Já não existe desejo entre nós
Esta é uma queixa recorrente por parte de muitos casais. No início era a paixão, pautada por um forte desejo sexual e romântico, intenso e excitante. O convívio frequente acaba, depois, por potenciar uma maior intimidade no casal, com vontade em manter a proximidade e em conhecer-se melhor a outra pessoa, aumentado a ligação emocional. E, para muitos casais, a relação evolui para um maior compromisso – deseja-se permanecer com o outro, partilhar sonhos e conquistas e manter um vínculo afetivo.
O tempo e a rotina e, por vezes, também alguma dose de desilusão face ao outro, podem levar ao desgaste da relação. Os parceiros sentem que a paixão murchou. Alguns sentem mesmo que resta apenas a amizade. Outros, pelo contrário, sentem que resta uma sensação de compromisso, mas sem intimidade… o que podemos chamar de “amor vazio”.
Para muitas pessoas, viver um “amor vazio” é manifestamente insuficiente e gerador de uma enorme frustração. Mas é preciso investimento para conseguir alcançar – e manter – um amor companheiro, com intimidade, amizade e compreensão mútua.
A intimidade e o desejo não nascem de geração espontânea.
Ser íntimo é pertencer ao mundo do outro, construindo um espaço relacional seguro onde sentimos que tudo podemos partilhar. Um espaço relacional que apenas é possível com respeito pelo espaço do outro, permitindo a individualidade de cada um dos parceiros. Falamos de uma relação que possibilite a novidade e a surpresa, ajudando a superar a monotonia e a rotina, tão frequentes nos relacionamentos de longa duração.
E quando os parceiros sentem que a chama do desejo se extinguiu, é possível reacendê-la, com a ajuda preciosa da imaginação e da fantasia. Investir no tempo a dois (sem filhos, nem trabalho), escutar, tocar (e deixar-se tocar), dando asas à imaginação e à aventura e permitindo-se descobrir coisas novas são ingredientes-chave neste processo de resgate do desejo extinto.
Pensemos, pois, nas relações amorosas como uma verdadeira aventura, inquieta e desassossegada, cheia de imprevistos, crises e resiliência. Uma aventura onde é preciso nutrir e ser-se nutrido, cuidar e ser-se cuidado, surpreender e ser-se surpreendido, continuamente.
Pensemos, pois, nas relações amorosas como uma verdadeira aventura, inquieta e desassossegada, cheia de imprevistos, crises e resiliência.”