Israel acusada de bloquear ajuda alimentar em Gaza
Telavive anunciou a abertura de rotas de ajuda após pressão dos EUA. ONU diz que muitos comboios de alimentos são recusados.
As Nações Unidas acusaram ontem Israel de bloquear muito mais comboios que transportam ajuda alimentar dentro de Gaza, onde a fome é iminente, do que caravanas que transportam outros tipos de ajuda. Um porta-voz da agência humanitária da ONU referia-se às estatísticas de março, que mostram que era muito mais difícil obter autorização para entregar alimentos do que outra ajuda no território palestiniano devastado pela guerra.
“Os comboios de alimentos que deveriam ir especialmente para o norte, onde 70% das pessoas enfrentam condições de fome, têm três vezes mais probabilidade de serem recusados do que qualquer outro comboio humanitário com outros tipos de material”, afirmou Jens Laerke, da Agência das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA).
Israel enfrenta uma pressão internacional crescente para permitir mais ajuda a Gaza, que enfrenta uma catástrofe humanitária seis meses após o início da guerra com o Hamas. Na semana passada, na sequência da morte de sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen, vítimas do Exército de israelita, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, avisou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de que Washington iria rever a sua política de apoio caso Telavive não aumentasse a proteção a civis.
Face às acusações da ONU, Israel respondeu dizendo que o principal problema é a distribuição da ajuda das Nações Unidas em Gaza. O COGAT, órgão do Ministério da Defesa de Israel que administra o fluxo de ajuda, disse ontem no X que “741 camiões de ajuda humanitária foram inspecionados e transferidos para a Faixa de Gaza nos últimos dois dias. Apenas 267 camiões de ajuda foram distribuídos pelas agências de ajuda da ONU dentro de Gaza (dos quais 146 transportavam alimentos)”. “A ajuda está disponível, a distribuição é o que importa”, criticou o COGAT.
O porta-voz da OCHA argumentou que estas comparações “não fazem sentido”, por várias razões. “Em primeiro lugar, os camiões controlados pelo COGAT estão geralmente apenas meio cheios. Trata-se de um requisito que eles impuseram”, afirmou Laerke, acrescentando que após inspecionados, estes camiões são reabastecidos pela ONU para mais de metade, pelo que é normal que “os números nunca coincidam”.
“Em segundo lugar, contar e comparar diariamente os camiões inspecionados e a ajuda entregue “faz pouco sentido, porque não tem em conta os atrasos que se verificam” entre estas duas fases, acrescentou. Os atrasos são provocados, nomeadamente, pelos horários de abertura dos pontos de passagem e pelo facto de Israel exigir que “os condutores e camiões egípcios nunca possam estar na mesma zona ao mesmo tempo que os condutores e camiões palestinianos” que recolhem as mercadorias, sublinhou a mesma fonte.
Na semana passada, e na sequência do aviso feito por Biden, Israel anunciou que iria permitir a entrega “temporária” de ajuda a Gaza através do porto israelita de Ashdod, 40 quilómetros a norte de Gaza, e da passagem de Erez, no sul do país. Face a este anúncio, os EUA disseram que iam aguardar por resultados concretos das medidas.
Órgão do Ministério da Defesa de Israel diz que a ajuda alimentar existe, mas que há um problema de distribuição, apontando o dedo às Nações Unidas.