Revolução começava a ser expectável
Um longo editorial, plasmado na primeira página do DN de há 50 anos dava sinais de que algo estaria para mudar. E titulava: Apelo ao bom senso, como que a querer estancar qualquer iniciativa revolucionária. “Os acontecimentos das últimas semanas alvoroçaram os espíritos e deram pasto, dentro e fora das fronteiras, a violenta ofensiva de especulações. Como sucedeu aquando da morte de Salazar, os correspondentes estrangeiros avançaram em massa sobre Lisboa, à espera de notícias sensacionais... Viram, porém, a expectativa frustrada”, podia ler-se.
O editorial fazia, ainda, referência ao programa Conversas em Família da noite anterior. Era do Ultramar que vinham as questões. “O Chefe de Estado deteve-se, novamente, na análise do problema do Ultramar. Referiu-se, sobretudo, às reações suscitadas no seio dos chamados ‘movimentos de libertação’, perante as proclamadas sugestões de estruturas federalistas. E deu conta do repúdio unânime com que foram acolhidas pelos responsáveis”, alertava o editorial do DN.
“Com efeito, logo de seguida, tal como os jornais noticiaram, representantes do M.P.L.A., da Frelimo e demais agrupamentos terroristas vieram declarar o seu absoluto desinteresse por qualquer solução que não seja a da independência negra, pura e simples, quanto aos territórios em causa”.
Perante esta agitação, Marcello Caetano continuava a exaltar o Império, nas suas Conversas em Família, tal como dá conta o texto do DN. “Marcello Caetano evocou, quase com emoção, as jornadas do portuguesismo por ele vividas, há poucos anos, em Angola e Moçambique; a euforia das multidões, no meio das quais andou, sem escolta nem proteção; o entusiasmo dos jovens negros a envolvê-lo em atmosfera de apoteose à Mãe-Pátria – para afirmar, mais uma vez, com determinação, o propósito categórico de não abandonar essas gentes, tão expressivas nas suas afirmações de portuguesismo e no desejo de continuarem a viver à sombra da bandeira das quinas.”
De resto, eram as grandes cheias do Brasil a ocupar boa parte da primeira página do DN, numa altura em que se dava conta de mais de 10 mil mortos no sul daquele país.
As relações entre a Europa e a América continuavam a preocupar os líderes europeus.