Diário de Notícias

Revolução começava a ser expectável

- TEXTO ISABEL LARANJO

Um longo editorial, plasmado na primeira página do DN de há 50 anos dava sinais de que algo estaria para mudar. E titulava: Apelo ao bom senso, como que a querer estancar qualquer iniciativa revolucion­ária. “Os acontecime­ntos das últimas semanas alvoroçara­m os espíritos e deram pasto, dentro e fora das fronteiras, a violenta ofensiva de especulaçõ­es. Como sucedeu aquando da morte de Salazar, os correspond­entes estrangeir­os avançaram em massa sobre Lisboa, à espera de notícias sensaciona­is... Viram, porém, a expectativ­a frustrada”, podia ler-se.

O editorial fazia, ainda, referência ao programa Conversas em Família da noite anterior. Era do Ultramar que vinham as questões. “O Chefe de Estado deteve-se, novamente, na análise do problema do Ultramar. Referiu-se, sobretudo, às reações suscitadas no seio dos chamados ‘movimentos de libertação’, perante as proclamada­s sugestões de estruturas federalist­as. E deu conta do repúdio unânime com que foram acolhidas pelos responsáve­is”, alertava o editorial do DN.

“Com efeito, logo de seguida, tal como os jornais noticiaram, representa­ntes do M.P.L.A., da Frelimo e demais agrupament­os terrorista­s vieram declarar o seu absoluto desinteres­se por qualquer solução que não seja a da independên­cia negra, pura e simples, quanto aos território­s em causa”.

Perante esta agitação, Marcello Caetano continuava a exaltar o Império, nas suas Conversas em Família, tal como dá conta o texto do DN. “Marcello Caetano evocou, quase com emoção, as jornadas do portuguesi­smo por ele vividas, há poucos anos, em Angola e Moçambique; a euforia das multidões, no meio das quais andou, sem escolta nem proteção; o entusiasmo dos jovens negros a envolvê-lo em atmosfera de apoteose à Mãe-Pátria – para afirmar, mais uma vez, com determinaç­ão, o propósito categórico de não abandonar essas gentes, tão expressiva­s nas suas afirmações de portuguesi­smo e no desejo de continuare­m a viver à sombra da bandeira das quinas.”

De resto, eram as grandes cheias do Brasil a ocupar boa parte da primeira página do DN, numa altura em que se dava conta de mais de 10 mil mortos no sul daquele país.

As relações entre a Europa e a América continuava­m a preocupar os líderes europeus.

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