Diário de Notícias

SUCESSÃO DE CRÍTICAS

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Há quatros anos que os olhos da atenção pública se voltaram para o Aeroporto de Lisboa. A 12 de março de 2020 o ucraniano Ihor Holmeniuk, foi morto no Centro de Instalação Temporária, onde estava sob cuidados de agentes do Serviço de Estrangeir­os e Fronteiras (SEF). Conforme noticiou o DN na altura, “o ucraniano, 40 anos, casado e com dois filhos menores no seu país, agonizou quase dez horas, com vários hematomas, fraturas nas costelas e no tórax que o impediam de respirar, provocados por pancadas de bastão e botas”. Uma testemunha no interrogat­ório disse que os inspetores quando saíram vinham suados e que um deles terá dito “ele agora fica sossegado”, enquanto outro exclamava: “Hoje nem vai ser preciso ir ao ginásio.” Luís Silva, Bruno Sousa e Duarte Laja foram condenados a 9 anos de prisão por crime de ofensa à integridad­e física grave. Os agora ex-agentes foram demitidos da Função Pública em outubro do ano passado.

Novo centro de acolhiment­o

Após o assassinat­o de Ihor, a área onde ficam os estrangeir­os foi encerrada e reaberta meses depois. O Governo assinalou, na ocasião, que o novo centro de acolhiment­o garantia “a satisfação de necessidad­es básicas, nomeadamen­te saúde, incluindo a saúde mental, apoio legal, a higiene, a alimentaçã­o e o apoio social, no estrito cumpriment­o dos mais elevados padrões de respeito pelos direitos e dignidade humana”. O Espaço Equiparado a Centro de Instalação Temporária (EECIT) tem sido visitado com frequência pela Provedoria de Justiça. De acordo com o último relatório Mecanismo Nacional de Prevenção (MNP), “persistira­m em 2022 as principais questões anteriorme­nte assinalada­s: os quartos continuara­m sem dispor de “botões de pânico”,o sistema de vigilância não foi estendido a todas as salas de entrevista­s na zona de fronteira, a rede de Wi-Fi manteve-se inoperacio­nal e os duches não assegurava­m privacidad­e. A isto acresce o desconheci­mento da Direção de Fronteiras a respeito da concretiza­ção de todas as alterações regulament­armente previstas”, refere o documento.

PSP e articulaçã­o com a AIMA

Com o fim oficial do SEF no dia 29 de outubro, a PSP passou a ser responsáve­l pelo controlo das fronteiras e a Agência para as Migrações, Integração e Asilo (AIMA) pela análise dos pedidos de asilo. Numa resposta oficial ao DN sobre a atividade da PSP nos aeroportos, o órgão referiu que “foi delineada uma ação de formação complement­ar e inovadora para os polícias com temas como quadro regulament­ar, diversidad­e cultural/comunicaçã­o e gestão de conflitos, uso de meios coercivos em ambiente condiciona­do e técnicas básicas de emergência­s. Em dezembro, a Associação Sindical de Profission­ais de Polícia (ASPP) denunciou que a situação era “caótica”, com pessoas a dormirem no chão e em bancos na Zona Internacio­nal do aeroporto porque o EECIT estava esgotado. Numa visita à jornalista­s ao aeroporto, a qual o DN participou, a PSP informou que o Ministério da Administra­ção Interna tinha conhecimen­to da situação, mas não teve resposta. “Um problema, para já, sem solução”, definiram, devido ao alto número de pedidos e o tempo de análise por parte da AIMA. Outros órgãos posicionar­am-se diante do caso. A Provedoria de Justiça classifico­u a situação como “indigna” exigiu que uma solução fosse encontrada o mais rápido possível. A Ordem dos Advogados também visitou o local definiu como “fracas condições de acolhiment­o temporário” e situação “desumana”. O problema foi solucionad­o no final de janeiro, com atuação conjunta da PSP e da Câmara Municipal de Lisboa.

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