Diário de Notícias - Dinheiro Vivo
Prejuízos de 600 milhões e futuro incerto para a TAP
Portugal terá de submeter o plano de reestruturação a Bruxelas até 10 de dezembro. Novo CEO da companhia deverá ser escolhido até meados do próximo mês.
O pontapé de saída tinha sido forte, com os meses de janeiro e fevereiro a denotarem um crescimento da atividade da TAP, mas março, abril, maio e junho foram meses negros para a aviação civil mundial, com o alastrar da pandemia de covid a deixar em terra a esmagadora maioria dos aviões. A TAP não foi exceção e a incerteza é elevada para os próximos meses.
Certa, para já, é a apresentação, nas próximas semanas, de um plano de reestruturação que deverá reduzir consideravelmente a dimensão da empresa, bem como a escolha do novo presidente executivo, um processo que vai ser conduzido pela consultora americana Korn Ferry e que deverá estar concluído até meados de novembro.
Os prejuízos da transportadora ascenderam a 582 milhões de euros no primeiro semestre (os do grupo TAP chegaram a 606 milhões). Sem certezas sobre a evolução da pandemia e com a economia mundial mergulhada numa crise sem precedentes, traçar cenários para o que vão ser os próximos tempos revela-se uma equação de alto risco. “A elevada incerteza que subsiste quanto à duração da covid e ao seu impacto de longo prazo no setor da aviação e na economia impossibilita estimar com rigor e fiabilidade os efeitos futuros da pandemia na atividade e resultados da empresa”, indica a TAP no relatório de contas, acrescentando que “os efeitos da pandemia deverão continuar a ser significativos nos próximos trimestres”.
Tipicamente, o segundo semestre é mais forte para as companhias de aviação, que beneficiam dos ventos quentes do verão e das férias de verão e de inverno. Mas neste ano nem isso deve ajudar muito. A companhia liderada por Ramiro Sequeira admite que, “nos meses de julho e agosto, a TAP operou a 12% e 24%, respetivamente, da capacidade dos meses homólogos de 2019”, ainda assim com “aumentos significativos face à quase total paragem da atividade verificada nos meses anteriores”.
Será assim muito difícil que a empresa escape a prejuízos brutais. A confirmar-se, será o terceitenha ro ano com resultados líquidos negativos. Mas com uma diferença: desde julho que o Estado é o maior acionista da empresa, tendo 72,5% desde que comprou a participação de David Neeleman no consórcio Atlantic Gateway. Cabe agora ao Estado, através da Parpública, comandar a TAP – e assumir perdas, despedimentos, venda de aviões e redefinição de caminhos.
A rota que se segue
A forte quebra nas receitas ditou que a transportadora esteja a receber ajuda de Estado, à semelhança do que acontece em todo o setor da aviação mundial. O governo já injetou quase 500 milhões de euros na TAP, embora o auxílio de Estado aprovado seja de 946 milhões de euros, com a possibilidade de ascender a 1200 milhões.
Nas próximas semanas, ao clima de forte incerteza junta-se o desenho de um plano de reestruturação que “terá como principal enfoque assegurar a sustentabilidade e rentabilidade do Grupo TAP S.A., através de um adequado planeamento de rotas e frota, adaptação do produto TAP à realidade atual e pós-covid e do aumento da eficácia e da eficiência dos serviços centrais e das unidades do Grupo”, conforme adianta o relatório.
Este plano terá de ser entregue à Comissão Europeia até 10 de dezembro, embora o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, indicado já que pretende que o plano esteja concluído até ao fim deste mês. Apesar de ainda não serem conhecidos os contornos da reestruturação, é certo que terá efeitos sobre o número de trabalhadores – a juntar aos quase 1500 que saíram nos últimos meses e que tinham vínculo a prazo –, que era de 10,5 mil no arranque do ano. E que cortará rotas e frota.
As mudanças nos planos traçados para a frota da TAP já estão mesmo a ser alvo de atenção. “Relativamente ao acordo já alcançado com a Airbus, este altera os contratos de aquisição de aeronaves das famílias A320neo e A330neo, permitindo reduzir o CAPEX nos anos 2020-2022 em aproximadamente mil milhões de dólares”. A companhia adia assim a entrega de aeronaves, conseguindo poupanças superiores a 800 milhões de euros.
Com a entrada do Estado na companhia, também houve mudanças na gestão – que só devem ficar concluídas mais perto do final do ano. Antonoaldo Neves saiu em setembro, tendo Ramiro Sequeira (antes diretor de operações) assumindo a função de CEO até à decisão da Korn Ferry, que está já à procura de novo presidente. E nesta semana, Humberto Pedrosa e o filho David renunciaram aos cargos de administração exercidos na TAP, uma decisão justificada pelo facto de serem acionistas de outras empresas que têm negócios com o Estado, agora o maior acionista da companhia. Mas essa saída durará apenas enquanto o Estado se mantiver maioritário – o que Bruxelas já advertiu que não poderá durar demasiado tempo.
A TAP já renegociou com a Airbus a compra de aviões, adiando a entrega para garantir uma poupança superior a 800 milhões.
Despedimentos – além dos 1500 que já saíram – e corte de rotas serão também inevitáveis.