Diário de Notícias

França na crista do combate à discrimina­ção capilar

Aprovado na Assembleia Nacional, o projeto de lei terá de ser ratificado pelo Senado. Nos EUA há legislação similar em 20 estados. Dois terços das mulheres negras nos EUA mudam de penteado antes de uma entrevista de emprego, sendo que 41% alisam o cabelo,

- TEXTO CÉSAR AVÓ

As mulheres de ascendênci­a africana são quem mais sofre pressão social em relação ao cabelo.

U “m preto de cabeleira loira ou um branco de carapinha não é natural. O que é natural e fica bem é cada um usar o cabelo com que nasceu.” A mensagem, criada para vender uma loção e matraquead­a na TV no século passado, até se entranhar nas raízes dos cabelos dos portuguese­s, ganhou uma nova leitura com a aprovação dos deputados franceses de um projeto de lei que combate a discrimina­ção relacionad­a com o cabelo.

Se o Senado aprovar a proposta, a França tornar-se-á no primeiro país com legislação específica de combate à discrimina­ção dos penteados (ou da sua ausência). Nos Estados Unidos, a reboque de uma iniciativa criada por uma marca de sabonetes e de várias associaçõe­s, em 2019 a Califórnia aprovou a lei CROWN (Creating a Respectful and Open World for Natural Hair, que pode ser traduzido como “construir um mundo aberto e respeitado­r para o cabelo natural”). Esta lei garante a proteção contra a discrimina­ção com base em penteados no local de trabalho e na escola pública. O problema reside em especial na comunidade afro-americana. Segundo uma sondagem realizada no ano passado por parte da campanha CROWN, dois terços das mulheres negras mudam de penteado antes de uma entrevista de emprego – sendo que 41% optam por alisar o cabelo. Depois da Califórnia, cerca de duas dezenas de estados norte-americanos seguiram o mesmo caminho legislativ­o; além disso dois estados, Alasca e Arkansas, proíbem apenas a discrimina­ção nas escolas, enquanto o Tennessee legisla só em relação ao local de trabalho.

A proposta foi apresentad­a pelo deputado Olivier Serva, de Guadalupe, departamen­to francês nas Caraíbas. O projeto de lei pretende acrescenta­r à lista de formas de discrimina­ção puníveis com sanções penais as que estão relacionad­as com “o corte, a cor, o compriment­o ou a textura do cabelo”. O objetivo é impedir que os patrões obriguem os empregados a alisar o cabelo ou a esconder as tranças e rastas, mas também alargou o espectro da discrimina­ção às ruivas, “que são vítimas de muitos preconceit­os negativos”, às loiras e aos carecas.

A questão de base é a do racismo e, para a antropólog­a social Daphne Bedinade, a omissão no articulado legal é problemáti­ca. “Fazer com que se trate apenas de discrimina­ção em relação ao cabelo é mascarar os problemas das pessoas cujo cabelo as torna alvo de discrimina­ção, sobretudo as mulheres negras”, disse ao Le Monde.

O artigo 225-1 do Código Penal francês estabelece uma lista de 25 critérios de discrimina­ção proibidos por lei, incluindo com base na aparência. No entanto, para os apoiantes da proposta de lei, a lei é incompleta. “Se a lei [atual] fosse suficiente, não nos seria recusado emprego por causa [do cabelo], não seríamos alvo de comentário­s por parte dos colegas e a hospedeira da Air France não teria ido até ao Tribunal da Relação”, afirma a influencer Kenza Bel Kenadil, citada pela France24. Esta refere-se a uma hospedeira de bordo obrigada a usar uma peruca para esconder as tranças e que, em 2022, após dez anos de processo, conseguiu que a companhia aérea fosse condenada por discrimina­ção, mas com base na discrimina­ção de género, uma vez que os regulament­os da Air France permitiam que as funcionári­as usassem tranças.

Oexercício é o mesmo quase todas as noites. Recebem uma chamada com a informação de que lançadores de mísseis móveis surgiram em algum sítio do Iémen, perto da costa, preparando-se para disparar.

Só que, a bordo do porta-aviões Dwight D. Eisenhower, não é um exercício.

Durante dois meses, os cinco mil marinheiro­s e pilotos a bordo realizaram uma tarefa quase ininterrup­tamente: encontrar e destruir locais de armazename­nto de armas, sistemas de mísseis, sistemas de defesa aérea, radares e lançadores de mísseis antes que a milícia Houthi usasse as armas para encontrar e destruir navios comerciais no Mar Vermelho.

No Eisenhower, os pilotos de caça representa­m apenas uma pequena percentage­m de toda a tripulação, a qual tem um papel vital de apoio.

“A missão não poderia realizar-se sem eles, mas todos a bordo trabalham para lhes dar apoio”, disse o capitão Christophe­r Hill, comandante do Eisenhower.

Numa noite de terça-feira recente, a rotina era a mesma. Sete lança

Cerca de cinco mil homens, entre marinheiro­s e pilotos, viajam no porta-aviões. Cada um tem uma tarefa bem definida e treinada. dores de mísseis Houthi surgiram ao longo da costa do Iémen.

A bordo do Eisenhower, do cruzador Philippine Sea e de outros navios de guerra da Marinha dos EUA destacados para combater a ameaça Houthi foi mais uma noite movimentad­a.

Primeiro, os militares norte-americanos, que estão sob o comando do Comando Central dos EUA para esta missão, conduziram quatro “ataques de autodefesa” – linguagem do Pentágono para disparar contra os lançadores de mísseis antes de estes serem mobilizado­s.

Entre a meia-noite e as 6h45, as forças também abateram um drone de ataque unilateral, conhecido como “UAS”, para sistema de aeronaves não tripuladas.

“Estas ações protegerão a liberdade de navegação e tornarão as águas internacio­nais mais seguras e protegidas para a Marinha dos EUA e os navios mercantes”, disse mais tarde o Comando Central num comunicado.

Os comunicado­s que o Comando Central divulga quase todos os dias raramente capturam a atmosfera colorida e a coreografi­a cuidadosa a bordo do Eisenhower e de outros navios de guerra. A cabina de comando de um porta-aviões é um dos locais de trabalho mais intensos do mundo.

Depois, há a pista muito curta. Com apenas cerca de 90 metros é uma pequena fração do compriment­o de uma pista para aviões comerciais, que pode ter aproximada­mente entre 2,4 e quase 4 km.

Os pilotos que descolam precisam de um pouco de ajuda para levantar. Como a pista de voo de um porta-aviões é muito mais curta do que uma pista terrestre, os porta-aviões desse tipo contam com catapultas movidas a vapor para lançar aviões no ar num período de tempo extremamen­te curto.

A aterragem é ainda mais difícil. O piloto tem de se alinhar com a pista, baixar o gancho de retenção e entrar no ângulo certo, com frações de segundos para agarrar um dos quatro cabos de desacelera­ção.

Assim que as rodas tocam no convés, o piloto põe a aeronave em aceleração total, para o caso de o gancho traseiro não ter prendido o cabo e o avião ter de descolar novamente.

O Eisenhower está no mar desde outubro. São cinco meses sem descanso. As operações realizam-se 24 horas por dia, sete dias por semana. É o mesmo ciclo: os jatos são carregados com munições, são lançados e regressam vazios.

Quando questionad­o sobre como lidam com o stresse e a pressão da rotina sem fim, um marinheiro brincou: “Ligação traumática.”

Os Houthis conseguira­m conter a Arábia Saudita durante oito anos, salientam autoridade­s do Pentágono, mas as Forças Armadas dos EUA não são a Arábia Saudita.

Ainda assim, os Houthis resistem e continuam a atacar navios comerciais no MarVermelh­o, em solidaried­ade, dizem eles, com os palestinos na Faixa de Gaza sob bombardeam­entos israelitas.

Os militares pensam que os Houthis não desistirão, disse um oficial subalterno. A Marinha pediu que o nome do marinheiro não fosse divulgado.

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