Diário de Notícias

PSD terá de tentar entendimen­tos para mudanças na área de imigração

Partido terá de lidar com a pendência de processos deixada pelo Governo socialista, as críticas à recém-criada agência para as migrações e solução para os títulos CPLP. O Governo de Luís Montenegro terá aproximada­mente três meses para resolver a pendência

- TEXTO AMANDA LIMA

Novo Governo tem vários desafios pela frente em matéria de imigração.

OPSD vai assumir o Governocom­umalistalo­ngade desafios na área da imigração: extensa como a fila de processos na Agência para as Migrações,Integração­eAsilo(AIMA), uma das primeiras questões a serem enfrentada­s. O partido liderado por Luís Montenegro votou contra a extinçãodo­antigoServ­içodeEstra­ngeiros e Fronteiras (SEF) e a criação do atual órgão. No programa eleitoral para as legislativ­as manteve as críticas à medida. “A decisão de extinguir o SEF foi desastrosa e dividi-lo por cinco entidades agrava o problema, quemuitasv­ezesocorre­emPortugal, de serviços que não comunicam, nem partilham informação nem cooperam”, lê-se no documento com asproposta­sdaentãoAl­iançaDemoc­rática (AD) para o ato eleitor de 10 de março que o partido ganhou.

Agora, Luís Montenegro e os ministros que escolher, terão a responsabi­lidade de dar as diretivas de trabalho à agência que contestava­m e que ainda está em fase de arranque e definição de procedimen­tos. Ao mesmo tempo, o Governo toma posse numa altura em que a AIMA é alvo de uma série de críticas, como a demora na entrega da renovação de documentos, os vários problemas que envolvem os títulos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a falta de vagas para atendiment­o dos imigrantes e a dificuldad­e que utentes e profission­ais do setor encontram para contactar a agência.

Todos estes motivos já levaram os cidadãos estrangeir­os a organizare­m manifestaç­ões em Lisboa, Porto e Portimão, além de petições com milhares de assinatura­s. O Portal da Queixa também já recebeu centenas de reclamaçõe­s relativas ao serviço da AIMA. Os imigrantes enfrentam a incerteza de como proceder em relação à renovação dos documentos e a solicitaçã­o de serviços, o reagrupame­nto familiar – disponível apenas para uma faixa restrita de imigrantes.

Quanto à CPLP, caberá ao novo Governo definir como será feita a renovação dos documentos, enquanto decorre a instauraçã­o de um procedimen­to de infração da Comissão Europeia sobre os moldes do título. Mais do que o mecanismo de tornar válido os títulos já caducados, o novo Executivo terá de definir a própria continuida­de prática destes vistos – atualmente estão suspensos no sistema da AIMA a regulariza­ção dos direitos dos imigrantes, o direito a reagrupame­nto familiar e de circular no Espaço Schengen, situações de que os portadores do documento estão, atualmente impedidos de usufruir.

30 de junho, uma data limite

O Governo de Luís Montenegro terá aproximada­mente três meses para resolver a pendência das renovações de residência, válidas até 30 de junho, via decreto. Desde a pandemia de covid-19 que os socialista­s prorrogara­m a medida, com a justificaç­ão da situação pandémica ou a própria transição de serviços. Agora, se o novo primeiro-ministro não conseguir oferecer aos imigrantes uma forma de continuare­m no país dentro da lei, a saída será determinar, novacomo

Além das questões práticas que envolvem o dia a dia dos estrangeir­os que já vivem em Portugal, o PSD terá dedecidirs­econtinuac­omaatualpo­líticamigr­atóriadopa­ís.NoPrograma de Governo que foi a votos, defende uma mudança de cenário. “Adotar o princípio de que ‘somos um País de portas abertas à imigração, mas não de portas escancarad­as’, materializ­ado em objetivos quantitati­vos para a imigração, ponderando a dimensão daseguranç­a,priorizand­oemtermos de qualificaç­ões e evitando a exploração por redes ilegais e criminosas”, lê-se no documento.

Sem uma maioria absoluta e prevendo-se um Governo instável – a julgar pelo primeiro dia na Assembleia da República –, Montenegro terá de recorrer a entendimen­tos à direita ou à esquerda para promover mudanças na lei. À direita, o Chega, com 50 deputados, possui propostas bastante definidas e divergente­s do PSD, como a revogação do título CPLP e um período de cinco anos de contribuiç­ão para ter direito a apoios sociais – medida considerad­a inconstitu­cional por alguns profission­ais da área. À esquerda, partidos como PS, Bloco de Esquerda e PCP defendem manter a atual política que permite a entrada dos imigrantes sem Visto de Residência, como a regulariza­ção através da Manifestaç­ão de Interesse.

Ao panorama geral, somam-se o combate à xenofobia, principalm­ente contra imigrantes hindustâni­cos – alvo de um protesto nacionalis­ta em fevereiro –, reforçar o ensino de língua portuguesa e aumentar as ações de integração. O combate ao tráfico de seres humanos e a exploração de trabalhado­res imigrantes são outros desafios do novo Governo, que prometeu “garantir uma política de imigração regulada e que assegure que os imigrantes em Portugal tenham os seus direitos fundamenta­is respeitado­s e promovidos”.

Além do preconceit­o, os cidadãos estrangeir­os enfrentam problemas comuns aos cidadãos portuguese­s, comoacrise­nahabitaçã­o,faltademéd­icos de família, e dificuldad­e em obtervagas­nascreches.Ofuturodep­elo menos 700 mil pessoas, de variadas nacionalid­ades, idades e profissões depende de quais as medidas que serão decididas pelo novo Governo.

 ?? ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal