Diário de Notícias

Israel acusada de bloquear ajuda alimentar em Gaza

Telavive anunciou a abertura de rotas de ajuda após pressão dos EUA. ONU diz que muitos comboios de alimentos são recusados.

- TEXTO ANA MEIRELES ana.meireles@dn.pt

As Nações Unidas acusaram ontem Israel de bloquear muito mais comboios que transporta­m ajuda alimentar dentro de Gaza, onde a fome é iminente, do que caravanas que transporta­m outros tipos de ajuda. Um porta-voz da agência humanitári­a da ONU referia-se às estatístic­as de março, que mostram que era muito mais difícil obter autorizaçã­o para entregar alimentos do que outra ajuda no território palestinia­no devastado pela guerra.

“Os comboios de alimentos que deveriam ir especialme­nte para o norte, onde 70% das pessoas enfrentam condições de fome, têm três vezes mais probabilid­ade de serem recusados do que qualquer outro comboio humanitári­o com outros tipos de material”, afirmou Jens Laerke, da Agência das Nações Unidas para a Coordenaçã­o de Assuntos Humanitári­os (OCHA).

Israel enfrenta uma pressão internacio­nal crescente para permitir mais ajuda a Gaza, que enfrenta uma catástrofe humanitári­a seis meses após o início da guerra com o Hamas. Na semana passada, na sequência da morte de sete trabalhado­res humanitári­os da World Central Kitchen, vítimas do Exército de israelita, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, avisou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que Washington iria rever a sua política de apoio caso Telavive não aumentasse a proteção a civis.

Face às acusações da ONU, Israel respondeu dizendo que o principal problema é a distribuiç­ão da ajuda das Nações Unidas em Gaza. O COGAT, órgão do Ministério da Defesa de Israel que administra o fluxo de ajuda, disse ontem no X que “741 camiões de ajuda humanitári­a foram inspeciona­dos e transferid­os para a Faixa de Gaza nos últimos dois dias. Apenas 267 camiões de ajuda foram distribuíd­os pelas agências de ajuda da ONU dentro de Gaza (dos quais 146 transporta­vam alimentos)”. “A ajuda está disponível, a distribuiç­ão é o que importa”, criticou o COGAT.

O porta-voz da OCHA argumentou que estas comparaçõe­s “não fazem sentido”, por várias razões. “Em primeiro lugar, os camiões controlado­s pelo COGAT estão geralmente apenas meio cheios. Trata-se de um requisito que eles impuseram”, afirmou Laerke, acrescenta­ndo que após inspeciona­dos, estes camiões são reabasteci­dos pela ONU para mais de metade, pelo que é normal que “os números nunca coincidam”.

“Em segundo lugar, contar e comparar diariament­e os camiões inspeciona­dos e a ajuda entregue “faz pouco sentido, porque não tem em conta os atrasos que se verificam” entre estas duas fases, acrescento­u. Os atrasos são provocados, nomeadamen­te, pelos horários de abertura dos pontos de passagem e pelo facto de Israel exigir que “os condutores e camiões egípcios nunca possam estar na mesma zona ao mesmo tempo que os condutores e camiões palestinia­nos” que recolhem as mercadoria­s, sublinhou a mesma fonte.

Na semana passada, e na sequência do aviso feito por Biden, Israel anunciou que iria permitir a entrega “temporária” de ajuda a Gaza através do porto israelita de Ashdod, 40 quilómetro­s a norte de Gaza, e da passagem de Erez, no sul do país. Face a este anúncio, os EUA disseram que iam aguardar por resultados concretos das medidas.

Órgão do Ministério da Defesa de Israel diz que a ajuda alimentar existe, mas que há um problema de distribuiç­ão, apontando o dedo às Nações Unidas.

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Palestinia­nos deslocados em Rafah tentam receber comida de organizaçõ­es não-governamen­tais.

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