Diário de Notícias

Por alguma razão muitos chamam aos romenos ‘latinos de Leste’. Curiosamen­te, vários desses ‘latinos de Leste’ sentem ter muito em comum connosco, os portuguese­s, que somos uma espécie de ‘latinos do Ocidente’, e Dinu FlŒmând é um deles, como o prova o liv

- Diretor adjunto do Diário de Notícias

Ela é essa exceção, tal como saudade, só que nós nunca teorizámos o conceito de dor como vocês fizeram em torno do movimento de saudosismo, etc., etc., e que se tornou um critério da identidade nacional entre vós.”

Flģmând tornou-se exilado político na fase final da ditadura comunista romena, regime que acabou abruptamen­te no Dia de Natal de 1989, quando Ceausescu e a mulher, Elena, foram fuzilados. Lisboa passou a ser como uma casa para o poeta. E Portugal começou a deixar-lhe as suas marcas, como em outros romenos, os já clássicos Mircea Eliade e Lucian Blaga, que foram cá diplomatas, mas também hoje em dia, de forma por vezes inesperada, em figuras contemporâ­neas que eu próprio vou descobrind­o muito por mérito do ICR e da embaixada, como o romancista Radu Paraschive­scu, que se inspirou em Pedro e Inês para o seu De Coração Arrancado do Peito, com tradução de Popa, e antes tinha publicado o livro bilingue Azul de Lisboa, Azur de Lisabona, ou as fadistas Ioana Dichiseanu, que me disse guardar fotos do pai com “a grande Amália”, e Cristina Dascalescu, que a 10 de abril dará um concerto na Casa-Museu Amália Rodrigues.

Estou fora de Lisboa e não vou poder reencontra­r hoje Fl mând. Mas finalizo de novo citando a entrevista que lhe fiz em 2021 na sede do ICR, ali perto da Sé de Lisboa, na parte em que fala do que une “latinos do Ocidente” a “latinos do Leste”: “Há uma teoria muito conhecida que fala das caracterís­ticas da latinidade preservada unicamente nos extremos. Penso que mesmo no léxico, na sintaxe, o português e a língua romena guardaram coisas que não existem noutras línguas. Nós temos qualquer coisa de marginais que sonham sempre regressar ao centro, ao centro da latinidade.” Por isso, este poeta se sente tão bem em Portugal, como tantos romenos que entre nós vivem, estudam e trabalham, graças a uma União Europeia que reúne território­s e gentes que só tinham estado juntos nos tempos romanos.

Abençoados pacotes de selos usados, que comprava há uns 40 anos numa papelaria de Setúbal perto da Praça de Bocage, por me terem feito (querer) conhecer a Roménia e os “latinos de Leste”, como o poeta Dinu Flģmând.

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