre o PSD e o PS, provocando até algumas críticas internas dos socialistas sobre esta cedência.
Não se percebeu ainda qual é a estratégia de Luís Montenegro para governar neste pantanal. Por que é que o PSD não consensualizou esta eleição do presidente da AR com antecedência? Já era previsível que a acontecer um desastre, isso beliscaria o essencial, que é o respeito pelas instituições. Por aqui se vê que o desentendimento da maioria de direita pode lançar o caos sobre o Governo – e, mais uma vez, só o Chega convive bem no meio do caos. Se quer longevidade na sua governação, Luís Montenegro tem de encontrar um entendimento com André Ventura. Não tem de haver um casamento, é um entendimento. Veja-se: quantas das propostas do Chega acha o PSD que terá de viabilizar no Parlamento durante a legislatura? E como se farão essas negociações? Será troca por troca de favores políticos, ou será em abono da nação, dos eleitores, da resolução dos problemas dos portugueses?
Depois de termos assistido à descida da taxa de abstenção nestas legislativas (a mais baixa desde 1995), o que os três partidos mais votados acabaram por fazer foi dar combustível à descredibilização da política. No geral, de ressalvar que os pequenos partidos mantiveram um distanciamento higiénico, com destaque para Rui Rocha, líder da Iniciativa Liberal, que foi muito assertivo – representando a direita –, apontando o dedo a quem está empenhado em não negociar, mas sim em provocar o caos e caminhar para novas eleições.
Luís Montenegro e a Aliança Democrática ficam com a certeza de que vão começar a governar debaixo de um caso que exige ministros com capacidade de combate, prudência nas negociações e foco no trabalho a fazer.
Quantas das propostas do Chega acha o PSD que terá de viabilizar no Parlamento durante a legislatura? E como se farão essas negociações? Será troca por troca de favores políticos, ou será em abono da nação, dos eleitores, da resolução dos problemas dos portugueses?”