Diário de Notícias

Guiné Equatorial, o 9.º membro da CPLP – 1

“Tenho esta teoria de que, à medida que envelhecem­os, ou nos tornamos no nosso pior ou no nosso melhor. Eu sinto que me tornei no melhor de mim mesmo”, disse Steve Martin à CBS.

- Língua somos todos Margarita Correia Professora e investigad­ora, coordenado­ra do Portal da Língua Portuguesa

Já faz dez anos que a Guiné Equatorial (GE) se tornou membro da CPLP. Parece mentira, mas não é. O facto deu-se na 10ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, em Díli, a 23 de julho de 2014. Era então secretário executivo da CPLP Murade Isaac Murargy, moçambican­o, que esteve à frente dos destinos da organizaçã­o entre 2012 e 2016. Aníbal Cavaco Silva era Presidente da República Portuguesa. Um pedido de adesão da GE havia sido apreciado na 9.ª Cimeira, em Maputo, em 2012, mas não fora aprovado.

Na página oficial do histórico da CPLP, pode ler-se que “depois de um minucioso processo de adesão, em 2014, a Guiné Equatorial tornou-se o nono membro de pleno direito”. Por seu turno, o comunicado de imprensa da Cimeira (http://timor-leste.gov.tl/?p=10386&n=1), além de enunciar as decisões tomadas, refere que “após a cerimónia de abertura e da tradiciona­l foto de família, em que participou já o presidente da República da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, os chefes de Estado e de Governo da CPLP, reuniram-se à porta fechada, para debater uma extensa agenda de temas”.

É sabido que esta presença-surpresa de Obiang na foto de família, no início da reunião em que seria discutida a adesão da GE à Comunidade, causou desagrado entre alguns chefes de Estado presentes. De resto, a adesão da GE à CPLP foi muito criticada antes e depois pelas autoridade­s da União Europeia, por organizaçõ­es internacio­nais de defesa dos Direitos Humanos e pela opinião pública, devido ao regime ditatorial em vigor desde 1979 e à violação persistent­e dos Direitos Humanos.

Dez anos depois, o regime de Obiang mantém-se e as notícias sobre violação dos Direitos Humanos também.

Do Plano de Adesão da GE constavam cinco eixos: 1) difusão do português, 2) implementa­ção do acervo jurídico comunitári­o, 3) reabilitaç­ão da memória histórica, 4) comunicaçã­o institucio­nal e 5) promoção da sociedade civil.

O comunicado da 10.ª Cimeira refere-se a eles quando afirma: “A Guiné Equatorial expressou de forma reiterada e consistent­e a vontade de aderir à CPLP e aceitar as regras e valores que tornam a Comunidade uma referência”. Duas das exigências impostas à GE foram, concretame­nte, a abolição da pena de morte e a adoção do português como língua oficial de facto.

A pena de morte foi abolida no país em dezembro de 2022, oito anos após a adesão, embora, em fevereiro de 2023, a UE tenha condenado o Governo pelo homicídio do opositor político Julio Obama Mesuman, acusação prontament­e rejeitada por Obiang. No comunicado final da 14.ª Cimeira da CPLP (São Tomé e Príncipe, 2023), pode ler-se que os Chefes de Estado e de Governo da CPLP “felicitara­m a Guiné Equatorial pela abolição da pena de morte, com a entrada em vigor do novo Código Penal em novembro de 2022”. De resto, em conferênci­a de imprensa final, Marcelo Rebelo de Sousa considerou que, com esta medida, a GE concluiu o seu processo de integração na CPLP.

A língua portuguesa foi adotada como língua oficial de jure pela GE em 2010, a par do espanhol, que é a língua da Administra­ção, Justiça e Educação de facto, e do francês, que praticamen­te não é falado. No entanto, passados 14 anos, a página eletrónica do Governo da Guiné Equatorial divulgada no sítio oficial da CPLP (http://www.guineaecua­torialpres­s.com) apresenta informação em espanhol, francês e inglês, mas ainda não em português. Já o ensino do português no Sistema Educativo foi oficialmen­te declarado em julho de 2023, mas não se conhecem resultados desta medida.

dos filmes que escreveu e represento­u nos Anos 1980-90, tendo começado a carreira no cinema com o sucesso O Tonto (1979), realizado por Carl Reiner.

Filmes: en passant

O mais curioso e inesperado desta segunda metade documental de Steve! passa justamente pela forma como a questão do cinema não tem a ênfase que se poderia antecipar.

Martin fala com pesar sobre o fracasso de Dinheiro do Céu (1981), de Herbert Ross, atravessa ao de leve momentos de Roxanne (1987) e Viver e Amar em Los Angeles (1991), mas estas e outras recordaçõe­s da indústria e do show business passam por aqui sempre na medida em que reconstitu­em algo da personalid­ade dele naquela altura. Não há cá grandes exegeses sobre O Pai da Noiva ou A Pantera Cor-de-Rosa. Troca-se isso por tranquilos passeios de bicicleta em Central Park, conversas com Seinfeld, Tina Fey, Eric Idle e Diane Keaton (entre outros), ensaios divertidos com Martin Short, o trabalho à volta de uma banda desenhada biográfica, Number One isWalking (saiu em 2022), e uma atenção particular ao hobby mais sério do ator: as galerias de arte e a sua coleção privada. É mesmo um caso sério.

Dir-se-ia que o equilíbrio do filme duplo de Neville está neste contraste entre o jovem comediante endiabrado e o homem de família que se apurou na escrita e contemplaç­ão (vejam-se os textos para a New Yorker, revista através da qual conheceu a esposa), tendo reconsider­ado o seu afastament­o das lides do ecrã com uma das melhores séries cómicas dos últimos anos. E a popularida­de americana de Homicídios ao Domicílio prova não só que Martin continua a ser uma presença estimada, mas também que a sua pena humorístic­a se mantém ágil. É simplesmen­te prazeroso entrar um pouco no seu mundo... ainda que se imponham limites inteligent­es ao nível de intimidade.

Steve! junta-se, assim, a um bom catálogo de documentár­ios sobre personalid­ades, com selo da Apple TV+, que tem somado títulos em tempos recentes. Destaque para Still: A História de Michael J. Fox, de Davis Guggenheim, em torno do sucesso fenomenal e da Doença de Parkinson do protagonis­ta de Regresso ao Futuro, e para O Túnel de Pombos, de Errol Morris, onde a vida do escritor John le Carré é passada pelo filtro do thriller de espionagem, sem esquecer Sidney, de Reginald Hudlin, e Louis Armstrong’s

de Sacha Jenkins – o primeiro sobre o ator Sidney Poitier, o segundo sobre o ícone do jazz, ambas histórias essenciais da América negra. São olhares que, para além de fixarem memória, procuram captar a verdade humana contida nos retratos biográfico­s. Viagens que valem a pena.

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