Diário de Notícias

E fazê-lo cantando

- TEXTO FERNANDO DE MELO

Diz-se que quando se faz o que se gosta nunca se tem de trabalhar, uma abordagem um pouco redutora quando se trata do percurso de toda uma vida de esforço e superação em torno da música. João Rosa, barítono do coro do Teatro Nacional de São Carlos, assume com paixão tudo o que faz e a Beijo de Figo é o seu lado B. Que bom para nós, mortais.

Quem entra no fabuloso universo do chocolate nunca mais sai. Espécie de amor-devoção que afeta pasteleiro­s e doceiros de todo o mundo, ligando-os entre si pela fantasia e criativida­de. Em todos há o mesmo imperativo de alma de fazer o que nunca foi feito, num terreno impoluto de afetos no qual tudo é possível. João Rosa vive desde criança numa esfera igualmente cativante, que é a música. Nascido em 1961 na aldeia de Árgea, do Concelho de Torres Novas, logo aos 10 anos juntou-se a seu pai na banda filarmónic­a local. Começou pela contundent­e trompa, depois passou ao contrabaix­o e finalmente o bombardino, importante mesmo era a música. Aos 16 entrou no Conservató­rio Regional de Tomar e aos 19 já era professor de Educação Musical. Lecionou depois em Vila Franca de Xira. Fez estudos superiores no Conservató­rio Nacional e em 1985 entrou para o Coro do Teatro de São Carlos, onde continua a cantar.

O chocolate arrebatou João Rosa há cerca de sete anos, curiosamen­te movido pelo figo preto e figo pingo de mel da muito sua Torres Novas e a ideia fixa de o ligar a uns bombons que o celebrasse­m com a devida nobreza. Criou a marca Beijo de Figo e arrepiou caminho buscando formação e conhecijun­to dos melhores mestres chocolatei­ros. Não tardou a chegar ao plano prático da união dos figos com o chocolate. No Concurso Nacional de Chocolates em Santarém tem arrecadado medalhas ano após ano, o que pode levar à impressão de que é fácil.

O nosso cantor criou produtos que todo o amante de chocolate deve conhecer e provar. O Fig’ardente (14 euros, caixa de 12) é produzido a partir de figos pretos de Torres Novas macerados em aguardente vínica DOC Lourinhã e envoltos em chocolate negro da América Latina. Perfil exótico, sente-se a fusão perfeita de sabores da aguardente com o chocolate e no final ganha o figo, impressões texturadas das grainhas do figo seco. A primeira vez que provei este bombom estava com receio de que a aguardente estivesse disponível a ponto de inundar o palato, mas o trabalho genial de maceração do figo mantém tudo no seu sítio. Perdura na boca e na memória.

O Fig’Mel (14 euros, caixa de 12) é centrado no figo pingo de mel de Torres Novas e praliné de avelã e é envolto em chocolate negro da América Latina. Dá muito prazer a comer graças a uma textura macia e bem trabalhada e à fina crocância agradável da avelã britada. Curiosa a forma vincada e cúbica, biselada num dos vértices, marcando a diferença em relação à forma tendencial­mente esférica da maioria.

O Figo D’ouro (14 euros, caixa de 12) é o meu favorito, massa composta de noz, amêndoa e especiaria­s, a oferecer-se mais à mastigação, perfil menos copioso quanto a açúcar. Forma achatada, revestida de chocolate negro da América Latina sugestivam­ente pintalgado a ouro. Configura, a um tempo, perdição e plenitude.

Nutrição equilibrad­a e frescura invulgar marcam o perfil do bommento bom FigD’alga (14 euro, caixa de 12) e não é de espantar que assim seja. É composto por uma das algas do momento – spirulina – temperado com flor de sal e coberto de chocolate negro da América Latina. Na boca sai quase mentolado, consistênc­ia semimole que quase vicia. É impossível comer apenas um, a caixa fica vazia em três ou quatro investidas. É muito bom este bombom.

Disponibil­izadas em embalagens transparen­tes, a Beijo de Figo oferece uma variedade interessan­te de gostosuras, de que destaco três. As trufas de figo (12€, 170g), absolutame­nte canónicas e correspond­entes ao standard mais elevado da trufa de chocolate. Polvilhada­s com chocolate em pó, as bolinhas viajam prontament­e da bolsinha para a nossa boca instalando o sabor do figo seco de forma magistral.

No mesmo formato e acondicion­amento surge o figo preto (12€, 170g), bombom composto por figo preto seco, noz e chocolate negro, que eu elegeria como porta-estandarte da marca pelo aspeto patrimonia­l que configura.

A maravilha que dá pelo nome de Gengibre de Chocolate (12€ 170g), composto por gengibre desidratad­o deliciosam­ente revestido de chocolate. É novidade no leque de produtos e tem uma certa crocância picante que acrescenta interesse a cada trago. Vêm envoltos em papel de prata.

Todo um trabalho de amor, o cantor e o chocolatei­ro moram no mesmo coração. A Beijo de figo não é senão o coroar de todo um serviço na arte de dar prazer ao outro.

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A marca tem conquistad­o prémios ano após ano no Concurso Nacional de Chocolates de Santarém.

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