Diário de Notícias

Aguiar-Branco marca diferenças em relação a Augusto Santos Silva

Eleito à quarta tentativa, o social-democrata prometeu que será o “presidente de todos os deputados”. E pediu que todos se entendesse­m, o que não durou muito.

-

Odiscurso de José Pedro Aguiar-Branco após ser eleito presidente da Assembleia da República, à quarta tentativa, no âmbito de um acordo entre o PSD e o PS, e tendo por único adversário o deputado do Chega Rui Paulo Sousa, arrancou com a garantia de que o partido de André Ventura pode esperar um registo diferente na condução dos trabalhos parlamenta­res do que houve na legislatur­a anterior, quando o seu lugar era ocupado pelo socialista Augusto Santos Silva.

Assumindo o compromiss­o de que “irá representa­r todas e todos os deputados”, o antigo ministro social-democrata salientou que “o voto de cada português em eleições livres deve merecer igual respeito por parte de todos os cidadãos”. E ainda mais por parte de representa­ntes eleitos do povo, aludindo à “exigência de imparciali­dade, equidistân­cia e rigor que todos esperam de mim”.

Sem esquecer os motivos que levaram ao falhanço das três primeiras tentativas para o eleger, ressalvou que “se [houve] alguma coisa que o dia de ontem [terça-feira] nos ensinou é que não devemos desistir da democracia”. “Eu não desisti”, disse o advogado que Luís Montenegro fez regressar à política ativa, como cabeça de lista da Aliança Democrátic­a por Viana do Castelo, defendendo ser preciso repensar o Regimento da Assembleia da República, “a bem da democracia que estamos a representa­r”.

Antes de assumir o seu lugar na tribuna, Aguiar-Branco fez questão de cumpriment­ar líderes partidário­s e líderes parlamenta­res de todos os partidos, percorrend­o a primeira fila do hemiciclo da esquerda para a direita, desde a coordenado­ra bloquista Mariana Mortágua até André Ventura. Reservou também elogios à “elevada competênci­a, sentido de Estado e dignidade” com que António Filipe conduziu os trabalhos no início da legislatur­a, com o deputado comunista a receber aplausos de todos os eleitos.

“Se não somos capazes de nos entender na casa da democracia, que exemplo estamos a dar para fora?”, perguntou Aguiar-Branco, procurando iniciar uma nova era no Parlamento, até porque, como disse, citando Miguel Veiga, “a democracia é de uma magnífica fragilidad­e; cuidemos dela com a devoção que a sua magnificên­cia e fragilidad­e exigem”.

O apelo não impediu que logo à segunda intervençã­o dos partidos representa­dos, feita por Nuno Melo, tenha começado a ouvir-se burburinho e apartes da bancada do Chega, à medida que o líder centrista fazia menções à “pantomina” dos últimos dias, terminando a dizer, acerca do seu regressado grupo parlamenta­r, que “dois valem muito mais do que 50”. E depois de regressar ao seu lugar, numa espécie de enclave entre eleitos do Chega, manteve uma troca de palavras exaltada com o deputado Bruno Nunes.

O líder parlamenta­r do Bloco de Esquerda, Fabian Figueiredo, disse que “a direita é confusão, trapalhada­s e barafunda”, e o tom do debate aqueceu ainda mais com a subida de AndréVentu­ra à tribuna. Apoiado por outros 49 deputados, “eleitos pelos nossos cidadãos, sem precisarem de vir à boleia do PSD”, venceu no campeonato dos decibéis. Até porque cada orador só teve aplausos dos correligio­nários (tirando o PSD e o CDS-PP, que partilhara­m palmas), e agora só tem menos 28 do que os dois principais partidos.

O antigo ministro social-democrata salientou que “o voto de cada português em eleições livres deve merecer igual respeito por parte de todos os cidadãos. ”E ainda mais por parte de representa­ntes eleitos do povo.

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Portugal