Diário de Notícias

Funcional, giro e “barato”. Há muito pouco a apontar a este gadget

Com o smartwatch S3 a Xiaomi conseguiu acertar num ponto de equilíbrio entre preço e funcionali­dades difícil de bater – e acrescento­u-lhe um detalhe de personaliz­ação que o distingue.

- TEXTO RICARDO SIMÕES FERREIRA

Nota prévia: partimos para o teste de mais de uma semana do smartwatch Xiaomi S3 com pouca vontade de gostar dele. Não porque tivéssemos lido ou visto algo sobre o aparelho – por uma questão de princípio, tentamos manter-nos o mais longe das opiniões dos outros antes das nossas análises –, mas porque, basicament­e, fomos contrariad­os. E, quais crianças grandes que são todas as pessoas que fazem crítica de aparelhos eletrónico­s (as que não o admitem estão, quase de certeza, a mentir...) fizemos um pouco de birra.

Isto porque o plano original deste teste era ser realizado junto com o telemóvel Xiaomi 14, o modelo mais baixo da nova linha de topos de gama da marca chinesa, que escrevemos nestas páginas a 5 de abril. Ambos os equipament­os utilizam o novo sistema operativo da Xiaomi, o HyperOS – versão modificada do Android – e queríamos experiment­ar como era a integração dos aparelhos a funcionar um com o outro, e verificar se havia diferença substancia­l do funcioname­nto com a integração com um telemóvel de outra marca. Só que isso não foi possível, por indisponib­ilidade do smartwatch à data...

A fase do “agora já não quero” durou, talvez, um pouco mais do que seria salutar. Ao ponto de não termos sequer procurado saber o preço do S3 até – literalmen­te – ao dia de escrever este artigo. E quando o descobrimo­s a reação foi: “Só!?”

De vez em quando acontece, e ao longo dos anos já tivemos oportunida­de de o escrever nestas páginas do DN, mas é raro: há produtos que num ponto de satisfação entre o que “fazem” e o que custam que surpreende­m. O Xiaomi S3 – temos muito gosto em dizê-lo, apesar de toda a má vontade inicial – é exatamente um desses casos. Isto porque, nos tempos que correm, 150 euros chega a ser o preço de uma (boa) band fitness tracker. E este relógio vai bem além disso.

Elemento diferencia­dor

Logo ao abrir a caixa com o exemplar que nos enviaram descobrimo­s, além do relógio, um aro alternativ­o. Uma “moldura” diferente para o mostrador, que permite personaliz­ar o relógio. No que nos saiu na “rifa”, deu para variar do simples negro liso (que até já era agradável à vista) para uma bem atraente imitação de cronógrafo – que foi a opção para o dia a dia o resto da semana.

Este é, sem dúvida, um recurso aparenteme­nte simples do S3, mas que faz a diferença face à concorrênc­ia. Cada acessório destes custa uns 13 ou 15 euros (consoante o local onde compre online – é uma questão de pesquisar Xiaomi S3 bazel. Por qualquer estranha razão, o site oficial da Xiaomi Portugal não regista este importante acessório como opção de compra...

O que falta para ser perfeito

Para um aparelho de 15 0 euros não podemos esperar o mesmo do equivalent­e quatro ou cinco vezes mais caro, mas há algumas coisas que a Xiaomi poderia melhorar – e se o leitor está desesperad­o por saber o que afinal este relógio de facto faz, está mais à frente, com um título próprio, é só saltar para lá.

Do que sentimos verdadeira­mente a falta foi a ausência de suporte para serviços terceiros, como o Google Wallet. Apesar de a Xiaomi não ter qualquer problema com os Google Services (ao contrário da concorrent­e chinesa Huawei, impedida por questões de segurança, pela Administra­ção norte-americana de aceder a estes serviços), utiliza serviços de pagamentos automático­s próprios, o Xiaomi Pay. Para Portugal – segundo a app Mi Fitness, a companheir­a do relógio no telefone – o serviço bancário compatível são cartões MasterCard emitidos pela Curve (uma concorrent­e britânica da conhecida Revolut, digamos). Ou seja, é possível fazer pagamentos com o relógio, mas é necessário algum know-how.

Da mesma forma, para tirar (na nossa opinião) as melhores funcionali­dades do S3 é preciso ir mexer nas definições. A Xiaomi optou, de fábrica, por valorizar a autonomia em detrimento do (quase) brilhante aparelho que criou. Desativou, assim, o always on do ecrã, a monitoriza­ção permanente da frequência cardíaca, e até a função de “acordar” o ecrã com o movimento do pulso.

Resultado: provavelme­nte, assim, será possível cumprir os “até 15 dias” de capacidade prometida da bateria, mas transforma o smartwatch em pouco mais do que um fitness tracker sofisticad­o.

Ligando tudo, a autonomia continua bem acima da média da concorrênc­ia – Apple e Google Pixel Watch, só para dar dois exemplos de referência, chegam a ter apenas de 24 horas. Por isso, compreende-se mal esta obsessão em privilegia­r o imenso tempo de bateria escondendo o que o relógio é capaz de fazer.

O facto de um aparelho deste preço ter GPS integrado – permitindo, assim, corridas pelo mundo sem levar o telemóvel – já é de louvar, pelo que a falta de conexão wi-fi talvez seja já pedir demais. No entanto, e tendo em conta que o aparelho vem com uma muito bem-vinda assistente digital (ler mais à frente), é uma lacuna que, no dia a dia, quando o telemóvel está longe e a ligação Bluetooth falha, faz diferença.

Por fim, uma (longa) nota para a integração com o Android – que não HyperOS porque, como referido acima, não tivemos oportunida­de de analisar o relógio em “ecossistem­a” (o amuo vai demorar a passar, vai...).

Pelo menos ligado ao Google Pixel 8 Pro – o nosso telefone de referência no momento –, o S3 foi capaz de “entregar”, como solicitado, todas as notificaçõ­es. Até demais. Não conseguiu distinguir entre as normais e as “notificaçõ­es silenciosa­s”, pelo que fomos interrompi­dos de cada vez que o Pixel, por exemplo identifica­va uma música ambiente a tocar no local em que estávamos.

Além disso, sentimos a falta da capacidade de responder a mensagens no próprio relógio, como o Google Pixel Watch 2 permite, por exemplo (e que já fazíamos desde o tempo da Microsoft Band, em 2015...). Já agora, a Google pede 400 euros peloWatch 2...

Por fim, estamos se calhar mal habituados, mas, pelo menos quando emparelhad­o com um smartphone que não seja Xiaomi, ao apagar uma notificaçã­o no relógio (sendo que não há forma de o fazer deslizando para o lado – o HyperOS para wearables não é mau, mas pode ser melhorado) esta não desaparece no telefone.

Faz coisas que se farta

Para quem faz exercício: são ao todo 150 as atividades que o S3 é capaz de monitoriza­r, pelo que dificilmen­te não encontrará aqui resposta para si.

Além disso, em termos de registo de saúde, desde a – hoje em dia inevitável – mediação da atividade cardíaca (e não vimos grande diferença entre este “barato” S3 e o referido PixelWatch 2), consegue registar nível de oxigénio no sangue em 20 segundos, a pedido, enquanto o relógio da Google, numa herança dos Fitbit, apenas o faz durante o período de sono...

No que toca à monitoriza­ção de saúacertam de sentimos apenas a falta da opção de “ECG” – o “eletrocard­iograma” que os modelos mais caros realizam, mas, vale a pena relembrar, trata-se de um gadget de 150 euros.

De elogiar, no HyperOS para wearables, é a solução de widgets que é capaz de utilizar de forma eficiente as 1,43 polegadas de ecrã AMOLED. Tudo isto é personaliz­ável, mas de fábrica vêm agrupadas no mesmo ecrã a informação do tempo, a última noite de sono, e o exercício; no seguinte, a pulsação, os exercícios, a respiração e o nível de stresse, o que é muito prático. Um toque e cada um destes ícones lança a respetiva app, naturalmen­te.

O relógio tem ainda microfone e altifalant­e incorporad­o, pelo que pode fazer chamadas com ele, desde que esteja próximo do telemóvel (é, no fundo, um sistema de alta-voz Bluetooth).

A finalizar, mas não menos importante, a assistente virtual: o S3 vem pré-equipado com a Alexa, pelo que é só ligar à sua conta Amazon para lhe começar a dar instruções à sua casa inteligent­e.

Neste ponto, apenas gostaríamo­s que a marca chinesa fosse um pouco mais coerente nas suas opções. Tal como escrevemos no mesmo dia em que fizemos a análise ao smartphone 14, a fantástica Smart Air Fryer 6,5L também é comandável via assistente digital, mas apenas é compatível com o Google Assistant – não é reconhecid­a pela Alexa. Já no caso deste relógio acontece o inverso. Será caso para dizer, parafrasea­ndo um comentador do nosso espaço público: “Decidam-se, meus senhores!”

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