Diário de Notícias

Obra de Pinto da Costa é demasiado grande para homenagens, mas dar nome a Academia é consensual

- TEXTO ISAURA ALMEIDA isaura.almeida@dn.pt

Universo portista reconhece que é preciso distinguir o presidente na hora da saída. Diogo Feio, José Fernando Rio, Gabriel e António Lourenço enaltecem herança que deixa a André Villas-Boas, o novo líder dos dragões eleito no dia 27 e que pretende homenagear o antecessor.

E “stá na altura de fazer uma grande despedida a Pinto da Costa. Esta é e será sempre a sua casa.” A frase é de André Villas-Boas, o novo presidente do FC Porto, eleito no dia 27 de abril para suceder ao mítico líder portista, que sai da presidênci­a depois de 42 anos – sucedeu a Américo de Sá a 17 de abril 1982 – com o cognome de o mais titulado do Mundo: 2586 troféus obtidos em 21 modalidade­s, 68 dos quais no futebol.

“A obra é tão grande” que Diogo Feio tem dificuldad­e em apontar um gesto que reflita a gratidão do universo portista a quem “levantou um clube que era regional para uma dimensão mundial”. O antigo eurodeputa­do do CDS “não gostaria de estar na pele de quem terá de organizar” a prometida distinção. Até porque, segundo ele, Pinto da Costa “sempre fugiu desse género de situação, incluindo dar nome ao estádio”.

Por isso, Diogo Feio deixa a sugestão: “Algo que eu faria sempre era pensar numa estrutura de homenagem participad­a e em que próprio se sinta confortáve­l. Era importante, para isso, que fosse formada uma comissão independen­te para pensar na formulação dessa homenagem e que inclua não só o clube, como a cidade.”

Para José Fernando Rio, “a primeira e melhor homenagem que se pode e deve fazer a Pinto da Costa é honrar o seu legado”. “Alguém que serviu o FC Porto mais de quatro décadas e o transformo­u radicalmen­te. Há um antes e um depois de Pinto da Costa no FC Porto. O clube só teve grandeza nacional e internacio­nal com ele”, elogiou o antigo candidato à presidênci­a portista nas eleições de 2020 (teve 26,44%).

Para José Fernando Rio, o nome do recinto – Estádio do Dragão – “é muito forte e não deve ser mudado”. E também acha “mal que se faça uma estátua”, mas assinará por baixo numa “grandiosa” sessão pública e solene aberta a todos os sócios: “Ele merece ouvir de cada um de nós o quanto contribuiu para o nosso amor ao FC Porto e acharei justo e apropriado se André Villas-Boas der o nome de Pinto da Costa à futura Academia na Maia, se decidir manter o local.”

Porque é preciso ter memória e reconhecer quem contribuiu para criar boas memórias, António Lourenço, o adepto que anima o estádio e os pavilhões do Dragão a tocar trompete desde 1983, espera que Pinto da Costa receba uma “ínfima parte” que seja do que deu ao clube.

“Ele fez uma regionaliz­ação desportiva sem referendo, acabou com o salazarism­o futebolíst­ico e os troféus no Museu falam por ele. Colocar um clube de uma cidade com cerca de 270 mil habitantes a ombrear com os melhores do mundo é obra. Eu sei o que é estar 19 anos sem ganhar e, se estar um ano sem ganhar títulos é inadmissív­el, é porque ele nos habituou a vencer. Havia o Alexandre, o Grande e há o Pinto da Costa, o grande conquistad­or”, disse ao DN o mais conhecido adepto portista.

Por tudo isso a homenagem que ele merecia era que “os adeptos tivessem votado nele para um novo mandato”, porque, apesar do futebol “ser barómetro” desportivo e financeiro há coisas que os sócios deviam saber e valorizar: “Ele congelou as quotas durante 11 anos e os reformados, desemprega­dos e quem recebe o salário mínimo paga quatro euros por mês. Ele não quis dar nome ao estádio quando foi construído, mas oxalá ele continue ligado ao clube no Conselho Superior e talvez possa dar nome à nova Academia.”

O levantar da Taça dos Clubes Campeões Europeus, em 1987, colocou o FC Porto no mapa do futebol europeu e mundial. Obra de Artur Jorge e do projeto de Pinto da Costa em que participou Gabriel.

“É preciso ver que 42 anos não são 42 dias e as polémicas recentes não apagam a história que se fez com ele na liderança. Se bem o conheço ele não gosta de grandes festas ou coisas espampanan­tes, por isso acho que não iria gostar que lhe fizessem uma estátua e iria apreciar mais uma coisa simples, como um encontro com sócios”, revelou ao DN o antigo jogador, concordand­o que dar o nome à futura Academia é uma boa ideia, mas “é preciso respeitar se ele não quiser fazer nada, porque o adeus à casa deve doer”.

“Era importante que fosse formada uma comissão independen­te para pensar na formulação dessa homenagem e que inclua não só o clube, como a cidade.”

Diogo Feio

Antigo eurodeputa­do do CDS

“Acho que não iria gostar que lhe fizessem uma estátua e iria apreciar mais uma coisa simples, como um encontro com sócios.” Gabriel Vencedor da Taça dos Clubes Campeões Europeus em 1987

“Ele merece ouvir de cada um de nós o quanto contribuiu para o nosso amor ao FC Porto e acharei justo e apropriado se André Villas-Boas der o nome de Pinto da Costa à futura Academia na Maia.” José Fernando Rio Ex-candidato à presidênci­a

“Eu sei o que é estar 19 anos sem ganhar e, se estar um ano sem ganhar títulos é inadmissív­el, é porque ele nos habituou a vencer. Havia o Alexandre, o Grande e há o Pinto da Costa, o grande conquistad­or.” António Lourenço Adepto e animador do Dragão

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Adeptos dizem que saída de Pinto da Costa terá de ser pela porta grande.

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