Funcional, giro e “barato”. Há muito pouco a apontar a este gadget
Com o smartwatch S3 a Xiaomi conseguiu acertar num ponto de equilíbrio entre preço e funcionalidades difícil de bater – e acrescentou-lhe um detalhe de personalização que o distingue.
Nota prévia: partimos para o teste de mais de uma semana do smartwatch Xiaomi S3 com pouca vontade de gostar dele. Não porque tivéssemos lido ou visto algo sobre o aparelho – por uma questão de princípio, tentamos manter-nos o mais longe das opiniões dos outros antes das nossas análises –, mas porque, basicamente, fomos contrariados. E, quais crianças grandes que são todas as pessoas que fazem crítica de aparelhos eletrónicos (as que não o admitem estão, quase de certeza, a mentir...) fizemos um pouco de birra.
Isto porque o plano original deste teste era ser realizado junto com o telemóvel Xiaomi 14, o modelo mais baixo da nova linha de topos de gama da marca chinesa, que escrevemos nestas páginas a 5 de abril. Ambos os equipamentos utilizam o novo sistema operativo da Xiaomi, o HyperOS – versão modificada do Android – e queríamos experimentar como era a integração dos aparelhos a funcionar um com o outro, e verificar se havia diferença substancial do funcionamento com a integração com um telemóvel de outra marca. Só que isso não foi possível, por indisponibilidade do smartwatch à data...
A fase do “agora já não quero” durou, talvez, um pouco mais do que seria salutar. Ao ponto de não termos sequer procurado saber o preço do S3 até – literalmente – ao dia de escrever este artigo. E quando o descobrimos a reação foi: “Só!?”
De vez em quando acontece, e ao longo dos anos já tivemos oportunidade de o escrever nestas páginas do DN, mas é raro: há produtos que num ponto de satisfação entre o que “fazem” e o que custam que surpreendem. O Xiaomi S3 – temos muito gosto em dizê-lo, apesar de toda a má vontade inicial – é exatamente um desses casos. Isto porque, nos tempos que correm, 150 euros chega a ser o preço de uma (boa) band fitness tracker. E este relógio vai bem além disso.
Elemento diferenciador
Logo ao abrir a caixa com o exemplar que nos enviaram descobrimos, além do relógio, um aro alternativo. Uma “moldura” diferente para o mostrador, que permite personalizar o relógio. No que nos saiu na “rifa”, deu para variar do simples negro liso (que até já era agradável à vista) para uma bem atraente imitação de cronógrafo – que foi a opção para o dia a dia o resto da semana.
Este é, sem dúvida, um recurso aparentemente simples do S3, mas que faz a diferença face à concorrência. Cada acessório destes custa uns 13 ou 15 euros (consoante o local onde compre online – é uma questão de pesquisar Xiaomi S3 bazel. Por qualquer estranha razão, o site oficial da Xiaomi Portugal não regista este importante acessório como opção de compra...
O que falta para ser perfeito
Para um aparelho de 15 0 euros não podemos esperar o mesmo do equivalente quatro ou cinco vezes mais caro, mas há algumas coisas que a Xiaomi poderia melhorar – e se o leitor está desesperado por saber o que afinal este relógio de facto faz, está mais à frente, com um título próprio, é só saltar para lá.
Do que sentimos verdadeiramente a falta foi a ausência de suporte para serviços terceiros, como o Google Wallet. Apesar de a Xiaomi não ter qualquer problema com os Google Services (ao contrário da concorrente chinesa Huawei, impedida por questões de segurança, pela Administração norte-americana de aceder a estes serviços), utiliza serviços de pagamentos automáticos próprios, o Xiaomi Pay. Para Portugal – segundo a app Mi Fitness, a companheira do relógio no telefone – o serviço bancário compatível são cartões MasterCard emitidos pela Curve (uma concorrente britânica da conhecida Revolut, digamos). Ou seja, é possível fazer pagamentos com o relógio, mas é necessário algum know-how.
Da mesma forma, para tirar (na nossa opinião) as melhores funcionalidades do S3 é preciso ir mexer nas definições. A Xiaomi optou, de fábrica, por valorizar a autonomia em detrimento do (quase) brilhante aparelho que criou. Desativou, assim, o always on do ecrã, a monitorização permanente da frequência cardíaca, e até a função de “acordar” o ecrã com o movimento do pulso.
Resultado: provavelmente, assim, será possível cumprir os “até 15 dias” de capacidade prometida da bateria, mas transforma o smartwatch em pouco mais do que um fitness tracker sofisticado.
Ligando tudo, a autonomia continua bem acima da média da concorrência – Apple e Google Pixel Watch, só para dar dois exemplos de referência, chegam a ter apenas de 24 horas. Por isso, compreende-se mal esta obsessão em privilegiar o imenso tempo de bateria escondendo o que o relógio é capaz de fazer.
O facto de um aparelho deste preço ter GPS integrado – permitindo, assim, corridas pelo mundo sem levar o telemóvel – já é de louvar, pelo que a falta de conexão wi-fi talvez seja já pedir demais. No entanto, e tendo em conta que o aparelho vem com uma muito bem-vinda assistente digital (ler mais à frente), é uma lacuna que, no dia a dia, quando o telemóvel está longe e a ligação Bluetooth falha, faz diferença.
Por fim, uma (longa) nota para a integração com o Android – que não HyperOS porque, como referido acima, não tivemos oportunidade de analisar o relógio em “ecossistema” (o amuo vai demorar a passar, vai...).
Pelo menos ligado ao Google Pixel 8 Pro – o nosso telefone de referência no momento –, o S3 foi capaz de “entregar”, como solicitado, todas as notificações. Até demais. Não conseguiu distinguir entre as normais e as “notificações silenciosas”, pelo que fomos interrompidos de cada vez que o Pixel, por exemplo identificava uma música ambiente a tocar no local em que estávamos.
Além disso, sentimos a falta da capacidade de responder a mensagens no próprio relógio, como o Google Pixel Watch 2 permite, por exemplo (e que já fazíamos desde o tempo da Microsoft Band, em 2015...). Já agora, a Google pede 400 euros peloWatch 2...
Por fim, estamos se calhar mal habituados, mas, pelo menos quando emparelhado com um smartphone que não seja Xiaomi, ao apagar uma notificação no relógio (sendo que não há forma de o fazer deslizando para o lado – o HyperOS para wearables não é mau, mas pode ser melhorado) esta não desaparece no telefone.
Faz coisas que se farta
Para quem faz exercício: são ao todo 150 as atividades que o S3 é capaz de monitorizar, pelo que dificilmente não encontrará aqui resposta para si.
Além disso, em termos de registo de saúde, desde a – hoje em dia inevitável – mediação da atividade cardíaca (e não vimos grande diferença entre este “barato” S3 e o referido PixelWatch 2), consegue registar nível de oxigénio no sangue em 20 segundos, a pedido, enquanto o relógio da Google, numa herança dos Fitbit, apenas o faz durante o período de sono...
No que toca à monitorização de saúacertam de sentimos apenas a falta da opção de “ECG” – o “eletrocardiograma” que os modelos mais caros realizam, mas, vale a pena relembrar, trata-se de um gadget de 150 euros.
De elogiar, no HyperOS para wearables, é a solução de widgets que é capaz de utilizar de forma eficiente as 1,43 polegadas de ecrã AMOLED. Tudo isto é personalizável, mas de fábrica vêm agrupadas no mesmo ecrã a informação do tempo, a última noite de sono, e o exercício; no seguinte, a pulsação, os exercícios, a respiração e o nível de stresse, o que é muito prático. Um toque e cada um destes ícones lança a respetiva app, naturalmente.
O relógio tem ainda microfone e altifalante incorporado, pelo que pode fazer chamadas com ele, desde que esteja próximo do telemóvel (é, no fundo, um sistema de alta-voz Bluetooth).
A finalizar, mas não menos importante, a assistente virtual: o S3 vem pré-equipado com a Alexa, pelo que é só ligar à sua conta Amazon para lhe começar a dar instruções à sua casa inteligente.
Neste ponto, apenas gostaríamos que a marca chinesa fosse um pouco mais coerente nas suas opções. Tal como escrevemos no mesmo dia em que fizemos a análise ao smartphone 14, a fantástica Smart Air Fryer 6,5L também é comandável via assistente digital, mas apenas é compatível com o Google Assistant – não é reconhecida pela Alexa. Já no caso deste relógio acontece o inverso. Será caso para dizer, parafraseando um comentador do nosso espaço público: “Decidam-se, meus senhores!”